Nossos bens

Pintura: The Artist and is model. Henri Matisse.

Quando  desci do ônibus, na ladeira da Catedral de Palmeira dos Índios, o motorista - e cobrador - olha para mim e pergunta se a Roberta autorizou que eu e minha companheira de viagem usássemos "passes" de numeração igual. Bom, não sabia quem era Roberta e nem por que ele interpelava-nos com tanto desgosto e fúria se os "passes" foram comprados com o meu dinheiro e, em tese, deles posso dispor da maneira que melhor me aprouver - rasgando-os, comendo-os ou distribuindo-os entre quem e como eu bem entendo.
Desci do veículo, arrastei minha companheira e lá fomos nós, terminar de subir a ladeira - essa ladeiras de Palmeira dos Índios não são para hipertensos!
O motorista-cobrador fez-me refletir sobre como tomamos posse daquilo que não é nosso e fazemos do objeto nossa propriedade particular. Às vezes o objeto é uma pessoa - com uma vida pregressa interessante e perturbadora. Outras vezes tomamos posse do nada, do marasmo, e fazemos dele nosso objetivo de vida.
E ainda tem vezes que nem tomamos posse de nada - tomam pela gente (e aí perdemos completamente o controle de nossa vida, ou pelo menos de nossos bens).
Creio que uma gama de problemas estão fora de nosso controle e querer e outros tantos pertencem-nos por natureza, como o direito à vida. As pessoas nunca nos pertencem - apenas passam por nossa vida e deixam alguma coisa boa, outra coisa ruim, com muita sorte e polimento, quem sabe, algum aprendizado.
Refleti um bocado. Ruminei um tantão e acabei concluindo que se dependêssemos dos outros seríamos mendigos em nosso próprio reino, implorando pelo nosso próprio ouro; seríamos ostras com pérolas roubadas. 

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