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Mostrando postagens de 2016

Dia de Natal

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Foto: Égua e potro (citados no texto). Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá. Dez/2016 Quando saí de casa hoje, na correria natural de quem precisa fazer tudo antes do meio dia antes que todo o centro comercial feche e a feira livre acabe, não esperava encontrar neve cobrindo as casas e as avenidas - se eu ainda acreditasse que no verão tropical a temperatura pudesse baixar tanto, como acreditam algumas pessoas que conheço - mas também não esperava encontrar um sábado tão banal na cidade em que o movimento rueiro só aparece em datas natalinas e juninas. Sob o sol oscilante entre escaldante e frio, encontrei o que seria o cadáver de um potrinho e quase o matei de susto quando perguntei à égua se ele estava morto. Perto da Igreja São Pedro, na rua da Rádio Sampaio, encontrei um gatinho pedrês no esgoto, com o bucho estufado, fedendo já. E como não podia faltar o passeio pela feira livre para mais uma decepção - sem mágicos, sem vendedores de ilusões e só um bando de ge...

A Luz (literal) do Mundo

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Fonte: The Birth of Jesus. Site d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias Quando olhamos para o natal e vislumbramos luzes e anjos de plástico geralmente damos as costas para todo o ano que se passou. Damos as costas para os atos vis que cometemos e que nos foi cometido - muito embora sejamos os últimos a esquecer as perfídias a que somos submetidos. O natal torna-se, então, sinônimo de luzes, panetones e chocolates e presentes. E nada mais. Entretanto, quero, nessa véspera natalina, chamar a atenção para um fato dito e nunca assimilado  - Jesus é a luz do mundo . Quando nos referimos a Ele como a luz do mundo atribuímos meramente um sentido conotativo e deixamos para a mera imaginação essa verdade indissolúvel - Jesus é a luz literal do mundo. Não somente a conotação, mas a pura denotação. E isso não é absurdo se considerarmos que Ele é um Deus e que criou o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe. Que criou esse e outros mundos. E se aceitarmos essa v...

Natal seco e plástico

Enquanto os telejornais convencem-me sobre a divina direção tomada pelo governo Temer sobre as medidas econômicas, a água retornou aos baldes através dos canos e de uma fina garoa durante a madrugada. O cheiro de cola e a cor escura da água acaba tornando interessante o simples e trabalhoso serviço semanal de guardar água em tudo o que é balde, panela e reservatório. É claro que a economia do país é importante, que a final do Master Chef Profissionais é interessante e que a preocupação com a indumentária para o fim de ano são importantes, cada um com seu grau de significância, mas no mundo prático, onde todos precisamos tomar banho, comer e tomar água tudo o que não é relacionado à qualidade da água e o abastecimento é mero problema secundário. Em uma cidade localizada no novo epicentro da seca e que não apresenta nenhuma oportunidade de crescimento para os cidadãos e para as comunidades, falar em decoração natalina ou festas de réveillon não passa de mero exercício de futilidade. ...

A seca do carcará

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Foto: Palmeira dos Índios- AL. Dez/2016. Rafael Rodrigo Marajá Caminhar pelo interior na primavera chega a ser irônico. E, quase sempre, dá para fazer referência ao escritor Graciliano Ramos e o seu Vidas Secas, principalmente quando a região do passeio é Palmeira dos Índios. É um calor sem medidas, é uma vegetação seca que arranha as canelas e uma poeira sem limites. Caminhando por aí é provável que se encontre uma revoada de urubus ou outras aves de rapina esperando a próxima morte ou o próximo cadáver jogado à beira das estradas de terra batida. Essas aves são verdadeiros presentes para quem vai caminhando sob o sol escaldante de fim da primavera, rasgando as canelas e engolindo a poeira nossa de cada dia.  Quando abrem suas asas  e alçam voos vorazes sobre os transeuntes pode-se, até, lembrar da saga de Fabiano pelo sertão brabo de Palmeira dos Índios de outrora. E agora que a água está definitivamente acabando e o verão se aproximando é capaz de ter mais carni...

Uma seca dramática

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Foto: Palmeira dos Índios - AL, DEZ/2016. Rafael Rodrigo Marajá Longe do litoral, no interior não muito distante, Alagoas mostra-se seca e problemática. A água é um recurso optativo para as gestões de alguns municípios enquanto que para outros é fundamental. Em Arapiraca, embora imperfeita, incentiva o uso de recursos em obras de transposição e realocação da água. Em Palmeira dos Índios, a poucos quilômetros da terra de Manoel André, as gestões lança mão da sorte para  não deixar a população morrendo de sede, em plena primavera. A CASAL, responsável pelo abastecimento de água no estado, não só já informou do colapso do sistema hídrico que abastece Palmeira dos Índios, e mais de uma dúzia de municípios, como já deixou de utilizar a barragem da carangueja. O município agora conta apenas com um único reservatório, que antes abastecia 30% da cidade. A população, "precavida" como sempre, já entra em leve desespero ante a inevitável falta de água crônica que deixou de ser...

Uma tragédia em boa hora

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Foto: Destroços do avião da Chapecoense. Fonte G1. O acidente com a equipe da chapecoense veio bem a calhar para a mídia e para o Congresso. Enquanto a televisão aberta repete dia e noite as informações sobre o acidente e os nomes do mortos, o Congresso Nacional corre com votações importantíssimas para o país. Usando a tragédia alheia e com muito tato político o brasileiro assiste, com perplexidade a duas tragédias nacionais - uma envolvendo uma equipe de futebol e outra que ocorre com os vivos no coração do administrativo do Brasil. Se observamos atentamente, e com distanciamento, podemos vir que enquanto a TV faz de uma tragédia um circo midiático que serve apenas aos políticos confinados no Distrito Federal, ainda que usem e aumentem a dor alheia, com o fim único de promover ações que gerarão prejuízos a toda a sociedade brasileira.  Brasília pega fogo - manifestantes entram em conflito com a polícia, o legislativo ataca o judiciário, o executivo tenta encobrir crise...

O aborto compete à mulher

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Fonte: imagem da internet O aborto, sempre, é um assunto polêmico que levanta armas dentro e fora da igreja, dos tribunais e dos congressos e que, de modo geral, não é problematizado nos lares. E o debate em torno do assunto é improdutivo, com raras exceções. Quando se fala em legalização do aborto as pessoas logo entendem, de maneira implícita, que ocorrerá uma onda de abortos a cada esquina e que haverá uma permissividade sexual legalizada e executada em todas as esquinas de cada cidade do país (como se isso já não ocorresse). O que ocorre é que as pessoas não sabem ler nem interpretar corretamente o que é dito. A legalização do aborto não significa que de fato haverá a execução do ato abortivo, mas que a mulher, quando sentir, por algum motivo, que deve realizá-lo, poderá fazê-lo em uma clínica especializada e não em um açougue, como ocorre atualmente - isso quando não é feito em casa mesmo. A questão, antes de as armas serem levantadas de um lado ou outro, é sobre o dir...

Ocupações - a quem serve?

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Fonte: imagem da internet O mundo girou e a moda passou a ser fazer protesto. A sociedade parece enlouquecida e nada parece que poderá salvá-la do abismo da imbecilidade que corrói o bom senso e capacidade de pensar de maneira crítica e muito observadora. Depois dos protestos que não eram por R$ 0,20 e depois da mobilização pelo impedimento da presidente eleita Dilma Rousseff, a classe dominante e pensante do país, que é pequena, agora domina as mentalidades fracas para "lutar" pelos interesses de quem não quer dar a cara a tapa. São alunos do ensino médio que ocupam escolas e não sabem as razões que motivaram as ocupações e que, em sua maioria, apenas repetem argumentos formulados por outrem sem refletir sobre a realidade e qual será o real impacto das medidas do governo federal na educação, cultura e saúde. Nas universidades o cenário é dual: existe o movimento de ocupação e o movimento de contraocupação, que luta pelo direito de exercer a própria opinião e ter aula...

Crônica antiquada da vida do homem moderno*

A vida é mulher. E a maioria desagradou a essa mulher. E foi assim que a pobreza apareceu no mundo, como forma de vingança dessa entidade feminina. Se pudesse ser vista, a olho nu, nua estaria ela, sentada na areia da praia, observando as ondas e pensando em como faria para tornar divertida a pobreza de seus injuriadores, enquanto o vento serpenteava em seu cabelo e o sol bronzeando levemente sua pele. Talvez não seja bem verdade que a vida seja uma mulher, e que esteja nua à beira mar tomando sol, mas que é igualmente interessante pensar nela como um ser algoz que torna o homem uma criatura divertida em meio às suas dificuldades diárias. Entre uma vida feminina, vingativa, e uma vida masculina, cafajeste, é melhor pensar nela como na primeira opção pela razão notória que aquela sempre se compadece quando o homem chora. Este raramente se sensibiliza ao notar as lágrimas alheia. Pois enquanto está lá, na quente areia do litoral, o homem mal dorme, acorda cedo e corre em desesper...

Anístico*

A madrugada tem os pelos que voaram das brincadeiras alheias de cães e gatos, muitas das quais o perigo de uma morte fez-se presente nos mais elementares momentos inesquecíveis. O perigo não é o de uma morte sem presença de palco em uma vida completamente banal, tão igual a um infarto na hora gloriosa do recebimento de um prêmio, mas de uma vida na qual somente os olhos humanos a viram. Com olhos de lince, que mesmo nunca tendo visto um sabe da agilidade daquelas retinas, os felinos vêem, no espectro azul, a cor do que importa e corre, entre perigos e cães, a linha tênue que leva à cama nessa madrugada fria. O mesmo início de dia que acomete de infortúnios diversos seres pelo mundo ainda escuro é o mesmo que incide sobre a cômica tragédia que é não sorrir frente às ironias trazidas logo mais pelo sol. Se é mais divertido escarnecer dos percalços do dia, por que teria que chorar sob a lápide de desimportantes fatos? E, sorrindo das tragédias pessoais que quase ninguém acreditaria ...

Fome*

Rói dentro do mundo O queimor do sem nem o quê Rói o ácido espalhado No mundo interno Do corpo extenso Rói o rueiro Sem medo Corrói a fome. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Fantasiando estupidez

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Obra: Garden at Saint-Adresse. Claude Monet. 1867. “Estupidez fantasiar dificuldades.” Insônia, Graciliano Ramos. As dificuldades sempre irão existir. A natureza dual do ser humano, refletida em suas obras artísticas, nas megaconstruções, nos devaneios de amor e glória, exige, por si só, o elemento dificultoso para que a recompensa seja doce e todas as atrocidades realizadas com o propósito final para obtê-la sejam justificadas. Há dificuldade na escola, nos relacionamentos, no corporativismo dos empreendimentos e no simples ato de levantar da cama. Agora imagine que se além das resistências e dificuldades naturais da existência humana passarmos a imaginar e criar tantas outras? Não teríamos mais o que fazer e tampouco viveríamos, pois as dificuldades, reais e imaginárias, pôr-nos-iam rédeas e nos prostraria para a morte em vida, que já arrebata milhões de pobres – materiais e espirituais. E se chamam de otimistas ou sonhadores aqueles que não imaginam fantasias e ten...

Morte Solitária*

Acenda o cigarro E queime o pulmão A alma e a casa Destrua o fígado Com  garrafa aberta De cachaça ou uísque Arrase o olho com o pino Do álcool inconsumido Mate-se sem levar consigo Nada de dentro ou de fora. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

A canção mais linda

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Uma das canções mais lindas que já ouvi é surpreendentemente atemporal. Do repertório do cantor e compositor Oswaldo Montenegro, A vida quis assim é simplesmente bela, emocionante e rica – um exemplo da beleza da poesia brasileira e da sonoridade das palavras. Com um arranjo à altura da poesia, através da voz ímpar de Montenegro, essa canção é capaz de arrebatar qualquer um que esteja sensível ao belo e ao sublime. A primeira vez que a ouvi foi por obra do acaso quando elaborava uma apresentação para uma aula na pós-graduação. Em meio aos princípios pedagógicos que seriam ensinados, e pensando seriamente sobre eles e sua aplicabilidade em sala de aula, acabei esbarrando em A vida quis assim no youtube e foi encanto à primeira vista. Já a reproduzi dezenas de vezes e continuo ouvindo sem cansaço porque ela é simplesmente inspiradora. Há quem não goste de alguns ramos da Música Popular Brasileira – e prefira exclusivamente, quase sempre, o funk (que eu também gosto) ou alguns hits d...

Olhar de Jeca

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Fonte: MetMuseum. Asher Brown Durand. No céu, em veludo negro, a lua reflete sua luz em uma terra ainda quente. No quintal, em meio ao lixo de dias e dias acumulados, com uma galinha que não voa de um lado, um jeca fala à lua seus desânimos. E chora. Chora baixinho, quase fazendo uma prece ao Deus que habita no Alto e dentro de si. Chorando, com amargura de uma vida que não sai do ato simplório de plantar e colher – trevas, tormentas, furacões e tempestades – o jeca deixa de lado os agradecimentos e lembra das agruras. Em meio às cascas de coco, restos de comida, latas amassadas, pedaços de pau, bosta de galinhas, com gabirus andando ao longe e aves de rapina sobrevoando o céu claro, Jeca tenta, e não consegue, lembrar quando deu a si o luxo de pensar na vida, de onde veio e para onde vai. E não lembra. Não consegue dizer se vai para algum lugar depois que o corpo engelhado pelo sol e enrugado pelas preocupações mesquinhas cair jazido na mesma terra que não rende o pão no f...

Vida e morte

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Obra: Dune Landscape with Oak Tree. Jacob van Ruisdael. 1650-1655. Tem gente que morre aos poucos, em doses homeopáticas. Uns sentam toda tarde, com u cigarro entre os dedos da mão direita e um copo de café na esquerda enquanto o tempo passa lento, trazendo as sombras da noite. Outros, com menos coragem, jogam-se de pontes e viadutos, sem aviso e sem lamúrias. E aqueles que vivem a rotina, acordando todas as manhãs para fazer a vontade alheia, para beijar a mão dos seus amos, morrem rápido, mas não sem dor. Tem gente que escolhe morrer quando pode viver. Morrer é fácil. Engole-se comprimidos; respira-se gás venenoso; atira-se fogo; obedece-se cegamente a qualquer um; recusa-se a comer; corta-se os pulsos; joga-se na frente de um caminhão... Viver é difícil porque exige coragem e muita força de vontade. Para viver é preciso dizer não aos outros com muita frequência e estraçalhar, sem piedade, a vaidade daqueles que tentam escravizar-nos. Viver exige a solidão de estar no cami...

Pelo telefone

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Obra: Fragment of a Queen's Face - reign of Akhenaten. Dinasty 18. 1353-1336 B.C. Seminua, olhando o teto, falava ao telefone. A língua tocava nos dentes brancos sibilando uma voz macia, suave, sussurrada. Excitava-o com frases incendiárias faladas baixinho, em um sussurro provocante. Sua mão subia por suas coxas, apertando-se, quente, voluptuosa, enquanto palavras pulsantes atravessavam o espaço em micro-ondas até outro ouvido. Queimando, salivando, suas mãos apertavam os seios, excitava-se em mãos imaginárias que das dela fazia de instrumento – e percorria sua barriga, sua boca, seus olhos, suas coxas, sua pulsação escaldante e vermelha. Nua, arquejando, desdobrando-se em partes desiguais, molhando a si e a cama, ela miava, grunhia, contorcia-se segurando em uma das mãos um telefone enquanto a outra, voraz, invadia-lhe a umidade prazerosa dos grandes lábios – indo sempre mais fundo, mais ardente. Súbito, o miado cessa, as coxas caem inertes e os olhos abrem-se preguiçosam...

Educação Crítica

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Fonte: imagem da internet “A educação, direito de todos e dever do  Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Constituição Federal de 1988, Art. 205. A formação de uma geração capaz de tomar as próprias decisões baseadas em posicionamentos bem fundamentados vai muito além da mera transmissão de conhecimento secular. Os indivíduos em formação necessitam de uma carga intelectual e empírica capaz de fazer com o acontecimento mais banal seja analisado sob os pontos de vista mais diferentes, em pura harmonia com a ética e a moralidade. A educação, portanto, é a velha e eficaz ferramenta capaz de moldar uma geração de modo que cada indivíduo seja, por si só, uma instituição capaz de gerar um posicionamento e a defesa deste ante as mais diferentes opiniões que podem surgir, sejam elas contrárias ou não. O problema...

Passante Vida*

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Obra: The Creation of the World and the Expulsion from Paradise. Giovanni di Paolo. 1445. Olhando para todos Apressados e chorosos Fico na estante No seu cais atracado Sem estreias e cantadas Sem ondas de alegria Olhando apenas como A esfinge a planar Em areias andantes Na nudez ria Da solidez porcelanada Olho da estante. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Teu silêncio

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Obra: Womam in a Blue Dress. Thomas Wilmer Dewing. O teu silêncio oferece-me uma liberdade que não me agrada. A falta dos ruídos que fazes não me proporciona prazer algum. Onde está o histérico sorriso que me aprisiona em completo estarrecimento? Onde estão as suas chamadas intermitentes? Onde está você, contraditória, esquecida, que não me liga a fatos estranhos e pessoas perversas? Agora somos o que sempre fomos – pedaços, rasgos, o vazio entre as ligações. E quando a poeira acumula entre os livros, sobre as teclas do meu piano, em meus olhos e não chegas para tirar-me da solidão fica apenas as lembranças de outrora, quando aproveitávamos o sol primaveril para alçar longos voos em planos e devaneios. O teu silêncio, mais opressor que tuas injúrias, prende-me em outros silêncios ainda mais profundos, em revoluções ainda mais violentas. E esse teu silêncio não acaba nunca. Nunca acaba.

Amor russo

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Obra:The Trout Pool. Worthington Whittredge. 1870. “Se é para amar, então é amar por inteiro.” A Dócil, Fiódor Dostoiévski. Quando acordou naquela manhã e início de primavera o que lhe passou pela cabeça foram os beijos de bocas diversas, sem vida, sem vontade, sem desejo. Ansiava por um amor que pudesse avassalá-la, deixa-la enamorada pelas músicas mais infantis e pela cor opaca do mundo ao meio-dia. Sim, tinha amantes diversos. Tinha pretendentes inúmeros. Mas faltava-lhe um que lhe arrebentasse as barragens das lágrimas sinceras e das inúteis palavras amorosas. Faltava-lhe amor.  E decidiu, com determinação dos corajosos que cantam no banheiro, que tentaria encontrar o sentimento que faltava. Decidiu ser completa. Chorar por completo. Sorrir por completo. Ser completa. O amante, à sua escolha, talvez estivesse em seus contatos, quem sabe ainda não nasceu. E quando o calor aconchegante da primavera entrou pela janela em leve brisa matutina, provocando-lhe...

Fogo-fátuo

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Obra: Tables of  Ladies. Edward Hopper. 1930. “Era um amor doente, desesperado, que a consumia como uma chama.” Fogo Morto, José Lins do Rêgo. Era indecente. Vulgar. Um sentimento tão baixo quanto a própria prostituição e que lhe tirava a paz, a calma, o sossego de um amor inocente. Esse sentimento que lhe arrancava a roupa, queimava-lhe a pele e fazia-lhe ter  aspirações perigosas, era um amor ejaculado, rasgado, mordido; depravado. Tinha a consciência da destruição que acompanhava o desejo. Sabia que arrasaria cada um que tocasse. E se não poderia ser tudo o que almejava, seria apenas a si própria, queimando na fogueira de um amor violento, de paixões tão diversas e insaciáveis quanto a imaginação humana. Era sua própria consciência, seu acusador, promotor, juiz e algoz. A cada dia doía-lhe as mãos, os olhos, a boca, as pernas pela falta de mais amor, mais paixão. Não era os músculos nem um rostinho bonito o que desejava. Não era carro e grana o que...

Incerteza*

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Obra: Chance Encounter at 3 A.M. Red Grooms. 1984. É isso. Não. Aquilo, talvez Ou não Branco ou preto ou colorido Certo ao contrário Deitado ou em pé Talvez, aquilo Não, é isso Sim, é! *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Incerteza*

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Obra: Chance Encounter at 3 A.M. Red Grooms. 1984. É isso. Não. Aquilo, talvez Ou não Branco ou preto ou colorido Certo ao contrário Deitado ou em pé Talvez, aquilo Não, é isso Sim, é! *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

O amor caiu

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Obra: A Rose. Thomas Anshutz.1907. O amor caiu em uma cratera, fraturou três costelas e teve um princípio de AVC. Quase morreu do baque e ainda hoje não se recuperou. Quando o tiraram do buraco estava negro de sujeira e a um passo da putrefação completa. Foram longos os meses de recuperação e várias infecções até que pudesse ter alta e voltasse a ser o que era. Ou tentou ser o que era. A pele refloresceu e o viço da juventude voltou, assim como a lembrança da queda livre. Jamais se livrou da imagem daqueles poucos segundos que mudou para sempre a sua vida. Jamais pôde deixar para trás os pensamentos que lhe ocorreram enquanto a dor trespassava-lhe o corpo e a sujeira tornava-o mais indecente. 

Escolho a Sheila

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Prefiro a Sheila. A corrida para o Paço Municipal está aí morna - por razões óbvias. As chapas foram reduzidas e as promessas mais que triplicaram. Temos a situação tentando se manter no poder, a oposição querendo o trono e o povo no meio do fogo cruzado. O senado em Palmeira dos Índios!? Só em crises e eleições para a manutenção do poder político e econômico.  E em meio ao furdunço, às promessas e aos abraços sob esse sol escaldante de fim de inverno e início de primavera eu simpatizei com a chapa da Sheila e do Edmilson. Dentre todas as chapas e propostas a Sheila é a única que, como vereadora, fez algo por seus eleitores e suas famílias - desconheço ONG's ou qualquer outro meio de apoio ao povo por parte dos demais candidatos. A AMPI representa uma voz para mulheres de diversas idades e tem feito um bom trabalho. E afirmo isso por observação in loco desde que a instituição surgiu.  Alguém pode dizer: Rafael, mas você não acha que não é mais que mera obrigação? Ou ...

Pronunciamento da Vitória

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Fonte: na imagem. Leais e amados súditos, Ao longo de muitos dias, em duas estações, sofremos com a pérfida manipulação das massas, em nítida distorção da verdade e da moral. Sofremos injúrias e fomos expostos às mais terríveis mentiras. Porém, permanecemos firmes em nossa rota e nada e nem ninguém nos abalou, pois a simplicidade da verdade não precisa de sustentação à parte. A verdade sustenta-se por si só. Amados súditos, nas horas mais terríveis e durante os ataques à nossa fortaleza, jamais tive dúvidas da invulnerabilidade do nosso forte. E resistimos. Nosso domínio está salvo! Resistimos e resistiremos sempre, pois ainda que turbas enfurecidas, açuladas pela vaidade e por sentimentos baixos e vulgares, atentem contra nossa integridade física e intelectual, resistiremos vestidos com a simplicidade da verdade e da justiça. Nesse momento em que o Império sofre um dos mais duros golpes na liberdade de expressão e no exercício da democracia, quando nossa Imperatriz cai...