Numerografados

 

Arte: "Trotting Cracks" at the Forge, Currier & Ives. Met.

Somos números. Documentos pessoas nos tornam frios algarismos. O sistema de educação e de saúde nos torna índices - meros números que são passíveis de interpretação. O mercado financeiro nos transforma em cifrões que devem ser empilhados para demonstrar o quão rico e importante é um certo indivíduo ou organização. No fim, nada mais que números. 

Entre um sistema de classificação e interpretação e outro, comemos, sorrimos, choramos, enterramos outros números, parimos outros tantos e fazemos a máquina movimentar as telas concretas de um mundo apenas abstrato. Sendo números, embora com sangue esquentado pelo calor dos trópicos, é dito inadmissível que queiramos mais, nem é muito, apenas um pouco mais. 

A recusa em ser apenas máquinas que sangram nos faz cair no desprezo dos donos do capital. E é somente essa recusa que nos mantém vivos, apesar de toda a estrutura de escravização moderna que nos mantém presos a necessidades criadas para sermos números escravizados. 

Agora estamos aqui, parados, carcomindo-se  em frente a telas, em pontos de ônibus, estações de metrô e em ruas sujas por um recente período eleitoral do governo subnacional. Estamos esperando o dia e a hora em que nos levarão para o banco e nos deixarão apodrecer sob o peso de uma vida que, literalmente, inexiste e nada significa. 

Tudo isso porque somos números, apenas. 


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