Amor russo

Obra:The Trout Pool. Worthington Whittredge. 1870.


“Se é para amar, então é amar por inteiro.”

A Dócil, Fiódor Dostoiévski.


Quando acordou naquela manhã e início de primavera o que lhe passou pela cabeça foram os beijos de bocas diversas, sem vida, sem vontade, sem desejo. Ansiava por um amor que pudesse avassalá-la, deixa-la enamorada pelas músicas mais infantis e pela cor opaca do mundo ao meio-dia.
Sim, tinha amantes diversos. Tinha pretendentes inúmeros. Mas faltava-lhe um que lhe arrebentasse as barragens das lágrimas sinceras e das inúteis palavras amorosas. Faltava-lhe amor.  E decidiu, com determinação dos corajosos que cantam no banheiro, que tentaria encontrar o sentimento que faltava. Decidiu ser completa. Chorar por completo. Sorrir por completo. Ser completa.

O amante, à sua escolha, talvez estivesse em seus contatos, quem sabe ainda não nasceu. E quando o calor aconchegante da primavera entrou pela janela em leve brisa matutina, provocando-lhe arrepios, a falta, muito mais que as presenças vazias, doeu-lhe o coração. Em seu íntimo, com a mesma certeza que estava viva, já sabia quem seria o seu amor, não por escolha, mas por mero acaso do destino. 

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