Esse negro capitão-do-mato
![]() |
Foto: Military Flail. Met. |
O Negro foi estrategicamente dividido entre preto e pardo (de várias tonalidades) como forma de dividir um povo já enfraquecido pela fome, pela violência - física, moral, econômica e psicológica-, pela inacessibilidade à vida digna e pela total falta de tudo o que poderia humanizá-lo. O negro, totalmente sem valor pela elite brasileira e pelo seu braço social - a classe média -, continua sendo o atendente do posto de combustíveis, a faxineira, o trabalhador da coleta de resíduos urbanos, o porteiro... para essa gente branca detentora do Estado, do poder econômico e de um prestígio social autocriado para autossatisfação, o negro continua sendo o escravo sem alma, sem opinião e sem vontades, que merece apenas comer o básico para ter força para os trabalhos pesados e para a procriação, como se animais não humanos fossem.
Para minimizar a as críticas dos pares, criou o Dia da Consciência Negra. Veja que até nisso o racismo se mantém - a consciência, esse conceito abstrato, foi colorido de negro para diferenciar a Consciência Branca escravagista, elitista, opressora, cruel, desumana. O negro, depois de várias gerações sob a égide do chicote, agora - nem sempre - invisível, defende a religião dessa elite - o cristianismo e suas várias facções - e defende os escravagistas - que ora se costuma chamar de "patrão", "dono do negócio" - depois de uma tentativa nem tão fracassada de transformar a mentalidade do negro sob a coação de "postura/pensamento de dono do negócio".
O negro, que recebeu o favor - depois de muita luta e carnificina, de frequentar uma universidade pública, com bolsas sociais baixíssimas e sempre cercadas de processos seletivos cheios de humilhações, acredita que está assegurado nesse ambiente racista e classista. Uma ilusão que embaça o pensamento crítico desses negros e os impede de revoltar-se contra esse sistema de classes que é construído e rotineiramente remodelado para fazê-lo ser sempre o escravo - agora com um pouco, mas só um pouco, de educação formal.
Se esse negro olhar para o lado verá os seus pares sendo mortos em chacinas à luz do dia, em câmeras de gás improvisadas em viaturas estatais; corpos negros que são empilhados no meio da rua, em favelas, barros pobres; verá os seus sendo humilhados no ambiente universitário - público e particular; verá os seus passando fome; verá os seus nus e sem-teto; verá os seus sendo assassinados por professarem uma fé diferente da facção cristã; verá espaços queimados; verá que o corpo do negro, independente da tonalidade que lhes imponham, sendo escravizado sob novas e estrangeiras palavras.
Nem todo negro foi cooptado. Mas os que foram, defendem seus senhores servilmente, sem pensar, sem criticar, apenas aceitando as migalhas que lhe dão, como se isso foi o "máximo". Esses negros, arremedos de capitães-do-mato, estão por aí, submetendo seus corpos aos vícios químicos e sexuais dos brancos, rezando para um falso deus, entregando seus irmãos de cor às milícias e acreditando que esse é o dever cívico de um bom cidadão. Esse negro jamais entenderá que ele não é diferente do mendigo, do viciado em álcool e drogas, do corpo prostituído em ruas e avenidas depois das 22h, do varredor de rua, do atendente de farmácia, do frentista - por mais que os brancos tenham lhe permitido um diploma universitário emitido na vergonha elitista e só depois de todos os seus filhos serem laureados e aplaudidos.
A consciência, colorida pelo colonizador e sua descendência elitista, agora é negra - como tudo o que foi marginalizado pela cor desde que esse imenso Brasil se formou.
Parece que a elite tem consciência de si e do que quer para o negro. E este, embrutecido pela forma escravocrata de viver e de se submeter, esqueceu quem é, de onde veio e o que pode fazer.
Comentários
Postar um comentário
Após análise, seu comentário poderá ser postado!