Vida e morte
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Obra: Dune Landscape with Oak Tree. Jacob van Ruisdael. 1650-1655. |
Tem gente que
morre aos poucos, em doses homeopáticas. Uns sentam toda tarde, com u cigarro
entre os dedos da mão direita e um copo de café na esquerda enquanto o tempo
passa lento, trazendo as sombras da noite. Outros, com menos coragem, jogam-se
de pontes e viadutos, sem aviso e sem lamúrias. E aqueles que vivem a rotina,
acordando todas as manhãs para fazer a vontade alheia, para beijar a mão dos
seus amos, morrem rápido, mas não sem dor. Tem gente que escolhe morrer quando
pode viver.
Morrer é
fácil. Engole-se comprimidos; respira-se gás venenoso; atira-se fogo;
obedece-se cegamente a qualquer um; recusa-se a comer; corta-se os pulsos;
joga-se na frente de um caminhão... Viver é difícil porque exige coragem e
muita força de vontade. Para viver é preciso dizer não aos outros com muita frequência e estraçalhar, sem piedade, a
vaidade daqueles que tentam escravizar-nos. Viver exige a solidão de estar no
caminho certo quando a maioria está no caminho errado. E quando a maioria
mente, perverte a verdade e julga em plena inversão de valores viver parece uma
abstração.
E a escolha,
mais cruel que a jornada, entre viver ou morrer reduz-se a morrer vivendo ou
viver para si.
Depois.
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