Dia 03

Estamos vivendo em fatias, esperando.
Já esperamos tanto que nem nos lembramos mais o que estávamos esperando. Só continuamos por hábito, triste costume.
Agora que passou o Carnaval passamos para o estado de inércia, uma espera que parece que se renova a cada dia.
Ali na frente, mais cedo, o homem, bêbado, derrubou a mulher da cadeira propositadamente e começou uma guerra de agressões físicas e desculpas, nem sempre da parte ofendida. Nada novo depois de duas cervejas e um feriadão.
Eles, o casal, esperam.
Do lado, mais perto, a grávida espera o marido, ouvindo o terço das 18h e, parecendo uma dramaturgia realística inspirada na sétima arte, o marido sempre grita pedindo avisando que chegou e ela joga a chave. Parece uma cena de A Vida é Bela, aquele filme emocionante.
Eles, o jovem casal que ainda não foi destruído pela rotina, esperam.
Embaixo, os jovens saem em suas descobertas, deixando a solidão de vidas escravizadas pelo comodismo e pela idolatria a homens. Embaixo, eles esperam.
Esperar.
Parede que é tudo o que fazemos.
E se não acreditarmos em nossa inquietude, é só o que somos.
Esperar, até quando? 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá