Carta a um ausente VII
Das liberdades que nos damos, que nos permitimos e que nos aprisionamos resta somente o estar liberto, jamais o ser liberto. É por isso que nos refugiamos em redes sociais digitais, esperando que olhares curiosos sejam o afago na solidão que nos devora.
Agora temos exemplos decadentes, líderes mortos, ídolos cadentes. E não sabemos nada além do básico para sobreviver porque temos medo da imensidão da nossa finitude.
No centro do continente, há fumaça, calor - um frio de vez em quando - e muita morte em forma de vida. Por aqui vejo pessoas que não sabem o quão condenadas estão e é bem provável que eu comece a me tornar podre por dentro, como eles, e, diferente do que tentei até agora, sadio apenas da mente.
A comida aqui ainda não tem gosto - reluto a provar o que não pode ser provado devido a contaminações diversas. O ar, pela primeira vez em minha pouca existência, é tido como insalubre devido à sua total falta de qualidade.
A vida parece ser só isto por aqui - uma sala de espera oncológica em que as pessoas, para se distrair do fim dilacerante, assistem pequenos vídeos.
Eu estou no centro do continente. Equidistante do oceano nos dois lados. E mesmo assim eu sou toda a água do mar, o céu tempestuoso Dela.
E você, o que é?
Comentários
Postar um comentário
Após análise, seu comentário poderá ser postado!