Empatia ambientalmente racista

 Empatia, no Brasil, às vezes, é sinônimo de racismo ambiental. 

E não é a mera polarização norte-sul, esquerda-direita, branco-negro, rico-pobre. É um projeto de civilização que transcende as dicotomias, embora as use como justificação cotidiana. 

Quando as regiões centro-oeste, sul e sudeste enfrentam desafios e tragédias todo o o país é instado a ter empatia. E exclamações como: "Pessoas sem empatia só fala em política em horas como essas" e "Aqui também tem gente de bem" e suas variações pululam em redes sociais, jornais eletrônicos e telejornais. É quase como se a humanidade fosse representada exclusivamente por essa parcela da população brasileira, sempre um passo próximo dos melhores e mais nobres sentimentos da humanidade. Então, quase que uma obrigação, tal qual acontece com a necessidade colonizadora de manter o batismo forçado de crianças na igreja católica, todos "devem" ajudar e se compadecer. Se fosse um recorte isolado, seria até convincente. 

Então, quando essas regiões se recuperam e a tragédia é no Norte ou no Nordeste a empatia acaba. "Malditos nordestinos, é isso que merecem", "Esquerdistas miseráveis!", "Chama o PT". E deus não existe para os nortistas e nordestinos, os melhores e mais nobres sentimentos não se aplicam e a ajuda humanitária jamais chega. Afinal, na visão de mundo paulatinamente construída, "os nordestinos e nortistas são vermes que se alimentam das riquezas geradas pelas regiões mais sensatas e abastadas do país".

E as notícias não veiculam adequadamente a tragédia nortistas e/ou nordestina, não são feitas campanhas eficientes e, como sempre aconteceu, o Norte e o Nordeste precisam se erguer sozinhos. 

O ódio vence. Sempre vence. 

A empatia é só para com a Casa Grande, os ditos brancos, os "ricos". Para os considerados pobres, a senzala, os periféricos, jamais há empatia, deus, ajuda. 

E mesmo assim os nortistas e nordestinos não mudam: seguem sendo solidários e racionais. O semiárido lhes ensinou o que nenhuma colonização jamais poderá; o que nenhuma cultura europeia abrasileirada poderá; o que nenhuma falta de educação poderá, porque educação sempre tiveram apesar das inúmeras tentativas de lhes bloquear o acesso. 

Além dos antagonismos, da xenofobia, do puro catolicismo colonizador e da pretensa superioridade de certas regiões, o nome que se pode dar a esse movimento nem tão sutil e nem tão discreto é racismo ambiental. Envolto em uma empatia seletiva, esse racismo é o Brasil em unidade. 


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