Foto: sorvetesnectar.com A felicidade pode ser comprada, degustada, comida com vontade, sempre e quando o dinheiro e a vontade quiserem. Ela está guardada em potes brancos de um quilo (ou dois litros) dentro de refrigeradores de supermercados, mercearias e lanchonetes. Essa felicidade, não tão efêmera como o beijo de uma boca vermelha ou como o prazer rápido de uma transa apressada, é a expressão da solidão humana quando está de bem com a vida, feliz consigo e extremamente satisfeita. O sorvete, ah o sorvete!, também é usado quando alguém, geralmente as mulheres, estão de mal com a vida por um desagrado amoroso. Isso dá má fama ao manjar gelado. E a culpa, se não é de Hollywood, é das diversas mulheres carentes de todo o mundo que copia os trejeitos de uma comédia romântica. O sorvete é o primeiro e último item de qualquer lista feliz. Ele esfria o corpo; aquece os desejos; acalma as revoltas; produz gorduras; aproxima pessoas; torna o calor agradável e traz sabor à luz m...
Praia de Atalaia, SE, em 2013 Seis da manhã. O sol começava a despontar no horizonte de prédios, um deles caído lá na Coroa do Meio, e eu, debruçado na janela do terceiro andar, fazia ligações para o agreste e alto sertão alagoano. Adriana Calcanhoto falando-me de coisas que eu já sabia bem, e muito bem, em um volume alto e em bom som. Adriana, ótima cantora e intérprete. Domingo. Sol. Praia. Um mundo lá fora que começava a acordar para o sol, o chuvisco, uma normalidade que em nada me agrada. Pessoas longe. Lembranças perto. Falas suas. Verbos de outrem. Lista de tarefas. Fila de pessoas esperando um “dane-se”. A massa indo pra um lado, eu indo pra outro. Uma garrafa de vinho às seis e um. Queijo, pães, vinho. Um café da manhã próprio para altos pensamentos, para quem tem o peso de um passado apagado nas costas. Esquadros. Mentiras. Depois de ter você. Se o mundo que acorda soubesse, levariam-me para um passeio à beira-mar, um banho em uma piscina sob o sol que...
Foto: falouepontofinal.com.br Cartas de amor são ridículas, escreveu Fernando Pessoa. Somos efêmeros o suficiente para mudar de lado na política, na opinião sobre dinheiro e ética, sobre as visões do mundo. Somos efêmeros para mudar de amor a cada estação, ou quando mudamos de cidade ou emprego, sob a justificativa aceitável de que a felicidade está sempre a um passo de distância. Conversas e justificativas que tornam aceitáveis atitudes que transformam pessoas em objetos e que, sem cerimônia, passamos a usar egoistamente sem o pré-julgamento da sociedade. Quantos “amores eternos” você não viu acabar do dia para a noite? Quantas paixões incríveis são formadas em show musical? Evidentemente, não podemos misturar a paixão com o amor, pois aquela tem a licença poética para começar e acabar ao bel-prazer; este não. O amor é um pouco mais preso por ser entendido como duradouro, entediante, promovedor de cartas ridículas, sem sentido e constrangedoras. O amor, endeusado, ...
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