Da inanição de afeto

Arte: Stole. first quarter 19th century. Met.

 

Não é que perdemos o jeito de dar, receber e cultivar afeto.

Simplesmente não sabemos mais - se é que algum dia, de fato, tivemos a chance de estar em estado de afeto.

Antes teve aquela época em que pessoas muito violentadas, física e/ou psicologicamente, criam em um pseudo afeto por meio das redes sociais. Depois, ou conjuntamente, passamos a publicar certas demonstrações de afeto.

Agora, contaminados pela falsa ilusão promovida pelas redes sociais, estamos armados contra o que chamamos de afeto. 

Ao menor sinal, sumimos.

À menor gentileza ou cortesia, desafiamos a um sanguinário duelo quem ousa ser gentil ou cortês na vida real - não dá tempo para fotografar e postar. 

O afeto tornou-se um dos demônios católicos que assedia sem provocação. E seguimos um caminho pedregoso e espinhento que a nada e a ninguém protege. 

Estamos áridos, morrendo por dentro, sem sangramentos, sem feridas expostas, sem marcas visíveis. Estamos morrendo vítimas de uma fome que nunca cessa em virtude da nossa inaptidão em produzir e consumir afeto.

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