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Mostrando postagens de março, 2017

O lastimável estado das escolas de Palmeira dos Índios

A situação da educação em Palmeira dos Índios é deplorável e não é um quadro novo. Enquanto os vereadores reúnem-se em assembleia, com ar-condicionado e água, café e lanches, e os secretários e prefeito e vice-prefeito lidam com “urgências” municipais, crianças e adolescentes estão sendo fritos em salas de aula e bibliotecas que mais parecem saunas – com um teto baixo e usando telhas da marca Brasilit, produzidas com amianto – todos os dias. Aliado ao calor insuportável tem-se a falta de água potável para os estudantes e a falta de merenda escolar. Para a zona rural ainda existe o problema das péssimas condições de acesso às escolas. Temos, agora, o problema de falta de água e que não justifica que a prefeitura e a secretaria de educação deixem crianças à mercê de doenças transmitidas por água contaminada – uma vez que é comum saciar a sede das crianças com água salobra – ou deixa-las simplesmente sedentas. Não há justificativa para deixar os estudantes sem merenda. O governo mun...

A lamentável situação da EM Mary Sampaio Caparica

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Foto: Biblioteca da EM Mary Sampaio Caparica. Rafael Rodrigo Marajá. Mar/2017. Tive a oportunidade de visitar a Escola Municipal Mary Sampaio Caparica, nesta terça-feira, 28, juntamente com uma comitiva formada por integrantes da sociedade civil organizada de São Paulo e Palmeira dos Índios e de um engenheiro civil mexicano e de um observador dos Estados Unidos. Ficamos impressionados com a delicadeza da gestão escolar em oferecer, com eficiência, uma educação inclusiva para crianças com necessidades especiais e com a organização do ambiente escolar, mesmo em meio a tantas dificuldades. Entretanto, um dos problemas mais marcantes é a falta de água potável e a Biblioteca da escola – não que os poucos livros sejam um problema; o problema real é o teto baixo, com telha de amianto, que torna o recinto impróprio para uso. A biblioteca precisa de livros e de uma “reforma” que propicie um teto decente para que as crianças não enfrentem o calor infernal e insuportável que faz no reci...

23:15 - Varrendo a Solidão*

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Obra: Susan Walker Morse (The Muse). Samuel F. B. Morse. 1836-37. A solidão para em frente à cama na tentativa fracassada de acalentar as lágrimas que escorrem de grandes olhos infelizes. Sorri para ela como a oferecer um bem nunca experimentado para nem mesmo receber, em troca, a palavra de repulsa que a fará feliz na madrugada sem amor. Levanta-se e no exercício das piadas seculares faz seu melhor espetáculo sem conseguir, no entanto, um olhar vazio qualquer. Vestida em seus melhores trajes esfarrapados está olhando a falta do sono que atormenta a criatura desolada no leito sem razões que agora resolve estar. Não precisa ler as mãos nem bagunçar a mochila em busca de papéis e restos de melancolia, porque a inexistência faz de tudo um par de falta. Falta o carinho da pessoa certa na rotina sempre mantida pelas atividades da exaustão. Falta o tapa dado na hora da piada gracejada. Falta o ciúme forjado. Falta a falta. Pede para levantar e sair, ver de novo o que precisa par...

23:10 - Pelo ralo*

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Escultura: Aquamanile in the Form of Aristotle and Phyllis. Metmuseum. E tudo vai mal quando vai tudo pelo ralo, deixando sobre o piso restos solúveis. E vai qualquer lembrança boa e de tudo sobra apenas as caixas de maldizer sinceros ou não. Mal vão também as tempestades sem frio, no calor das destruições banais. Ah, essa banalidade inverídica dos amores e paixões presentes e decentes! Quando não mais os ventos trazem as sólidas formas de nada adianta o pesar, ou o pensar, de perdido tempo, ou não. De nada valem as coisas, os planos, os ditos e desditos, os fatos, os segredos, os causos e os abusos. Não vale mais nada a moeda de troca, muitas vezes, desvalorizada, porém única. Já não vale mais o passado, porque as águas de março lavaram o chão e foram para o oceano do esquecimento as marcas dos pés cansadas, calados, imutáveis, sempre em pares. Nos trovões surgiram os ícones ocultos pelo silêncio traiçoeiro e dos raios a luz fez brilhar as imperfeições das paredes. Valh...

Um escândalo de qualidade

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Foto: imagem da internet A bancada do Agronegócio no Congresso Nacional e as empresas responsáveis pelo marketing da agropecuária terão muito trabalho para estancar o mais novo escândalo nacional que emergiu das profundezas da corrupção nesta sexta-feira, 17. A Polícia Federal – PF - deflagrou a Operação Carne Fraca que, em suas primeiras horas, expôs o esquema de corrupção e adulteração de gêneros alimentícios nos principais frigoríficos do Brasil – como JBS e BRF – e que envolve diretamente o atual ministro da justiça e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Nos últimos anos o agronegócio foi responsável por segurar a barrar de uma economia recessiva e manter em alta o que sobrou do bom nome da maior República Federativa do cone sul. Isso até agora. Com a Operação deflagrada PF e autorizada pela 14º Vara da Justiça Federal de Curitiba, o Brasil pode entrar na zona vermelha da comunidade internacional que rejeita nada menos que o mínimo de qualidade em...

Pernas dirigíveis

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Foto: Rua ao lado do mercado público. Palmeira dos Índios - AL. Mar/2017. Rafael Rodrigo Marajá. Ela ama cada um e todos, pagantes ou não por seu amor. E mesmo que não faça muitos esforços, todos  a querem, mesmo algumas mulheres que também gostam do delineado corpo feminino. Quando levantou a cortina e entrou no banheiro para mais um banho preparativo, o celular tocou. O número, conhecido, chamou por um tempo até desistir. No cubículo ela ensaboava o corpo moreno que tantos provaram e que a muitos outros enlouqueciam. Deslizava a esponja pelos braços, pernas e bunda lembrando-se dos elogios da noite passada - Já haviam sido tantos e tão iguais que a monotonia começava-lhe a causar tédio. Ela queria o novo e o ousado; a emoção que faz faltar o ar e que não é conspurcada pelo drama daquilo que chamam amor. Ela queria alguém que arrancasse sua pele com a fome de um macho por uma fêmea, sem cobrar-lhe fidelidade ou amor, mas que, mesmo assim, cuidasse dela com o cuidado que s...

Heloísa Helena não era a desvairada?

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Charge: ocafezinho.com Quando Polícia Federal tinha restrições investigativas e quase não podia desbaratar as quadrilhas instaladas no Congresso Nacional e o Ministério Público Federal era melindrado ante o abuso de poder político dos líderes regionais no Senado e na Câmara dos Deputados, muitas vezes com o apoio do Chefe do Executivo, vozes como a da então senadora Heloísa Helena cortava o quadro de calmaria e de legalidade sobre todos os atos que os eleitos pintavam. Tachavam, não apenas Heloísa Helena como também muitas outras vozes, como louca, descontrolada e incapaz  a voz que denunciava a bandalheira que já drenava a verba pública, causando prejuízos ao erário e danificando, de modo irreparável, a democracia, a honra e a moralidade públicas. Em Alagoas, Heloísa Helena foi a principal voz que se opôs aos canalhas, mesmo sofrendo atentados à sua integridade física e patrimonial. Denunciou atos e citou nomes. E mesmo não vencendo várias eleições subsequentes, jamais m...

23:00 - Filhos do Diabo*

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Quadro: Max Ernst. 1924. Envelhecendo na mesma proporção em que a juventude faz seu melhor retrato na praia poluída de gritos não dados em respeito à boa educação, reprimidos pelo ego alheio, fazem de si a caverna de estratagemas promíscuos que levarão ao fim seus anseios mais baixos. Tornando-se velhos em plena flor etária estão nossos rostos sem bênçãos necessárias. Aparências sem alegrias na chuva ácida do asfalto que buscam em falsas jóias seus problemas resolver sem a palha levantar. E consome-se toda a vida em tragadas fumacentas de drogas inaladas na ilusão de corações quebrados na rebentação de rebolos em motéis de quinta esquina do baixo prostíbulo do qual entrada não é preciso para morrer. Morreram, então, e no abrir dos olhos no paraíso não estavam nem anjos, ou demônios lhes abraçavam, mas o movimento vivificador mostrava-lhes as fases da evolução em arrependimentos, blocos de realidade que fizeram até o mais sacro presente glorificar a verdade de lençóis sujos e...

Espectro do diferente

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Foto: Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá. Mar/2017. Se você analisar bem vai perceber que não existe beleza no mundo. Não existe o charme que almejamos em sonhos e devaneios. A beleza e o charme da paisagem, das pessoas, dos encontros estão nas pessoas, no olhar apurado que seleciona o joio do trigo e separa-os de modo que as imperfeições são sempre postas em segundo plano, evidenciando o que de melhor pode existir em um ínfimo segundo que seja. As mais belas fotografias, os romances mais bem construídos e as pessoas mais divertidas estão no espectro da anormalidade, que faz os normais de plantão, os quadrados por natureza, tremerem de medo ante o belo mundo das descobertas. A beleza é mera criação humana. O diferente é mera classificação de mentes banais. Ouse estar no espectro do diferente e, quem sabe um dia, você estará no apoteótico estado da constante inovação, em meio à produção da beleza e disseminação do novo.

O germe da tragédia

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Foto: Palmeira dos Índios - AL. Mar/2017. Rafael Rodrigo Marajá. Não adianta mudar o canal da televisão quando telejornal começa a reproduzir dramas reais em que pessoas morrem de fome, sede e doenças. Não adianta não comprar o jornal pela simples menção a terrorismos e crueldades com humanos e animais. O mal vai existir e deve ser combatido, debatido e solucionado; e isso só pode acontecer se tivermos a coragem de erguer-nos contra a corrupção material e intelectual e decidirmos - decidirmos- fazer alguma coisa. É por essa covardia em vir  a realidade tal como ela é, nua e crua, que vemos acidentes em estradas - ocasionados por animais soltos -, crianças morrendo de fome e sede em diversos países e, em última análise, é o principal motivo que vemos a proliferação de doenças e ratos a partir do lixo que surge e se multiplica em qualquer terreno baldio e beira de estrada. Animais de grande porte que comem lixo e provocam acidentes automobilísticos, ratos que se proliferam ...

22:47 - Destino escandalizado*

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Quadro: The Lovers, Riza-yi abbasi. Persa, 1565-1565. Não há exatamente uma única forma de manipular o destino a nosso favor: existem várias e de tantos modos que é quase impossível mensurá-las. Entretanto, mais importante que quantificá-las é impô-las ao nosso querer de modo que tudo o que desejarmos seja somente fruto do acaso de nossos desejos. Assim, entre o querer insabido e o desejo saciado é que temos, eu e você, nossos segredos inconfessáveis que tão bem nos caracterizam. Se querer não for o bastante para nós, então é preciso revirar a caixa de pandora e fazer do mundo nosso quintal e do nosso quintal nosso mundinho segredável. Nosso querer é, entre tantos outros, soberano e por ele podemos fazer o que bem quisermos sem culpa e sem medo dos olhares pedantes de outros. Nosso papel, dois em um, é simplesmente escandalizar os outros com nosso jeito particular e pessoal de viver. Nós somos os deuses de nossas próprias decisões e de nosso próprio destino. Minha maneira ...

I will return

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Escultura: Marble Statue Group of the Three Graces. 2nd Century A.D. Roman. Uma vez, em um dia não muito distante, alguém postou o seguinte em sua timeline do facebook: I  will return to the beginning and give new steps, repeating the good, correcting mistakes, falling further into the abyss of intense life. And when, one day again, not the stopping point, but the point reminded of unforgettable moments, then I'll be ready to always want more, towards the infinite.  Now, the pain consumes my joy, revived only when the memory cherishes me and saddens me at the same time.  However, my hope of salvation and redemption is possible in our simplest form of love. Passei um tempo considerável pensando o que o amor, ou aquilo que conhecemos por amor, nos leva a fazer - uns matam outros, outros matam a si e muitos se prendem no limbo que é a procura incessante por uma perfeição ilusória que até as produtoras de filmes estão desconstruindo. Não adianta apenas fala...

A não-mística feira livre

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Foto: Feira livre de Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá. Fev/2017 Os vendedores de beberagens mágicas, os ilusionistas, as dançarinas, os andarilhos, as histórias mirabolantes e os excêntricos desapareceram das feiras livres deixando para trás um vazio impreenchível pela tecnologia dos smartphones. Não é mais possível encontrar ciganas e trambiqueiros.  As feiras livres tornaram-se demasiadamente chatas, sem atrativos místicos e econômicos – um modelo obsoleto que ainda ocupa ruas e tempo da maioria das cidades. Há poucos produtos que ainda podemos comprar somente em uma feira livre – como o pastel e o caldo de cana. As pessoas estão sem a criatividade do vendedor que diverte, vende e cria novas formas de comunicação. Os místicos ambulantes deixaram as ervas, que a tudo curam e para tudo serviam, e abandonaram, de uma vez por todas, os mistérios que os envolviam para seres meros reprodutores de conteúdo da internet – isso quando não desapareceram. O que so...

O mal lar

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Fotografia: Still from an Untitled Film. Cindy Sherman. 1978. Não é raro ouvir, quando não em uma acalorada discussão, um parente, como mãe, pai ou semelhantes, gritar "Vá roubar, dar o cu, se vire" para um filho (ou filha) quando o assunto é meios de sustentar-se financeiramente ou para alcançar um objetivo que depende, senão em sua totalidade, ao menos em parte, de dinheiro. Gritam e gritam e gritam até que, em um belo dia, o filho sai à rua e busca realmente esses meios - roubando, matando e/ou prostituindo a si ou a outrem. Vão presos, experimentam drogas ilícitas e reproduzem o que aprenderam com os pais e na rua. E para completar o quadro dramático que se vê nas portas de delegacias e presídios brasileiros, vemos mães e, raramente, pais lamentando-se, às vezes aos prantos, pelo infortúnio que  vida lhes reservou dando-lhes um filho ou parente degenerado. Chegam até a mencionar que deram tantos conselhos... O que esquecem, e muito convenientemente, é que, dentr...