A extinção do interessante

Figura: Bronze statue of a man. ca. mid-2nd-1st century BCE. MET Museum


As pessoas interessantes parecem ter desaparecido no mar de reações virtuais dos aplicativos de relacionamento. Tornaram-se extintas, ao que parece. E é esse movimento de extinção de pessoas interessantes o último bastião antes de nos tornarmos ignorantes social, política e estruturalmente.
Viciadas em textos de, no máximo, dez caracteres e imagens explicitamente autoexplicativas, as pessoas são apenas números autômatos que reagem ao menor ruído. E sequer se dão conta disso.
Não se vê mais paixões por obras literárias, músicas e letristas, leitura e releitura de pinturas, fotografias e filmes. O que se vê, produzido em linha e em um processo contínuo, é simplesmente a reprodução desproporcional e desconfigurada de produtos construídos para e com a artificialidade das máquinas. 
E não que utilizar a máquina seja ruim. O próprio desenvolvimento humano requer novas ferramentas e novas formas de interagir no ambiente. O problema é quando o ser humano não representa mais a própria essência.
Sem as redes virtuais de relacionamentos, o que somos?
Com essas redes, o que deixamos de ser?
Apesar dessa reflexão e dessa autocrítica, hoje, serem exercícios tidos como ultrapassados não deixamos de ser, na mesma medida, ultrapassados?
Tornamo-nos obsoletos por escolha. 
E o delineamento do encantamento pelo interessante é apenas uma faceta, das várias, que perdemos a cada rolar de tela. 

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