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Mostrando postagens de maio, 2013

Mundo oceânico

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O mar em abstrato de Ana Paula L. O mundo é um oceano com águas espumantes, de um sal libertador, inebriante, que traz à tona a razão e o amor, o próprio, o egoísta, aquele que nos move a ir a diversões individualistas, a gostar de estar só, lendo um livro. Nesse oceano, cabem corações, cabem caixas, cabem satisfações, cabem noites em claro. Cabe você em resumo e em expansão. Partículas de água que trazem a emocionante racionalidade do não-cometimento de velhos erros, antigas mancadas que aconteceram na busca pelo acerto, por não fazer outrem sofrer ou chorar, por não querer partir, precisando estar longe – na pior distância: a emocional. A água, salgada, que banha o corpo também é a mesma que tem estrelas que encantam as que brilham, é o fluido que corre entre veias e escapa nos olhos. Água salgada que leva para longe a tristeza e deixa, lavada, a lembrança mais bonita, a foto mais ímpar de duas faces, dois lugares, dois mundos. Na seguridade da areia, onde todos ficam, ...

Ainda é possível

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Às vezes, é possível que exista uma letra de música que martela na cabeça durante a noite, ou um poema que surge com rosto definido. É possível que apareça olhos sorridentes entre vírgulas e pontos, letras e rimas, acordes e melodias. É possível que esteja partido o sentido íntimo que faz surgir tais coisas, sem restar nada além de pedaços, folhas rasgadas, cores desbotadas. E esse é um estado em que ocorre o verdadeiro autoconhecimento, aquele que faz você não chorar por mágoas passadas, mas entende-las e cuidar das suas próprias feridas como um animal inocentemente agredido por facínoras. É nesse estado que ódios oriundos de amores são extintos, que a poesia deixa de ser melancólica e o ar mais leve. Nesse espaço em que só cabe um, você mesmo, o mundo começa a sua longa e demorada reconstrução, mais experiente, mais vivo, mais limpo. E quando a face há muito conhecido atravessa o tempo e ultrapassa seu querer, surge uma nova arte: a de gostar sem a passionalidade do amor-ódio de...

Desprezo em arquivo

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Então a noite entra pelo relógio adentro e o calendário muda a folha do dia. Algumas coisas aparecem e outras desaparecem. Outras, ainda, nem somem. Só crescem. Uma delas, sem esforço, é o desprezo. Uma indiferença tão grande que rompe a linha entre o ontem e o hoje, do amor e do ódio, do caso e do acaso. Um desprezo que emana de todos os poros e embebeda o ser desprezado. Faz esquecer que existe desprezo e liberta o corpo e a mente. O ser desprezado, inocente, não sabe o quanto mal corre respirando, ou se aproximando. Desprezo é arte. É estarrecedor. É docilmente cruel. É ridículo. É recompensador. Assim, entre os amores que a vida traz de presente, o desprezo que se cultiva no lado esquerdo do peito é a expressão mais clara da oposição insana que é a falta de amor próprio que os poetas chamam vulgarmente de paixão, ou mais feio ainda de amor. Os números digitais do relógio evidencia a frieza guardada, o ócio do ódio, a raiva fermentada e destilada em uma mente que dorm...

Uma escultura, um cuidador/guardião e um tentador

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Toda escultura precisa ser cuidada por um artista, independente do tipo de trabalho que este faz. Precisa ter seus desejos, inclusive os inenarráveis, satisfeitos. Precisa ser satisfeita de tantos modos e por tantas maneiras diferentes que apenas os que realmente conhecem, por hereditariedade, a matéria pela qual foi feita a inigualável escultura é que pode realizar proezas colossais em nome da satisfação pessoal e íntima de determinadas obras primas. Em verdade, são fáceis de serem agradadas, mas somente poucos têm a capacidade de fazer verdadeiras artes em cima da criação, tornando-a, em muitos casos, em nova e melhorada obra de um terceiro artista, o cuidador. O ato de cuidar, satisfazer, despertar os instintos e a curiosidade não é exatamente um dom que pode ser dito como popular, pois nem todos os que desejam possuem, naturalmente, os elementos necessários à satisfação, ao cuidado, ao despertar instintivo e à curiosidade de majestosas criações. Entretanto, há alguns que t...

O reinado do Atual e do Ex

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Arte: Sunrise, George Inness, 1887. Metmuseum Atual e Ex são duas espécies que são, por ordem das convenções sociais, arqui-inimigos ferrenhos que estabelecem, na pirâmide social, o papel excêntrico de inimigos que se amam e que têm em comum um objeto de consumo: as lembranças, as brigas e os segredos públicos entre dois indivíduos, que, sem muito esforço, se tornaram três (ou quatro, depende muito das circunstâncias). São seres que desempenham a nobre arte do ciclo vicioso de falar mal, intrigar e reconciliar. Ciclo sem fim que só se acalma com o correr do tempo e das novas armações da vida. O Atual é o calor recente da sacanagem que escorre entre peitos, pernas, bocas e estradas durante uma parte relativamente curta da vida do ser em questão. O Ex é o calor que aquece mesmo durante o reinado do Atual e que durará para sempre, mesmo que ninguém considere aceitável. Dos triângulos, quartetos, que se formarem durante a vida, a graça não está no fim, tampouco no começo, mas na ...

O homem nas fibras

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A computação, lá em suas origens, não era um computador, nem tinha um compilador para mostrar o quão errado era a lógica desenvolvida para mostrar uma matriz.  No passado, o ato de computar era bem mais fácil e simples (talvez) e bem mais proveitoso, uma vez que mostrava o quão bom era calcular. Mas, de repente, o homem ganhou as asas da imaginação e começou a inventar, a complicar os métodos para simplificar as ações cotidianas e uma parcela colossal da humanidade não sabe exatamente como funciona a tecnologia e de como é intenso o processo de concepção das facilidades disponíveis no mercado. E, por outro lado, computação, na simplicidade dos cálculos e da vivificação de materiais inanimados, é a tradução do poder de criação do homem em uma linguagem capaz de estabelecer a diferença entre usuários e criadores, com uma criatura extremamente depende de energia e hardware entre os dois. Longe das origens, a computação corrói os neurônios de desenvolvedores – amantes da a...

Um poema despretensioso

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Arte: Winter Trees, Reflected in a Pond, William Henry Fox Talbot. Met. Vermelho, Verde, Azul Vermelho O batom desnecessário da sua boca Os lábios que ornam um belíssimo rosto Os olhos que iram-se e choram As Lágrimas que não eclodem A paixão incontida A incontinência do tempo Azul, Verde, Vermelho Verde Que não são dos olhos teus - e que bom que não são teus olhos verdes A grama que chama-nos ao sono ou à carícia O carinho que nos adormece A dormência do prazer O gozo da felicidade Verde, Azul, Vermelho Azul Do seu Céu Da sua íntima roupa Dos fios do seu pudor Despudorada inteligência Azul sem tom Tom sem Jobim Vermelho, Azul, Verde Cada cor em sua pele A cútis de agrado aos olhos Os olhos que sorriem Aluz dos olhos A janela do Arco Ora íris, ora Ília

Vem São João, vão-se os turistas

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Obra de Antônio Fernandes A maior festa do nordeste, a festa junina, aproxima-se a passos largos e com a vontade de sempre e de todos os nordestinos de fazer o corpo suar, ainda que a temperatura esteja baixa. E vem com todo o forró, alegria e animação de sempre, embora cada festa seja única e inalienável – nem mesmo a televisão é capaz de deter os nordestinos durantes essas comemorações. No entanto, é preciso notar que o sucesso popular dos festejos juninos tem sido comprometido pela falta de atenção e descaso de algumas prefeituras que tornam as festas meras elementos cotidianos em que a banalidade destrói todo o charme do forró e da tipicidade desses festejos. Sem muito esforço, é possível perceber que a falta de infraestrutura de transportes, hospedagem e a duvidável qualidade das atrações não só espantam turistas do município como também faz com que os próprios munícipes procurem alternativas em outras cidades. O resultado imediato é o pouco aproveitamento turístic...

A triste mania de diminuir o sexo feminino

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Obra de Milo Manara O mal do mundo pode ser a violência, ou as moléstias. No entanto, o mal do mal do mundo é o achismo preconceituoso das pessoas, principalmente no que se refere à sexualidade alheia. Não raro, houve-se pessoas apontando o dedo indicador na direção de uma mulher, uma vez que são as principais vítimas e algozes – simultaneamente -, de modo que o objeto das interjeições e fofocas seja justamente o fato de aquela mulher tratar-se dignimamente, seja no âmbito de sua sexualidade ou de seu profissionalismo. Poucos gostam de pessoas que se tratam bem, que sabem seu valor e seu lugar no mundo. Para muitos, a mulher precisa ser ignorante, apesar dos avanços conquistados, e deve demonstrar sua submissão, inclusive sexualmente. Pura mediocridade de pensamento. As formas de tentativa de minimizar a mulher pelo simples fato desta ser ou não virgem antes do casamento demonstra apenas o nível de pensamento arcaico e extremamente medroso da sociedade, de modo que quan...

O repente da volta ao simples

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Foto de Clement Mesnier De repente, sem surpresas, os anos acabam passando como a velocidade no amanhecer e todos têm histórias para contar e casos para relembrar. No meio do repentino, nada daquilo que passou tem importância, nem gosto, nem animação. Apenas o que ficou entre risos e apelidos tem sentido para uns tantos que acabaram construindo uma vida paralela em suas obrigações diárias. Entre casos sem importâncias e amores sem grandes feitos, todos são um corpo cuja massa espalha-se entre cidades e lugares distantes e que, não sem esforço, se junta vez ou outra para recriar-se sob novas perspectivas e novas formas de eternas ousadias. De repente são crianças que vão crescendo e fazendo aquilo que gostam, sem os empecilhos de quem cresceu com a ordem da infelicidade e dos dramas sociais injustos. De repente, o repente toca em cada um com seus acordes e acorda para todos os velhos hábitos. E, como todo ato repentino, a massa separa-se para resolver seus detalhes de so...

A quarta praga do Egito em Palmeira dos Índios

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Praga de moscas Ao que parece, a Princesa do Sertão alagoano, Palmeira dos Índios, tem vivido uma das pragas egípcias. Sim, uma praga que foi jogada no antigo Egito tem assolado toda a cidade nos últimos dias. Talvez os pecados dos santos que moram nessa cidade histórica tenham levantado a ira de algum deus ou a falta de limpeza tenha fomentado a proliferação das moscas em todas as casas, instituições de ensino e no decadente hospital municipal. No Egito antigo, segundo o livro de Êxodo, a invasão das moscas foi a quarta praga a atacar o território de Isis. Na também conhecida cidade do amor, excluindo as dezenas de autoproclamados santos – só por que frequentam alguma igreja -, a politicagem e o comodismo, as moscas ocupam lugar de destaque no ranking das pragas mais faladas, ganhando até da violência. E se nem todo e qualquer produto de limpeza é capaz de sanar esse mal, espera-se que a chuva, ainda que no fim de tarde, lave as ruas da cidade e leve as moscas para lon...

A Realidade nua na ladeira

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Serra do Goití - Palmeira dos Índios - AL A vida é uma ladeira! Ladeira que nem sempre é tão íngreme como muitos gostariam, nem tão leve como deveria ser para acomodar-nos entre cobertas e vícios – muito embora cultivemos alguns – e deixar os sonhos levar-nos entre desafios e dores. E dessa ladeira tão estranha e intrincada, trincada pelas manias de reclamações, todos vão subindo a tal da ladeira. É preciso esforço para subir e aproveitar a vista, a brisa – ou as rajadas de vento -, os casos de amor e as reviravoltas do meio do caminho. E nesse caminho sempre tão intenso, há quem se torne cansativo pelos hábitos de falar do trabalho e nele esconder-se da realidade, sempre nua a buscar um parceiro para as saídas noturnas. Há quem não veja mais que a feiura do lixo que o serviço público não recolhe. Há quem não exista sem uma companhia. Há quem não esteja se importando com nada além de estar bem. Há quem procure entre brigas onde não existe nada além do nada. E todos s...