O cansaço de viver
Um dia a gente vai perdendo o gosto pelas coisas. Em um mês de abril a gente vê que não gosta mais de desenho animado. Em maio a gente perde a paciência para essa coisa de dia das mães. Quando junho desponta no firmamento percebemos que não contemplar a lenha queimando é um alívio.
É assim que, percebendo ou não, vamos morrendo aos pouquinhos, com muitos graus de insensibilidade. Com a perda de pequenas alegrias que nos acalmavam a mente e arrefecia o aperreio dos dias. E parece que não há nada que possa mudar isso porque, em uma última instância, significa a perda da inocência também.
De repente, ou nem tanto, nos vemos lutando para pagar contas e sobreviver mais um dia. Reclamamos de trabalhos ruins e chefias tóxicas e, mesmo assim, arranjamos desculpas para manter a situação até o limite do tolerável. Amargamos a solidão a dois e continuamos tendo medo do estar só, um paradoxo que só nossa mente consegue processar. Vivemos como criaturas infames pedindo aos deuses um momento de misericórdia e água fresca.
Certo dia vamos acordar cansados de tudo o que nos cerca, da vida pesada e monótona, e continuaremos pedindo socorro aos berros, às pancadas, aos copos.
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