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Mostrando postagens de outubro, 2015

Noite Bruxa

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Quando resolve explicar algo a alguém realmente faço isso acreditando no que digo, ainda que pareça uma loucura inimaginável. E quando falo, além da minha opinião, tem a opinião de pessoas mortas - escritores, celebridades, não-famosos. E nem sempre o meu parecer tem aspecto de pensamento linear ou politicamente correto .  Algumas pessoas, ou ouvirem-me falar, revelam uma expressão de perplexidade e outras são mortalmente contrárias, ainda que minha expressão seja a de desprezo pelo contraditório só pelo contraditório. No dia das Bruxas, que é também o dia de comemoração do nascimento do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que precede a comemoração macabra de Todos os Santos e de Finados, não é difícil ver por aí minhas palavras ecoando e relembrando não apenas Drummond como também personagens fictícios, tornados reais pelo simples desejo. A mistura daquilo que não é real e do que não é apenas o termômetro do quanto se pode ser feliz sozinho, acompanhado, nesse e em out...

Cidade Baixa

Toda cidade tem uma cidade baixa, onde a puta nasce, o filho da puta cresce, o bandido se faz e de onde a surpresa origina grandes feitos. E isso é de uma verdade tão imutável que até o próprio povo reluta em aceitar. Na cidade baixa os pobres entram em processo multiplicativo, as casas não têm lá o luxo que se ostenta em bairros nobres e a educação é sempre um item de discussão, dentro e fora de casas e escolas. Nessa baixa também surgem as pedras raras – escritores, pintores, administradores, engenheiros, idealistas, criadores. E o que falta aos jovens é justamente a oportunidade – o dinheiro para um curso, o alimento regular, o sono tranquilo, uma moradia digna ou, o mais importante, alguém que acredite no potencial e no futuro desses. Toda cidade tem o ladro reluzente, feito para turista ver. E tem a vida de fato, com esgoto na rua, com sujeira, com a população que faz do ambiente ser uma cidade, ainda que polarizada. A vida, em qualquer lugar, encontra-se na cidade baixa....

Padres Catra

A modinha religiosa dos últimos tempos sofreu um revés que se parece muito com a contra-reforma católica – os padres saíram com fervor para arrebanhar as ovelhas (não carneiros, só ovelhas), tomando o espaço dos cantores gospéis  e ridicularizando a vanguarda católica do show business. Quem assiste a programação da TV aberta não consegue mais, e isso já tem um tempo, ficar cinco minutos sem ouvir a gritaria lamuriosa de um padre ou outro. E tal qual a classe protestante, apareceram padres cantores da mpb, do sertanejo e, se deixarmos, logo logo o Funk católico aparece por aí também para completar a quebra e mais um selo apocalíptico. E não entenda que há preconceito em um padre vestir uma calça tão apertada que dá para notar cada ruga peniana ou que um padre não possa pregar no além-igreja. Muito pelo contrário. Na vanguarda do movimento católico tínhamos músicas que frequentavam os corais das igrejas e que despertavam bons sentimentos em crianças, adolescentes e adultos sem ...

Feira de Ciências

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A V Feira de Ciências da FAPITEC/SE vem aí de novo, em mais um ano, com o árduo e desnecessário trabalho de tentar levar a "ciência" para o povo. E esse ano vai ser dentro da UFS - e ninguém me convença que é por causa da crise se o que mais parece é falta de gerência. Essa Feira de Ciências mostra muitas coisas importantes sobre o que se faz de útil na UFS, Universidades e escolas públicas e privadas. Se você perder seu tempo visitando os projetos pibic, pibex (pibix) e pibid (se aparecer algum) vai se deparar com uma realidade estranha: alunos do ensino fundamental e médio, sem recurso financeiros (ou co baixos recursos) desenvolvem equipamentos e técnica, para uso no campo ou na cidade, que deixam os projetos universitários da UFS no chinelo. Um exemplo é a robótica dos alunos das escolas que desenvolvem utilidades com materiais baratos e que usam lógica de programação, e a cada ano evoluem mais, enquanto que na UFS o máximo que o grupo de robótica consegue fazer é u...

Subversivos da UFS

O VII SIMPROD terminou na sexta-feira passada. E como um bom aluno de Ecologia e Controle da Poluição, lá estava eu, sentado no meio do auditório do novíssimo prédio do Núcleo (Departamento) de Petróleo e Gás, assistindo a palestra do Diretor Presidente do SergipeTec. Uma interessante e peculiar palestra que serviria para todas as engenharias e demais alunos de Ciências Socias e afins que soubessem contextualizar o que estava sendo exposto.  Serviria . Como de hábito, os egos dos departamentos são fortes o bastante para ignorar eventos interdisciplinares e contextualizadores apenas por que não foi cada um que organizou. Esse mal, essa mania de querer aparecer como pilar de todo o conhecimento e poder organizacional que alguns docentes, chefes de departamentos ou não, possui poder suficiente para minar o conhecimento amplo e diversificado que deveria ser fomentado dentro da universidade e levado para a vida profissional. O VII SIMPROD poderia ter sido mais frequentado, mais...

A saga ENEM: Revival

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Então eu estava lá, escrevendo na barriga da besta quando... um o Aplicador da prova, que não sabia nem o que estava fazendo, começa sua saga particular para matar a fome de 10 meses de jejum. O Aplicador rasgou o saquinho de amendoim chinês derramando-o todo no chão ( aí vão meia hora para juntar todas as bolinhas salgadas), depois começou a comer o kit de barras de cereal e mais uvas e bolos, levadas de barulhentas bolsas plásticas brancas. Ele deve ter pensado "como faço para fazer o máximo de barulho para aqueles fodidos? Ah, sim, vou levar uvas e bolo dentro de bolsas brancas e lá eu vou tirando uma por uma das uvas e depois pedaço por pedaço, até não restar mais nada e o barulho ter sido épico". E assim ele fez. E mesmo que mais irritante tenha sido isso que as conversas imbecis e paralelas qye teve com a Chefe de Sala (a mesma de ontem, diga-se), foi a fome canina seguida da sinfonia de plásticos que mais quase me fez matá-lo de vergonha.  Mas ou um anjo e só resol...

A saga ENEM: parte 01

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O sábado foi dia de enfrentar a besta fera que atormenta todos os estudantes do ensino médio, desde o primeiro ano. A besta fera já estava pronta quando eu ainda abria os olhos às 10h30, 11h30 no horário de Brasília. Pela primeira vez na história dos meus exames de seleção, juntando concursos e vestibulares, o local da prova foi no meu quintal. Há uma escola no meu quintal. E lá fui, às 12h, no horário de Brasília, gastar R$ 2,00 em uma garrafinha de água e R$ 1,00 em uma caneta preta fabricada em material transparente. Um dinheiro jogado no lixo! - o Governo de Sergipe, através da Secretaria de Estado da Educação, estava distribuindo até duas canetas por candidato e quantos copinhos de 200 ml os candidatos quisessem, isso em todos os pontos de realização do ENEM. Poderia ter economizado R$ 3,00. E apesar de aparecerem milhares de Rafaéis, inclusive dois com os nomes exatamente iguais, o mais interessante nesse primeiro dia de Exame não foi a excentricidade medrosa de alguns fisc...

O Governo que acredita nos estudantes

Existe um hábito interessantíssimo em Aracaju, promovido pelo Governo do Estado e seguido pelas instituições de ensino particulares, que é o de espalhar faixas e cartazes, além de propaganda no rádio e na televisão, com mensagens de apoio aos estudantes para a realização do ENEM, antes era para o vestibular da UFS. O interessante é que são mensagens de incentivo e de crédito no conhecimento dos estudantes, ainda que esse conhecimento seja nenhum. Seja no campus da UFS, nas principais ruas e avenidas, ou nos prédios de escolas, as mensagens estão sempre lá. E essa é uma atitude que o Governo de Alagoas, apesar de todo o gasto em publicidade, não faz e nem cogita. Se pensarmos que muitos estudantes não possuem o mínimo de incentivo ou uma palavra de apoio, pelas mais diversas razões, podemos ver que essas mensagens fazem mais que apoiar virtualmente os adolescentes. Vai além e impulsiona alguma esperança que possivelmente exista dentro da mente e que sem fertilizante, não germi...

Vandalismo do amor próprio

Uma pessoa solitária só saberá que é quando, em um meio social densamente divertido e cômodo, pensar no que fazia antes e no que fará quando cegar e casa. E assim como um solitário sem noção da própria condição, uma pessoa com pouco amor próprio, acostumada a porradas emocionais e desatenção, só saberá que não é feliz quando, lutando contra a correnteza, alguém mostrar, na prática, o que significa uma relação saudável - seja de amor ou amizade. O problema é que confundimos, frequentemente, amor com doação monetária e sentimento de posse e amizade com obsessão virtual. O amor, de tanto ser dito em horas impróprias, acabou sendo vulgarizado. O vandalismo anda acabando com pessoas incríveis. O vandalismo com o amor próprio anda acabando com pessoas incríveis. Há pessoas em que a vontade de mostrar o caminho certo, ou ao menos aquele em que não é só de porrada emocional  que o amor sobrevive, faz com que o desejo de esfregar-lhe a cara no asfalto quente é mais forte que o dob...

Uma vida por R$ 6,00

Se você se arriscar a andar de moto táxi pleas ruas violentamente movimentadas de Arapiraca vai notar, com surpreendente facilidade, que está arriscando bem Mais que a vida, por R$ 6,00. O moto taxista de que peguei hoje cruzou, pelo menos, 3 sinais vermelhos, entrou em conflito com dois carros e com os pedestres que apareceram, na deserta Arapiraca de domingo. Em uma velocidade estonteante, para quem não tinha pressa alguma de cair e quebrar o pescoço, passei pela Concatedral que quase não a enxerguei e pelas entradas do Parque Ceci Cunha como se fugido estivesse. Não é de admirar que os moto taxitas apareçam escangalhados por aí com mais facilidade que traficantes depois de uma luta de poder nas favelas das grandes cidades. Está mais perigoso andar de moto táxi em Arapiraca do que vender cocaína nas bocas de fumo da vida. E quando você parar para pensar nos capacetes sujos e imundos, no atendimento deplorável, nas vezes que falta combustível no meio da corrida ou de quando a ...

O perfume da Fran

Há perfumes que deixam na pele o gosto por mais... e mais pode ser só desejo e exalações como também pode ser a vontade desabalada caindo ladeira abaixo, seja na boca de alguém ou nos braços de outro alguém. Fran passou com perfume, um cheiro que invadia o corpo e despertava aquilo que se pode chamar de pecado e que, entre paredes, é também conhecido como Paixão Violenta. Sua boca, aquela boca, revestida de vermelho e um agradável sabor de frutas vermelhas arranha a língua, os olhos e a voracidade. O perfume, aquele perfume que fica muito tempo depois que ela se vai, fica como lembrete para a violência da paixão que se desperta. O suor que dela decorre, as manchas de batons que dela resvalam e a vontade é uma somente uma questão de quando, e não de se. Fran sabe que não deve dar a bochecha - não a bochecha - descaradamente quando se pode oferecer mais. E quanto mais se der, melhor será.

Del amor

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O amor é solitário, nem tão chato nem tão egoísta. Talvez repentino, muitas vezes interessante. Mas sempre solitário. Está dentro de cada um, sem fazer alarme, esperando que alguém o toque, incomode. É cruel, frio e calculista. E quando chega na apoteose dos corpos, dominando a vida, a energia e a força de vontade, sente-se ofendido e resolve ir embora, transformando cheiro das rosas em podres odores. Tem ego inflado e um rugido ensurdecedor. É teimoso e tinhoso. E quando diz que se transformou em outra coisa está apenas dizendo que nunca foi o que pensaram - apenas leve sopro do que um dia pode ser. O amor é presa, caçador e estranho. E só o que se pode dizer sobre ele é que é ingrato.

Vida cruel

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Viver no nordeste, nessa época do ano, não é fácil. Nada fácil. Em Palmeira dos Índios falta água seis dias e 20h - apenas 4 horas de água por semana. O sol é escaldante e a terra parece que vai pegar fogo. Sair à rua é praticamente uma insanidade cuja única motivação é a necessidade. E se para os humanos é difícil, imagine para os animais, principalmente os de rua e abandonados! Não é raro encontrar, entre as dezenas de cães e gatos moradores de rua, animais de grande porte, como equinos e bovinos, perambulando pela cidade, morrendo de sede, fome e cansaço. Esses animais, que invadem ruas e rodovias, casas e terrenos baldios, viram e reviram lixeiras e o que mais aparecer, são vítimas de donos irresponsáveis e aproveitadores que, para economizar e poupar trabalho, entregam ao deus-dará esses pobres animais até que voltem a precisar dos seus serviços. Perambulando, indo de um ponto a outro da cidade, eles imploram por água a todos que passam, sentem na pele o sol quente do dia t...

O porquinho

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Andar pelas ruas da Princesa do Sertão à noite é uma experiência inenarrável e muito enriquecedora, sob vários aspectos. Eu, particularmente, adoro andar pelas ruas e vielas como um exercício de autoconhecimento, vida-louquice e passeio perfumado (dependendo da área arborizada em que se ande). Noite passada estava eu nessa caminhada noturna, olhando as estranhas promoções da cidade (como o.parcelamento de compras no construcard em 238 vezes) e as muitas excentricidades de uma população sem muitas perspectivas, quando viro uma esquina e me deparo com... um porquinho! Um porquinho de rua, muito bem acompanhado de um gatinho branco de olhos amarelos. O tal porquinho estava fuçando o lixo, observando quem passava e confabulando com o gatinho, sem estranhar os transeuntes e com muito estilo. O tal rosadinho corria o sério risco de acabar se encontrando com o aço inoxidável de uma faca sega, sedenta pela carne gratuita e pelo derramamento fácil de sangue. E praticamente no centro da cid...

Nego Ciço

Às quatro horas, seja de uma manhã fria ou suarenta, Nego Ciço já está de pé, com suas ferramentas, olhando para os olhos grandes e expressivos do boi. Sem dó nem piedade, estados de coração que há muito perdera e que jamais reencontrará, ele lança-se sobre o animal, tira-lhe a coragem e imbue-se com ela; baixa o braço magro e poderoso sobre a cabeça bovina, arrancando-lhe a vida. Olhando assim, como um mero observador enojado pela vida que pulsa nas veias de Nego Ciço e que deixa o corpo animalesco, poderia dizer que o homem é feroz sem necessidade, devorador implacável, no sentido mais cruel das palavras. E pensar isso, assim como vomitar em meio ao sangue e às vísceras de mais um boi, é a mais absurda das hipocrisias sociais. Lá, onde o sangue muda a tonalidade das sandálias havaianas (muitas com um prego), Nego Ciço não entende a besteira de não poder ser chamado de 'nego'. Entende apenas que lhe pertence alguns reais, ainda na forma bruta de músculos, pontas, tripas e...

Corrupção no Conselho Tutelar

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A eleição para Conselheiro Tutelar segue com todas as características de uma eleição municipal para a câmara de vereadores: compra de votos com cerveja, tapinha nas costas e uma "amizade do peito". Não se pode mais caminhar nos frangalhos que sobrou da feira livre de Palmeira dos Índios sem que um cidadão de bem encoste e exalte as qualidades da esposa ou da esposa de um amigo. Daí para a tentativa de compra do voto se dá com a tranquilidade de quem compra bananas. Em casa, quando menos se espera, uma chuva de santinhos invade a calçada, a sala de estar e o que mais estiver à disposição dos cabos eleitorais. E quando a compra do voto, por dinheiro ou favores, não se dá vem aquele " passe lá em casa, eu dou uma carona pra ir ao Estadual". Francamente, são a esses candidatos que a sociedade entregará a responsabilidade de proteger os Direitos das crianças e adolescentes? Serão...