Entrevista com Isvânia Marques
![]() |
Isvânia Marques. Foto: Gazeta Web |
A entrevista de hoje é com a Professora, Escritora e Presidente da Academia Palmeirense de Letras,
Ciência e Artes (APALCA), Isvânia Marques. Nessa conversa sobre literatura, Graciliano Ramos, Incentivo à produção textual e à leitura, Marques desmistifica a APALCA, convida a todos a visitar e conhecer sua obra, os escritos dos mestres e fala sobre a oportunidade de escrever e refugiar-se nas folhas de uma prosa.
Sobre si, sobre como se tornou representante dos acadêmicos em Palmeira dos Índios, essa é uma conversa muito interessante para os fãs da escritora, para os Palmeirenses e para aos amantes das letras.
Rafael Rodrigo: Qual seu
primeiro contato com a literatura?
Isvânia Marques: Ainda adolescente. Adorava poesias e contos puramente
românticos.
R.R.: O que a motivou, pela primeira vez, a escrever?
Marques: A timidez. Ficava mais fácil de escrever no papel do que falar às
pessoas sobre os meus sentimentos... Lembro que havia um programa, na antiga
Rádio Educadora Sampaio local, aos domingos (parece-me), que divulgava os
textos dos ouvintes; então, levava os meus num envelope, sob pseudônimo (às
vésperas) e colocava embaixo do portão principal da Rádio Sampaio.
R.R.: Qual(is) seu(s) autor(es) de referência?
Marques: Vinicius de Moraes,
Cecília Meireles, Arnaldo Jabor, Érico Veríssimo, Augusto Cury, Graciliano
Ramos...
R.R.: Muitos autores enfrentaram diversas dificuldades no início da
carreira. Uns superados e outros não. Quais foram suas dificuldades no início
de sua carreira como escritora?
Marques: Assim que iniciei a “peregrinação” às editoras, percebi que para
um “aspirante” a escritor e sendo este desconhecido no mercado editorial, sua única
alternativa é o auto-investimento, numa produção independente e ousada, além de
enfrentar os riscos de ser (ou não) sua obra acolhida pela crítica e pelo
público leitor. Além dessa mesma ousadia, utilizei o magistério como “ponte”
para a divulgação de meus trabalhos. Foi a Escola o primeiro espaço receptivo
ao estudo de meus textos.
R.R.: Como se tornou Presidente da APALCA?
Marques: O primeiro
presidente da APALCA foi padre Motinha, em 2001, e Dom Fernando Iório indicou o
meu nome para a vice-presidência, durante reunião realizada no Palácio
Episcopal, numa manhã de domingo. Embora tenha alegado várias atribuições
assumidas em Maceió, fui convencida pelos confrades a aceitar o cargo (para mim
soa mais como “missão”) e, já na segunda eleição, estava novamente meu nome
liderando a chapa, devido ao exercício temporário como presidente na diretoria
anterior. Cumpro, desta feita, a minha terceira gestão à frente do nosso
Sodalício.
R.R.: Na Academia Palmeirense de Letras, Ciência e Artes qual é o papel da
Ciência?
Marques: Sendo
a Ciência um “conjunto de conhecimentos sistemáticos sobre determinado
assunto”, a nossa entidade abre espaço para esse campo, com base nas pesquisas
elaboradas por seus sócios, cuja relevância é a sua contribuição para a
comunidade da qual estão inseridos.
R.R.: A impressão que se dá é que a Academia é elitizada e inacessível ao
povo. Qual sua opinião sobre isso?
Marques: Realmente é uma “impressão” apenas, pois TODAS as Academias
ligadas à cultura e à literatura (e à Ciência, de forma específica) visam
INTERAGIR com a comunidade. Existe em torno delas o estereótipo do
“inatingível”, mesmo sendo suas ações ampliadas a um público eclético e à
diversificação de suas funções. A nossa APALCA, por exemplo, realiza seu papel
por meio de eventos literários e culturais (saraus, palestras com temas
diversos, concursos literários, biblioteca acessível, lançamento de livros,
além do folclore e do teatro levados às ruas próximas à sede acadêmica). Confesso
que há muitas pessoas que ainda desconhecem a nossa entidade, embora utilizemos
os mecanismos de comunicação para divulgação desses eventos. Mesmo assim, já
avançamos (e muito!). E, assim como “a praça é do povo”, a Academia não pode
ser diferente, não é mesmo?
R.R.: Sobre sua obra, qual dos livros pode-se dizer que é autobiográfico?
Marques: A impessoalidade não é o meu forte. Há uma “interferência”
não-intencional, espontânea em tudo o
que faço e escrevo. Até nos contos infantis, nos poemas, no reconto da lenda de
Tilixi e Tixiliá , consigo inverter os papéis com os personagens e/ou situações
do texto. Em suma: há um pouco (às vezes, muito) de mim em cada página de meus
escritos (sejam eles em prosa ou poesia).
R.R.: Em Para ti, Graci(liano)... o leitor tem a impressão de ser uma carta
de amor ao Mestre Graça. É isso mesmo?
Marques: É um misto de sensações sentidas que somente a literatura me permite
experimentar... Se o “poeta é um fingidor”, o escritor também pega carona nos
personagens e vivencia situações que jamais imaginou. E o melhor: não se pune
por isso, pois o livro é um espaço onde a ousadia é pura libertação. E é nesse espaço que exercito a minha
imaginação...
R.R.: Nessa homenagem a Graciliano Ramos, houve alguma descoberta
interessante?
Marques: Comecei há pouco tempo a estudar Graciliano Ramos (um olhar ainda
míope, confesso!) e tenho encontrado revelações importantes, especialmente quando
me deparo com o educador nato despertado desde quando exerceu o “magistério
matuto” aqui, em Palmeira dos Índios, ainda jovem. Mais tarde, Inspetor da
Instrução Pública do Estado de Alagoas (cargo de Secretário de Estado da
Educação, atualmente), preocupou-se com a merenda e o fardamento escolar,
priorizando as crianças em fase de letramento. Com tais atitudes, cai em
descrédito o rótulo que lhe foi dado de “homem insensível, frio”.
R.R.: Quem é Graciliano Ramos, para você?
Marques: Um menino simples, cuja infância foi marcada pela aspereza de uma
educação que o tornou (até aproximadamente 09 anos) avesso à alfabetização; um jovem
corajoso, que arriscou o jornalismo no Rio de Janeiro, voltou para Palmeira e
foi caixeiro na Loja Sincera de seu pai; um homem – autodidata - que superou
todas as suas dificuldades por meio das leituras aos livros, escreveu seu
primeiro romance, Caetés, em Palmeira (1925-28), tornou-se prefeito movido
pelas circunstâncias da época (não por querê-lo), deixando-nos o legado da
ética e da transparência no seu exercício como político; um escritor sensível
às mazelas de seu tempo, utilizando suas obras para denunciar a miséria, a
corrupção, a ânsia do poder e a exploração da pobreza; um ser imperfeito (como
nós todos), mas essencialmente humano (conforme se revelou nas páginas de seus
livros) e admiravelmente romântico (ao escrever cartas de amor para Heloísa). Apaixonei-me
por todos eles, a cada leitura iniciada (ou repetida).
* Dessa forma, acabo de responder – também - à pergunta anterior (que
tentei fugir!)...
R.R.: Para os leitores, muitas vezes desmotivados a escrever e a ler, quais
suas palavras para reverter isso?
Marques: A
minha experiência como professora me deixa desnorteada diante da indiferença da
maioria dos jovens à leitura, nos dias atuais. Eles confundem a comunicação
eletrônica como a melhor forma de informação, descartando a leitura, a pesquisa
e a produção textual como exercícios fundamentais para a elaboração/criação de
um novo texto. Entusiasmam-me aqueles que, de forma espontânea, buscam os
livros em seus diferentes temas como subsídio para seus estudos e preparação
para vestibulares e outros concursos. O diferencial de um jovem que lê e de
outro que rejeita esse instrumento (do saber) é que para o primeiro há um
futuro repleto de possibilidades de sucesso, enquanto para o outro, a sorte
(sinônimo de insegurança) prevalecerá em seus dias.
Muito obrigado pela entrevista, Isvânia!
Essa entrevista foi concedida por e-mail.
Muito obrigado pela entrevista, Isvânia!
Essa entrevista foi concedida por e-mail.
Comentários
Postar um comentário
Após análise, seu comentário poderá ser postado!