Crônica de uma vida insuficiente XXIV
É meio-dia.
A vizinha da frente, como de hábito, está na porta, solitária, olhando uma rua que a ninguém interessa - seja pelo lixo, seja pela inexistência de algo interessante. Ela fica sentada à porta sempre que a cerveja acaba e os amigos de copo se vão.
Uma vida baseada em agradar para não ficar sozinha é inútil, triste e deprimente.
O rosto está queimado pelos raios de um sol inclemente. Suas expressões, embrutecidas pelas ressacas e por sonhos não satisfeitos, derretem com o passar do dia. E mesmo a música, a carne assando na churrasqueira e a cerveja, nas várias vezes que promove seu sadio divertimento não são capazes de alegrar, o coração e a alma, desse periférico cotidiano.
Um dia ela vai morrer e o que terá para deixar como lembrança?
O álcool, os amigos, as carnes digeridas - nada será seu epitáfio.
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