Toda água do céu

Não foi repentinamente.
Foi aos poucos. Um incômodo aqui, uma palavra deslocada ali, uma falta de expressão na foto, outra ausência na agenda. 
Foi nos detalhes e no todo da rotina que se foi mudando e desconstruindo.
Um dia sem sal na Semana. Depois uma semana desgostosa no mês. Seguiu-se um mês no ano de destemperos.
Foi assim, com anúncios sem alardes, que foi se fazendo a mudança.
Dia desses, as nuvens chegaram com o peso do casal do Dendê. Uns correram para desligar os aparelhos elétricos enquanto outros cobriam os espelhos. Uma correria esperando toda a água do céu despencar.
Foi isso. 
Desse jeito.
E a água despencou. 
E o que ficou depois de tudo nem foram os escombros. Foi só a preguiça de recomeçar em meio à beira. 
Tem gente que é só a beira mesmo - como disse o poeta - só a beira do mar.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá