A morte e a morte pelo caminhão


Nada precisa ser do jeito que deve ser, mas do modo que tem que ser. E, nessa busca incessante por algo que se quer muito, podemos acabar caindo no abismo do ostracismo medíocre que nos acompanha sempre que tentamos buscar aquilo que é inatingível, ou não, e que custa caro, em determinadas ocasiões. Agravando tudo isso, ainda tem a morte.
Morte de Zeca Urubu em PIn
Ah, a morte!
Quantas são as maneiras e as vezes repetidas em que esta senhora pega  a mão de um ou outro e arrasta-os para o fundo: do poço, do caso, do acaso, dos fatos, dos dias, das alegrias, dos idiomas e transcende qualquer explicação e qualquer estímulo ao desejo. A morte, quando chega de repente, junto com um caminhão sem governo firme, de história trágica, ceifa um sonho? Destrói um momento? Termina uma vida?
Depende.
Se o objeto de desejo, talvez um carro, uma casa, um lugar, um alguém um elemento invisível – embora tangível -, tiver sido alcançado, mesmo não tendo sido aproveitado em toda a sua plenitude, então tudo terá valido à pena. As causas realizadas por um verdadeiro querer, uma verdadeira vontade, ainda que incompreensíveis, são de um tamanho inimaginável.
E se for um caminhão que percorra o pescoço, que separe o cérebro dos escravos membros, qual o problema?
Não existe, na prática, uma morte digna, pois toda morte – por melhor que possa parecer – é sempre indigna ao mundo e a tudo o que ele pode oferecer. Não manda recado, não pede para mandarem lembranças, não está disposta a deixar para lá o que tem para fazer hoje, agora, e sempre dispensa os requintes detalhistas quando é preciso recolher, ao inferno ou ao céu, uma alma qualquer. E se a morte é assim, por que nós, viventes, também somos?
Deveríamos, regra com dispensa de exceção, deixar para o lado tudo aquilo que faz do objeto de desejo inatingível e expulsar, do meio e de dentro, os princípios que tornam fechados os frutos do trabalho ou da boa e velha preguiça.
De uma forma ou de outra, o ostracismo que pode nos rodear é sempre o tirano que invade a vida e não responde as perguntas com o medo de receber a resposta com as letras vermelhas da sinceridade obstinada de um sangue escorrendo em uma rua qualquer de cidade do interior.

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