Carta a um ausente VIII
Estamos em centros geodésicos diferentes, em fusos horários diferentes, em plásticas e descartáveis culturas. O calor de um lugar é a brisa fresca de outro e nada pode mudar o fato de que, em minúcias, a vida possui caminhos que de tão diferentes se tornam iguais.
"Estamos sós e nenhum de nós", como retrata aquela letra de música, sabe em quantos quilómetros haverá encontros e reencontros. Temos sido o que foi possível ser e nada parece ser o suficiente em uma sociedade em que nada basta, nada satisfaz, nada melhora o humor daqueles que estão decididos a não ter bom humor.
É assim que se conclui que, sem exageros ou pausas dramáticas, jamais nos reencontraremos. Não somos mais os mesmos, nem mesmo nos poucos traços físicos que nos resta. Não teremos mais o minuto de silêncio olhando as ondas cessarem na areia, as inúteis ideias de possibilidades diante de uma meia parede, o clarão da agonia de estar e nunca ser o suficiente.
Aqui onde o ar é insalubre e a água indisponível, há cânceres que corroem a vida, há terras queimadas, há pessoas que não sabem que podem viver de modo diferente, em lugar diferente. Não há nós porque, como os cantores de nossas juventude, trocamos "um nós por dois eus".
"Eu que não sei quase nada do mar". Você que não sabe nada de mim. Nós que não sabemos nada da vida seguimos sendo errantes, ex-amantes, desencontrados e desentendidos.
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