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Nas ruas imutáveis

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Saindo de casa e dobrando em esquinas e projetos de becos você sempre vai acabar desembocando no centro de Palmeira dos Índios. E não importa de onde saia, sempre vai haver silêncio e fofoqueiras nas portas, abrigando-se do sol nas sombras dos muros e árvores dos outros; vai haver o lixo do sábado - que ninguém recolhe; vai haver as carolas indo à missa ou ao culto e vai haver televisores ligados no programa do Faustão ou da Eliana.  O que você jamais verá será algum movimento útil nas calçadas, casas e ruas. Fui caminhando, dobrando esquinas e passando pela língua do povo até chegar à sorveteria de nome "chique" para tomar um sorvete bonzinho e um açaí lavajoso com mais leite em pó que a fábrica da Sabe no meio do nada em Sergipe.  E não basta as experimentações culinárias! Isso só não basta!  Ainda tem um monte de gente que sai de casa sobre a linha tênue do bom gosto e do bom senso que chega nos lugares como se fosse as ruas-prostíbulos ao lado do mercado da ...

Mandingas e impropérios para o Aedes

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Ilustração: As dez pragas do Egito. redecruz.com A zona da mata de Alagoas já começou a apresentar sinais de histeria, como em outras regiões do país, provocada em parte pelo surto do vírus zika e chikungunya e em parte ela mania de mistificar as epidemias. Lá em Branca de Atalaia a população, em procissão, lotou um terreiro de religião afro-brasileira como meio de livrar a localidade das doenças. O resultado foi que o pai de santo acabou na emergência mais próxima atacado pela febre. Os crentes mais ferrenhos acreditam que a epidemia é resultado dos pecados do povo e que o surto se assemelha às pragas do Egito. Os romeiros de Padre Cícero, na contramão dos evangélicos e dos umbandistas e candomblecistas, soltaram fogos e preces no pé da estátua do santo nordestino para alcançar a graça de deixar o Aedes Aegypti longe. A histeria lá está prestes a estourar. No entanto, para que não pense que é só no Brasil que isso acontece, nos EUA um pastor gravou um vídeo avisando aos...

Mais forte que um país inteiro

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Foto: Aedes Aegypti. Fiocruz. Fui a Banco do Brasil e na tela apareceu uma mensagem de combate ao Aedes Aegypti . Visitei o site do IFAL e vários mosquitos eletrônicos do Aedes Aegypti apareceram na tela, atrapalhando minha navegação. O Ministério da Educação não para de postar mensagens sobre o combate ao mosquito e até a Presidente da República foi em rede nacional pedir o engajamento do povo brasileiro no combate ao mosquito. E embora o marketing diga que "o mosquito não é mais forte que um país inteiro" tenho que discordar veementemente disso e afirmar sem medo que o Aedes Aegypti é mais forte que muitos países juntos e que seu extermínio não é só uma grande perda como quase impossível. A campanha não deveria ser de combate e extinção do mosquito. Tentar exterminá-lo é o mesmo que anunciar mais um desequilíbrio ecológico, dentre os incontáveis que a espécie humana já protagonizou. O correto seria desviar o foco das consequências e atacar a origem do probl...

O amor nas terras da brutalidade

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Olhando para o sol quente sobre a grama do campo do IFAL e pensando nas dezenas de centenas de pares que caminharam sobre aquela grama ocorreu-me que o amor a que estamos acostumados está mais para cólera que afeto. Por uma questão de exemplos temos sempre a impressão de que o normal é que para uma relação ser boa ela precisa fazer uma das partes chorar e a outra viver em constante estresse e frustração. O amor parece nunca ser sinônimo de virtude por essas bandas nordestinas. Ele é sempre traduzido como presentes em uma ou duas datas "especiais". Ou o amor se traveste de luxúria e mostra-se apenas como carne e suor ou enruste-se de agressividade gratuita. Quase nunca é valorado positivamente. Então, para completar o quadro grotesco do amor nas terras da brutalidade temos a língua-do-povo para não deixar o pretenso corno e a suposta puta - sempre os outros - em paz. Ah, como é doce a puta alheia e o chifre do vizinho! Imagem: Music. Matisse.  E assim, seguindo os...

Lua de Mel

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Uma mulher deslumbrante vive entre várias identidades e ama muito seus maridos. Ela mantém relações múltiplas com homens bem-sucedidos. Um conto de fadas moderno não fosse ela não se comover com diamantes, sucesso, sexo e paixão. Depois de obter prazer e conseguir uma aliança de casamento, ela prepara um coquetel ao amado capaz de causar a morte em um elefante. E misteriosamente e sem vestígio, seus crimes aparecem como acidentes. Até que um dia sua farsa começa a ser desvendada. Em Lua de Mel James Patterson presenteia o leitor com uma história policial capaz de abalar os pilares dos relacionamentos e de quem já é desconfiado por natureza. Uma viúva negra, contas em paraísos fiscais, investigações, reviravolta e um desfecho surpreendente espera o leitor no fim de Lua de Mel . Leitura obrigatória para os fãs de suspense e para quem gosta de uma história rápida e sem enrolações. Clique aqui e leia  Um quarto no escuro . Clique aqui e leia  Áspide .

O Varejo Palmeiríndio

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Existe uma reclamação eterna sobre o comércio de Palmeira dos Índios - sobre a falta de aquecimento nas vendas das lojas e da falta de incentivo do povo nos produtos vendidos no município. Olhando de longe até dá para pensar que os palmeiríndios não gostam da cidade e que a "vantagem" de enfrentar 1h20 até Arapiraca para comprar uma simples camisa justifica a fraqueza econômica do calçadão de Palmeira. A verdade nua que desfila sob o sol quase sertanejo é que não há vantagem alguma em comprar nessa cidade: não existe escolhas para os produtos, não há concorrência adequada entre os comerciantes e os preços são desprezivelmente irreais para a realidade vivenciada pela população.  Se você tentar comprar uma simples camisa regata se deparará com modelos feios e inadequados a preços a partir de R$ 35,00. Se tentar comprar um livro não encontrará, ou raramente encontrará, bons títulos - e na maioria das vezes com o preço superinflacionado, com exceção, talvez, da livraria Mod...

Fota-imagi

Os palmeiríndios tem uns hábitos que são estranhos em demasia - não que alguns deles não sejam replicados em diversos outros municípios do interior de Alagoas. Dia desses descobri a sala no meio do mato e o homem que só caga no mato. Hoje eu descobri que o mato seco e um cavalo esquelético e sedento pode ser um pano de fundo muito interessante para aquela série de fotografias de domingo que, depois de um filtro e, quem sabe, uns cortes, serão expostas nas redes sociais.  A tarde já ia avançada quando duas garotas iam de uma moita à outra, sentando-se no chão de areia, procurando a melhor pose para a foto arrasadora.  Há quem defenda que o fundo "natural" é melhor que a parede sem reboco. Para mim, se o mato não for nada além de mato seco ou tendendo à sequidão não há diferença entre ele e a parede sem reboco. Mas as garotas devem ter gostado bastante - um cheirinho agradável de carniça, um espinho na canela e os mosquitos de fim de tarde são sempre o charme a mais que...