Dragões de Éter




A literatura tem uma função muito específica, dentre tantas as possíveis aplicações, - permite que o leitor recrie histórias já ouvidas e que, à sua visão, refaça mundos e personagens. A literatura fantástica, ainda mais que registrar o modo de pensar e de agir de uma determinada época, tem o privilégio de ultrapassar o limite da sanidade e estabelecer paradigmas que, hora ou outra, pode ser empregado na realidade.
O Brasil ainda caminha lentamente na formação de uma sociedade leitora e escritora. E ainda mais lentamente na produção de uma geração escritora de fantasia. Temos alguns exemplos bem sucedidos e alguns livros muito bons. Dentre esses, temos a trilogia Dragões de Éter.
Os volumes que compõem essa trilogia recriam os contos de fadas em romances únicos em que o amor, a guerra, a traição, as etnias e as aspirações de personagens como Branca de Neve, Peter Pan, João e Maria e as Bruxas são tão distantes dos desenhos cultivados em nossas mentes quanto o são as terras da fantasia. E é justamente o entrelaçamento dos caminhos de diferentes histórias, em circunstâncias tão díspares, que faz de Dragões de Éter uma trilogia interessante e surpreendente, não apenas na releitura dos personagens.
Raphael Draccon expande a visão brasileira das histórias “infantis” e expande os conceitos de fantasia e dos estereótipos de personagens, terras distantes e do modo de contar histórias fantásticas. A grande sacada de Draccon, entretanto, não é recontar e recriar personagens e histórias em uma única linha espaço-temporal. É dar ao leitor a consciência de sua semidivindade; deixando claro que cada leitor é um semideus capaz de dar vida aos personagens de Nova Ether. Isso é fantástico.
Com linguagem clara, moderna – apesar da ambientação das histórias-, e personagens cativantes, Caçadores de Bruxas, Corações de Neve e Círculos de Chuva, os volumes de Dragões de Éter, não podem ser vistos individualmente nem comparados com outros livros do mesmo gênero. Os volumes precisam ser levados em consideração a partir das próprias visões dos leitores sobre as historinhas eternamente contadas; e analisados como um conjunto.
Uma boa leitura para quem gosta de inovações e não perde a oportunidade de conhecer a ousadia escrita.


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