A presunção da importância
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Pintura: Before Dinner. Pierre Bonnard. 1924. |
Apesar do que prega alguns pensadores, como os da Administração, as pessoas não são importantes. Elas são meras ferramentas em diversos processos nos quais o resultado é mais importante que os prejuízos para atingi-lo. Presumimos que o homem é "muito importante" para justificar nossas inseguranças e falhas e para conseguirmos levantar pela manhã e dizer ao espelho que o trabalho fútil que só serve para prover, de forma precária, o alimento de todos os dias é essencial.
De essencial só temos a vida - e olhe lá de qual tipo de vida estamos falando.
Se olharmos atentamente para uma obra da construção civil veremos peões que podem ser substituídos a qualquer tempo, sempre que desejarmos que a obra avance mais rápido. Do engenheiro ao pedreiro mais preguiçoso - todos podem ser substituídos. Se entrarmos em uma sala de aula, veremos que o professor e os alunos podem ser substituídos sempre que a qualidade da educação daquele ambiente estiver ameaçada pelo fracasso.
Políticos, pais, pastores e padres, músicos e artistas, santos, policiais, gestores públicos - todos podem e são substituídos, por motivos banais e outros nem tanto.
E a máquina, a evolução da espécie, as obras, as políticas e os Estados seguem avançando sem que exista uma só pessoa importante o bastante para fazer o mundo parar, nem que seja por um segundo, ou que se torne célebre o suficiente para jamais ser esquecida.
A presunção da importância que atribuímos ao outro, e a nós mesmos, acaba sendo chamada de ego, amor próprio, valorização da alma humana. Expressões bonitas e refinadas para dizer que o homem é muito importante.
Importância, no entanto, é uma característica criada pela humanidade para que o labor diário e a ostentação de objetos fúteis, que movimenta a indústria e a economia global, não sejam em vão.
Até mesmo o elogio proferido pelo outro é uma mera afirmação da importância que tanto buscamos.
Presumimos, então, que existe importância em tudo para que a nossa própria criação possa existir e, portanto, para que existamos.
As pessoas, olhando friamente para todos os processos sociais e fabris que jamais cessam, não são importantes e não são indispensáveis. Muito pelo contrário.
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