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Mostrando postagens de outubro, 2013

Vizinha(s)

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Cond. Eucaliptus Do outro lado do quarto, no quarto do prédio vizinho, a vizinha troca de roupa. Tira calça e blusa. Refresca-se do calor. Faxina o quarto. Excita os homens do último andar do prédio de frente e irrita as mulheres do andar de baixo. Mistura a vida íntima à publicidade de celulares, fotos, sonhos e hormônios. A vizinha olha pela janela, abana-se com a mão, tenta decidir se veste a blusa branca ou a jeans. Decide tirar o sutiã. Vira-se. Revira-se. Veste-se e despe-se de novo. A vizinha é promiscua sendo natural. É gordinha com o vidro da janela, dela, fechado, e engraçada com ele aberto. Todos os dias a vizinha chega, tira a roupa e anda nua pela casa. Ela oferece água, lanche. Convida para uma tarde tórrida, com entrada pela janela do terceiro andar. A TV sempre ligada para abafar os ruídos da avenida, não os de dentro do apartamento. Sempre os de fora. A vizinha, de baixo, é sempre muito simpática, muito bonita, mas ela não anda nua. Ela não tem chance. A viz...

Metades

Vivemos em meio a esses amores tantos, diferentes, estranhos, problemáticos. Em meio à falta de amores. Enlameados na mais diversa maneira de estar. E estamos separados, com a vida insistindo em dar-nos milhares de motivos para sermos igualmente disputados nos meios em que adentramos. Isso é o que todo mundo sabe. O que ninguém sabe é essa mania nossa de falar com naturalidade das nossas coisas - que existem separadas uma da outra -, de pessoas - de nossas vidas separadas -, de flores, comida, pretérito, presente, sofrimento e vida. Nesse meio, um vendaval de dias, meses, talvez anos, encaminha um para o outro com a certeza de que não há data marcada, nem nuvens que separem-nos – exceto apenas aquela que interrompa o sinal da operadora de telefone. É o ... não. Não é o amor que nos une sob os laços que a distância impõe. Amor atrapalha, atrasa o tempo das coisas que são importantes, ilude o raciocínio e o pior: perverte as verdades que podem ser ditas. Pois também não é o d...

Os tênis do caminho

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Cena do filme Os 3 Os tropeços da caminhada, nas ruas e avenidas sempre tão iguais e poeirentas, são os obstáculos que precisam ser enfrentados para compor, aos poucos se sempre devagar, uma história, uma lembrança, amores, despedidas, encontros, recomeços. Às vezes são tantos tropeços que não tem calçado que resista, olho que não chore diante daquele amor que vai embora após tantas juras e promessas, corpo que chegue limpo ao final de um dia tropeçante. Um lance de escadas Em uma sacada Vários pares de pés Muitas propagandas é o que és! Muitos adidas todos iguais Reles e fúteis, no mais Não passam de meras propagandas Mas a mim não enganam Essas aparências sacanas... De um lado estão marcas, roupas, joias, fotografias. Do outro, estão os sentimentos – feras mutantes que não se aquietam em uma única maneira de ser. No meio, não do caminho, apenas no começo dele, está quem enxerga o chão e o céu, no mais alto grau de incompreensão, saudade, lástima ...

Entrevista com Cássio Cavalcante

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Hoje inicio uma rodada de entrevistas, ao ar sempre às segundas-feiras, em que entrevistarei escritores, políticos e pessoas que desenvolvem trabalhos ligados à ciência e tecnologia ou trabalhos que incentivam a cultura.  Cássio Cavalcante Para inaugurar essa rodada o entrevistado é o jornalista e escritor Cássio Cavalcante, autor de Nara Leão: A Musa dos Trópicos e Sob o Céu de uma Cidade, a ser lançado no próximo 31 de outubro. Cássio Murilo Coelho Cavalcante é jornalista, escritor membro da Academia Recifense de Letras e da União Brasileira dos Escritores, secção pernambucana. Escreveu diversos contos entre 2004 e 2008, todos publicados,  a biografia da Musa da Bossa Nova, Nara Leão: A Musa dos Trópicos (2009), Os Mistérios de cada Um (2007) e, a ser lançado, Sob o Céu de uma Cidade. Além disso, Cavalcante pertence a Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda e é Colaborador do jornal Folha do Estado do Espírito Santo, assina as colunas Bate papo Literal, do Jor...

O amor na madrugada

Todas as noites são existências de um sofrimento inominável que sai de você para mim sempre que seu sorriso quebra a geleira da minha alma. Assim como o calor derrete o gelo da garrafa ao lado do nosso sofá, displicentemente esquecido no começo de nossos devaneios de uma noite quente, o seu sofrimento de uma entrega intensa, duvidosa, é a prova de um grande amor conservado a temperaturas oscilantemente trabalhadas em nossos corpos. Meu grande amor cabe em uma minúscula artéria que imiscui-se a tecidos e vasos e quase se rompe sempre que o seu cheiro faz-se presente ao meu alcance limitado. Meu grande amor pode ser visto em poesias mal feitas escritas em guardanapos roubados das mesas vizinhas, em bares, restaurantes, lanchonetes, lugares comuns. Meu grande amor é triste pelo fim que imagina para si, entre soluços e lágrimas que não se contém no sofrimento mudo de palavras não ditas. É triste pela vida que acontece e que pode, repentinamente, acabar com uma pequena palavra dita. D...

SNCT - CIENART

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A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – SNCT – começou em todo o país. Em Sergipe, um dos principais eventos dessa Semana é a Feira Estadual de Ciência, Tecnologia e Arte de Sergipe – CIENART – que ocorrerá no Iate Clube de Aracaju no próximo dia 25 de outubro. Logo da CIENART A CIENART contará com a participação de professores e alunos de escolas públicas (municipal, estadual e federal) e privadas nas modalidades Trabalho Escolar, Iniciação Científica (PIBIC Jr) e Artística. Durante a Feira os discentes e docentes têm seus trabalhos reconhecidos e premiados, por categoria e modalidade. Desse modo, incentivam-se os professores a inovar em suas respectivas escolas, procurando melhorar o processo ensino-aprendizagem e aperfeiçoando técnicas já implantadas em salas de aula. Juntando ciência, arte e tecnologia é possível obter resultados surpreendentes e inovadores, que podem ser aplicados na própria escola e na comunidade próxima. Assim, após ter uma semana inteira ...

Um quase estado

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Fim de tarde em Palmeira dos Índios - AL Perdem o dia com o trabalho que paga a conta de água, energia, telefone. Perdem a noite pensando nos problemas que geram o dinheiro que garante a iluminação pública, a novela, a cama nem sempre tão confortável. Entre perdas diárias e perdas noturnas o entardecer vai se achegando à noite, misturando o azul do céu profundo com o escuro que torna brilhante as estrelas do céu, energia muitas vezes dissipada milhões de anos atrás e que só agora chega à visibilidade terrena. Nesses momentos de tênue estar, é fácil perceber que a tristeza do Pequeno Príncipe é tão cortante, tão íntima de quem lê as grandiosas páginas como a roupa que cobre o corpo cansado dessa corrida por dinheiro. Em muitos lugares, enquanto tantos perdem, principalmente o tempo, outros poucos presenciam o exato momento descrito pelo Pequeno Príncipe. E nem percebem. Também se percebe poucas coisas, fazem o que realmente querem e são pouco felizes. É fácil ser triste e infe...

Primeiros Parques

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A temporada dos parques de diversão está aberta e os mais diferentes tipos de parques já começaram a se instalar nas cidades. O tocante, constrangedor, é a divisão que os proprietários dos estabelecimentos móveis de diversão fazem quando decidem ir para essa ou aquela cidade. Para uma cidade, vai um parque totalmente sucateado, inseguro, alicerçado no improviso. Para outra, vai o irrepreensível empreendimento em que os preços podem ser altos, já que valerá a pena pagar o preço. As cidades já têm seu trânsito alterado e luzes complementando a noite, seja no interior ou na capital. Para exemplificar essa discrepância visível tem-se o primeiro parque de diversão que chegou a Palmeira dos Índios – AL. A imagem mostra tudo o que milhares de palavras é quase capaz de expressar. Na outra, Aracaju-SE, no estacionamento do Shopping Jardins, outro diferente e mais requintado parque expõe as primeiras luzes do Natal próximo. A imagem igualmente traduz. Para os consumidores resta o bom ...

Cidade do Amor

A cidade do Amor representa muito bem seus cidadãos quando faz amor nas ruas, um amor sem sexo, atraente, mutante, fascinante, brilhante. Um amor que rompe com as dualidades dos momentos pequenos e estabelece outras tantas maneiras de expressar-se. Nessa cidade onde nem tudo é vida, tampouco a morte faz-se presente na constância dos anos, o amor passa sorrateiramente entre as pessoas e aloja-se em um coração e outro, numa boca e outra, num olho e numa flor. Cidade de outros demasiados desamores, o amor rege a orquestra dos tempos idos esquecendo-se das lembranças. Nessa cidade cada qual não tem seu palmo de chão no cemitério municipal, está cheio de amores mortos – amantes que dormiram sem saciar todo o ardor de uma desmedida paixão. A cada dia quente de muito suor é uma nova oportunidade de largar-se ao mundano amor dos corpos. Nas noites ventiladas, o amor faz-se santo nas camas de grama e colchão. Na cidade do amor, os amores são vapores inebriantes.

O que não aconteceu

De repente as palavras deveriam ter sido ditas, moldadas, espelhadas em remorsos pretéritos. Nada aconteceu. Nada foi formulado. Nada. Passaram-se os dias, os casos não confirmados. E quantos amores ficaram no caminho apenas por que a falta de coragem restringiu o acesso àquelas falas essenciais para o início de uma grande aventura amorosa? Perdidas também são as flores que nunca serão dadas e já apodrecem. Iludidos são os sonhos vivenciados no dia intenso. Violentas são as maneiras de vender beijos sem notas fiscais. Destruídos foram os sorrisos que não aconteceram. E de uma morte triste que já se fez morta.

Luares para o Amor não naufragar

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Os autores alagoanos, de prosa e poesia, parece, enfrentam certa barreira em divulgar seus trabalhos para o interior do Estado. Seria, talvez, o naufrágio de sua obra no mar da não valorização da cultura produzida na Terra dos Marechais. Naufrágio desnecessário que priva o próprio povo de conhecer as belezas do próprio Estado. Entretanto, quando alguns autores aparecem, já com a bagagem de uma vida de escritor, é possível notar o quão rico é o Alagoas. E de naufrágios e sucessos, o Estado tem lá suas poesias e prosas que realmente representam o povo e a localidade. E como não só de desilusões vive o homem, as alegrias são também contadas pelas poetisas e poetas desse Estado mundo a fora. Capa da obra Exemplo da genuína expressão da poesia alagoana, nesses tempos vividos, tem a poesia de Luares para o Amor não naufragar, de Arriete Vilela.  Uma obra que não se lê rapidamente, não porque seja poesia, mas pela forma muito particular que foi produzida, onde é quase possível p...

Bienal do Livro de Alagoas

A Bienal do Livro de Alagoas está para começar, após alguns outros eventos como a Bienal do Livro de Pernambuco e a Festa Literária de Marechal Deodoro, e o Estado parece não ter percebido, ainda, que a Bienal é realizada para si e não apenas para os visitantes vindos dos outros Estados. O evento deve ser encarado como cartão de visitas para os estudantes que estão no ensino básico e tendo os primeiros contatos com a cultura de leitura do livro; como base para conhecer novos autores para os já amantes do livro e como ferramenta de troca de conhecimentos e experiências para os novos autores locais. A Bienal do Livro de Alagoas deve representar a cultura local e a diversidade criativa, agregando ao evento o diferencial que o Estado possui como produtor de cultura. E, para isso, deve ser um evento de todos os brasileiros ou não, Alagoanos ou não, e que abranja todas as classes sociais permitindo que a cultura e o desejo pela leitura sejam hábitos constantes. Desse modo existirá o mo...

Avenida

Caminhar durante a noite em Palmeira dos Índios é uma tarefa muito interessante, se o caminhante não tiver muita coisa a esconder. E segredos nada ocultos são o que torna o passeio interessante. Em uma das artérias da cidade quase histórica, dados os eventos de corrupção e de divertimento da história geral, é possível perceber como antigas maneiras de pensar e “educar” as filhas ainda prevalecem na comunidade nada indígena – como sugere o nome do município. A avenida que leva o nome do Estado é longa o suficiente para que o caminho da escola seja reformulado e finalizado em uma cama ou em um bar, ou em uma esquina escura, ou em qualquer outro lugar muitíssimo diferente do destino final e onde é possível libertar todo o hormônio acumulado nos anos de reclusão. Então, como se fosse normal esperar a filha voltar da escola às 22h, ficam mães e irmãos a esperar a pobre donzela que volta indefesa para o seio do aparente carinhoso lar. Os anos em que a educação rígida em que a aproximaç...

Eleições 2014

Marina Silva, sem partido próprio – o Rede Sustentabilidade empacou no número de assinaturas reconhecidas pelos cartórios. Eduardo Campos, o Governador queridinho de Pernambuco, agora tem mais eleitores. Será? As eleições de 2014 para o Palácio do Planalto e para o Palácio República dos Palmares, sede do governo alagoano, prometem muito disse-me-disse por tantos motivos quanto as estrelas do céu. Para o planalto central, a ex-Senadora e o atual Governador prometem ser uma dupla que fará forte oposição ao Governo vigente, principalmente por que os dois candidatos, apesar de fortes independentes, estão unidos em uma única chapa o que fará que os votos se somem provocando uma corrida mais que séria pela faixa de Presidente da República. Ao que parece, a bandeira da sustentabilidade e a de desenvolvimento para um país mais justo e equilibrado provocará uma onda de exibicionismo do atual Governo e um tsunami de defeitos, como é o normal em todas as eleições. Desta vez, porém, a Situaç...

Detalhes de crendice/invencionice

A crendice do povo torna-se muito divertida, em algumas ocasiões. Peculiar em outras. Preconceituosa de vez em quando. Mas sempre cômica quando se trata de ideias perpetuadas pela crendice. E em Alagoas, no interior principalmente, não seria diferente. Outro dia estava viajando pelo interior, protegido do calor por um quase impotente condicionador de ar, tentando viver enquanto o automóvel caia em inúmeros buracos em alguns trechos quando, em uma cidade não muito grande, apareceu a crendice, mais uma vez, sob a forma inusitada de crucifixos acima das portas, ou pintados nela. Imagine uma cidade cheia de crucifixos nas portas ou acima delas, sem razões aparentes. É estranhamente peculiar. É de se crer a comunidade local é de uma fé muito fervorosa, ou de um temor tremendo Daquele que a todos pode exterminar. Ainda mais, é um pouco mórbido ter sobre a cabeça o símbolo, entre outras coisas, da morte perpétua. Fiquei a criar, então, as mais inusitadas situações em que os locais ser...

Na mesorregião

As ruas das cidades da mesorregião de Alagoas são repletas de milhares de acontecimentos que dão muita consoante para poucas palavras e que, se deixar, acabam fazendo a festa dos desocupados de plantão nas noites quente-fria dessas localidades. É possível, em uma cidade, ter a cômica invasão de grilos. São tantos que postos de saúde e escolas são fechados por causa dos ilustres visitantes. O abastecimento de água, nas residências, também é prejudicado: é muito grilo morrendo afogado em cisternas e cacimbas. Em outra, a monotonia é capaz de levar os munícipes ao tédio generalizado que faz assistir televisão em um domingo à noite. Noutra, a normalidade segue seu rumo funéreo. E de grilo em morte, os alagoanos da mesorregião do estado vão seguindo seu destino sem se preocupar em fazer algo de bom e de inovador em suas próprias vidas. O que se tem de interessante nessa região é a capacidade de se divertir com o que se tem, ou não; com as pragas que se proliferam e com a incapacidad...

Almoçando com Nery na casa do Moreira

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foto: blog do Carlito Lima Fui almoçar, depois da IV FLIMAR, e a inquietação dos livros levou-me ao Almoçando com Nery na casa do Moreira, de Carlito Lima. E, de repente, era história de Penedo aqui, de Marechal Deodoro ali; uma infinidade de histórias do velho capita. Carlito Lima retrata o cotidiano de maneira leve e divertida, muito parecida com uma roda de amigos em que as experiências fazem de um simples almoço um evento digno de livro. Quem foi à IV FLIMAR teve a oportunidade de adquirir, gratuitamente da mão do autor ou comprada na livraria próxima, a obra capaz de tornar o almoço de qualquer casa uma festa. Na obra, Lima conta como a vida é divertida sem deixar de mostrar, em um plano de fundo sutil, como a política e a cultura alagoana fazem do tempo um elemento essencial para uma boa anedota, um dos passatempos preferidos dos alagoanos. Quem não conhece a primeira Capital de Alagoas, ou a atual, ou as cidades históricas pode optar por levar Carlito Lima para casa...