Natal seco e plástico

Enquanto os telejornais convencem-me sobre a divina direção tomada pelo governo Temer sobre as medidas econômicas, a água retornou aos baldes através dos canos e de uma fina garoa durante a madrugada. O cheiro de cola e a cor escura da água acaba tornando interessante o simples e trabalhoso serviço semanal de guardar água em tudo o que é balde, panela e reservatório.
É claro que a economia do país é importante, que a final do Master Chef Profissionais é interessante e que a preocupação com a indumentária para o fim de ano são importantes, cada um com seu grau de significância, mas no mundo prático, onde todos precisamos tomar banho, comer e tomar água tudo o que não é relacionado à qualidade da água e o abastecimento é mero problema secundário. Em uma cidade localizada no novo epicentro da seca e que não apresenta nenhuma oportunidade de crescimento para os cidadãos e para as comunidades, falar em decoração natalina ou festas de réveillon não passa de mero exercício de futilidade.
O natal aqui não tem neve, o Papai Noel não suportaria o calor e as renas estão mais para os cavalos abandonados nas pedreiras. O peru ou o chester estão mais para as galinhas que ciscam nos esgotos da periferia da cidade e os presentes natalinos estão distantes de serem realmente presentes e mais próximos das necessidades.  O natal aqui ainda não tem água e sobre poeira e futilidade.
Até onde pude marcar no calendário, as festividades serão resumidas em sorrisos plásticos secos e perfumados, por falta de água e originalidade.
E assim um novo ano anuncia sua chegada, com problemas antigos e um mar de ilusões que não resiste às sete ondinhas.


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