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Mostrando postagens de maio, 2016

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Pintura: Mada Primavesi. Gustav Klimt. 1912. Não é preciso esconder-se Em sorrisos escancarados Nos lenços alheios No chão escavado Em conversas velhas E nas músicas repetidas Tampouco no pouco Que ainda resta De tantos prazeres Grandes e pequenos Ignorantes e felizes Sonhos feitos Nada disso é preciso Para deixar de flutuar Nos braços queridos Um dia amados É querido apenas Que no parar de gostar O beijo esclareça O que a boca insiste em calar. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Cine Brasil: Tenda dos Milagres

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O Brasil pode ser representado muito bem por suas produções cinematográficas. Hoje eu indico o filme Tenda dos Milagres, baseado na obra homônima do escritor baiano Jorge Amado, de 1977.  Tenda dos Milagres levanta questionamentos sociológicos e antropológicos sobre a mestiçagem brasileira e a extensão das religiões de matriz africanas que estão, em maior e menor grau, em todas a famílias brasileiras e influenciando as mais diversas profissões. Com direção e roteiro de Nelson Pereira dos Santos e diálogos riquíssimos, Tenda dos Milagres é uma verdadeira pérola do cinema nacional e que deveria ser assistido por todos aqueles que dizem não haver, na cinematografia nacional, bons filmes. Bom filme e boas reflexões!

A tocha em Alagoas

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O percurso da tocha olímpica em Alagoas ressalta um fato muito importante e que se reflete nas ações do Governo do Estado - o sertão do estado é sempre esquecido. A tocha passará por Murici, reduto eleitoral do governador Renan Filho, e por Arapiraca, reduto do vice-governador Luciano Barbosa. O que é muito normal - os redutos sempre são favorecidos, em geral com bobagens como essa. Mas mesmo essa bobagem, que reflete onde está o foco do governo, fica perguntas como: Por que nenhuma cidade do sertão foi contemplada? Por que duas cidades tão próximas, Arapiraca e São Sebastião, terão a passagem da tocha olímpica quando o norte e o sertão do estado ficaram sem visibilidade? Não é estranho que Palmeira dos Índios, 38 km de Arapiraca, não receba a tocha - Palmeira dos Índios não tem capacidade nem para atender os próprios cidadãos nas mais básicas necessidades quanto mais de receber a tocha olímpica e todo o cortejo de curiosos que a acompanha. A passagem da tocha é um evento...

Estupro e Convite

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Sempre acreditei, ou tentei acreditar, que estávamos, os brasileiros, caminhando para um estado em que a barbárie, mesmo com justificativa - como é o caso das atrocidades provocadas pela fome-, estaria em uma zona de repúdio, mesmo que não se tornassem públicas. Mas, como os fatos comprovam, eu estava não apenas enganado como sendo muito ingênuo. E a África é no Brasil. O México é no Brasil. O Brasil representa muito  bem as atrocidades cometidas na América Latina e Caribe. Essa semana a exposição do estupro de uma adolescente de 16 anos chocou o país de uma forma ainda deturpada. O estupro, cometido por 30 homens, foi notícia apenas porque oi cometido por trinta homens. Fiquei a perguntar-me se é por isso que o estupro de tantas outras mulheres, e homens também, não ganham espaço na mídia e na indignação coletiva - porque o estupro é cometido por um indivíduo apenas. Pelo que vi essa semana existe o estupro para a indignação - aquele cometido por dezenas de homens ...

Relato de um assistido

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Fonte Imagem das redes sociais. Sempre estudei em escola pública (estadual e federal) e na maior parte do tempo em que estive no ambiente escolar não vi, nem mesmo a mera referência, o(a) assistente social. No ensino fundamental, porque esse profissional simplesmente não existia - e, se verificar atentamente, ainda não existe na escola em que estudei. No ensino médio, na pública federal, esse personagem só apareceu na metade do curso - antes do aparecimento da Assistente Social uma trinca de servidores aleatórios fazia as vezes de "distribuidor de bolsas e auxílios". É a realidade e o pensamento de gestores da educação e de pais: Assistente Social só serve para distribuir bolsas e auxílios. Esse pensamento, fortemente em voga, é comum a escolas e universidades e o papel do Assistente Social, na cultura popular, é de um mero manipulador e distribuidor de bolsas e auxílios. Esse pensamento faz-me refletir sobre o que fazia esse profissional quando as bolsas e auxíli...

Pulsante*

Pegue a lâmina, brilhante e afiada Passe-a no pulso e no pescoço Para o brilho aumentar No sangue que escorre Deixe de pudores Mundanos e insistentes Corte-os logo no afã da vida E sofra por último A dor Mais dolorosa será a vida Se nada for feito Nesse tempo que se pode De golpe em golpe Acabar o ar invasor. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Promessas*

Partirei na surpresa noturna dos sussurros Surpreenderei seus passos ansiosos Passarei entre árvores e cemitérios Cantarei ao seu ouvido Quebrarei no espectro seu orgulho Destruirei sua imagem refletida Desnudarei seu olhar teimoso Passarei entre o limite da razão e da loucura Extirparei suas emoções Reconstruirei sua mente antes do amanhecer E na ladeira jogarei seus medos Tirarei suas preces do armário Da sua fortuna nada restará Do seu pudor apenas a lembrança sobrará Das suas roupas apenas a ideia terá E muito tempo passará até que possa rever O rosto e o pescoço mordido A pele rasgada e os olhos vistos Na noite de agonia passada. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

O Ateneu

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Clássico da literatura brasileira, O Ateneu é uma crônica das lembranças do autor. Retrata a educação durante o Império, as vaidades dos educadores, o crescimento por meio do internato e revela que, desde o Império até hoje, as instituições de ensino têm mais a esconder do que nos conta os panfletos e os elogios ao ensino e a qualidade da estrutura física. Raul Pompeia relata as paixões homoafetivas, o tratamento diferenciado que segrega os alunos e as parcialidade com que os dirigentes das Instituições da época, e de hoje também, tratam as dificuldades do corpo discente. O Ateneu é de leitura difícil, rica, por vezes chata, e o leitor pode, com muita frequência e incrível tentação, optar pelo abandono da leitura. Mas somente lendo até o fim e aprendendo com a riqueza literária da obra é que o leitor poderá alcançar seus próprios esclarecimento, que podem muito bem ser aplicados no cotidiano contemporâneo.

Notícia*

Espere na cerca Do mato a limpar Que um cigarro Vou comprar Para o mato limpar E no mato o menino fazer Que do trabalho tenho a comida do feito Espere parado na cerca Que o vento trará A notícia da ida De trabalho parida. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

As mães sem moldura

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Hoje de manhã, na Globo, o Padre Marcelo Rossi e outro, que não sei o nome, estavam realizando o missa de todos os domingos. Diziam, em homenagem ao Dia das Mães. Não tinha nada de diferente das missas dos domingos anteriores e, certamente, será igual aos que virão - o que no meu caso não é de estranhar porque minha sensibilidade não é muito apurada no tocante ao ritual das missas. Ao longo do dia, as redes sociais foram transformadas em álbum de fotografias e mensagens, algumas um tanto falsas, preciso lembrar. O que ninguém lembrou, vivendo a mesquinhez da própria vida (que se fôssemos levar os princípios cristãos a sério estaríamos em grave delito), foi das outras mães. No México, na atual ditadura do Presidente Enrique Peña Nieto, mais de vinte e oito mil estão desaparecidos no que se pode chamar de "ditadura democrática de Nieto". As mães desses desaparecidos jamais são mencionadas. Ainda no México, Peña Nieto é responsável pelo desaparecimento, e morte, de 4...

A mesma Palmeira de Llosa

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Foto: Alto do cruzeiro, Palmeira dos Índios - AL. G1. Às quatro horas da manhã desse sábado, no Jardim Brasil, dois assaltantes abordaram o Zé, que estava de posse apenas da sua bicicleta, para humilhar-lhe com "passa tudo aí, é um assalto!". Ante o discurso do Zé de que não estava com nada, nem com o aparelho celular, exceto a bicicleta, e diante do acordar de um morador que abria garagem, os bandidos tiveram que ir embora, com as mãos abanando. Veja que o horário dos assaltantes mudou. Agora os assaltos ocorrem às quatro horas! Não é de estranhar que Palmeira dos Índios faça moda quanto a assaltos e assassinatos. Mario Vargas Llosa, Nobel de literatura, no célebre A guerra do fim do mundo , registrou; "Maria Quadrado estava usando duas saias, tranças amarradas com uma fita, uma blusa azul e sapatos de laço. Mas no caminho deu suas roupas aos mendigos e os sapatos foram roubados em Palmeira dos Índios." (Vargas Llosa, Mario. A guerra do fim do mundo...

Professores: os bodes dourados modernos

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Foto: Movimento do CRIAR-UFS Nesses tempos de luta contra a corrupção e contra o racismo e os preconceitos contra homens, mulheres e minorias esquecemos com muita facilidade a opressão ditatorial imposta aos discentes universitários. Sob a máscara da valorização da classe, os professores universitários arvoram-se em "deuses", pisando sobre as leis, os acordos dos direitos humanos e da ética apenas para justificar as deficiências de caráter, o abuso de poder e de autoridade e tentar dar importância ao trabalho fraco de muitos docentes. Professores que praticam atos que sugerem sexo com alunas. Professores que transam com alunos , inclusive com menores de idade (comum em muitas instituições de ensino federal e que toda a sociedade tem conhecimento). Professores que usam métodos avaliativos duvidosos e obscuros. Professores que humilham os alunos por não saberem do assunto ministrado em sala de aula. Professores que não possuem compromisso algum com o processo de ensin...

A presunção da honestidade

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Foto: Helmet Mask (Temes Mbalmbal). Coleção Rockefeller. Séc. XX. Presumimos que a honestidade é inerente à nossa personalidade. Que somos tão dotados de princípios retos que somente o outro é corrupto. E o espelho não reflete nossas pequenas corrupções diárias. Somos desonestos, e sempre seremos, enquanto formos caracterizados como humanos. A humanidade, desde o seu surgimento, tem refinado a desonestidade e a corrupção de forma que o escândalo sempre faça parte do espetáculo, para testificar o trabalho bem-feito e a fama. Optar pelo apoio a indivíduos que notadamente pratica atos ilícitos, independente do grau, também configura ato ilícito por omissão e isso é pior que o praticante do ato desonesto e ilícito original. Consentir que a corrupção prossiga, sem tentar barrar-lhe o caminho, é tão vergonhoso quanto estuprar alguém. A corrupção é um estupro moral e ético. Todos, sem exceções, somos desonestos em algum tipo de grau. O que torna uma pessoa pior que outra é a per...

Primeiro Amor

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Esse clássico da literatura russa é simplesmente fascinante em sua narrativa e na descrição dos sentimentos dos personagens. Retratando o primeiro amor de Vladimir pela falida Princesa Zinaida, Ivan Turguêniev constrói um retrato atemporal das relações amorosas, independente da cultura.  Vladimir tem dezesseis anos, é rico e possui uma família movida pelas conveniências  - é infeliz até conhecer seu primeiro amor e ter que lutar por ele. Zinaida, com vinte e um anos, Princesa e falida, pertence a uma família que outrora possuiu bens e admirável fortuna e cuja desgraça sobreveio com a morte do pai. A posição social, a riqueza, a criação deturpada da Princesa e a regrada vida  de Vladimir constituíam empecilhos naturais a um romance cuja aprovação dependia da mãe de Vladimir, a única rica e poderosa de toda a história. Mas  o amor não é fácil e Zinaida tem um caso com o pai de Vladimir e a partir de então até um desfecho fúnebre Primeiro Amor é pura histeria juv...

A presunção da importância

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Pintura: Before Dinner. Pierre Bonnard. 1924. Apesar do que prega alguns pensadores, como os da Administração, as pessoas não são importantes. Elas são meras ferramentas em diversos processos nos quais o resultado é mais importante que os prejuízos para atingi-lo. Presumimos que o homem é "muito importante" para justificar nossas inseguranças e falhas e para conseguirmos levantar pela manhã e dizer ao espelho que o trabalho fútil que só serve para prover, de forma precária, o alimento de todos os dias é essencial. De essencial só temos a vida - e olhe lá de qual tipo de vida estamos falando. Se olharmos atentamente para uma obra da construção civil veremos peões que podem ser substituídos a qualquer tempo, sempre que desejarmos que a obra avance mais rápido. Do engenheiro ao pedreiro mais preguiçoso - todos podem ser substituídos. Se entrarmos em uma sala de aula, veremos que o professor e os alunos podem ser substituídos sempre que a qualidade da educação daquele...

Luta*

Sujo-me com o sangue Dos enterrados vivos Na miséria telúrica Das terras passadas Sujo-me com a cor Do sangue derramado Em emboscadas e alvos Das dívidas pagas Sujo-me com pranto Em rubro canto Das viúvas de órfãos Clandestinos e tidos                     Sujo-me com o leite Derramado e queimado Com o tiro disparado No vermelho entardecer. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

A presunção do amor

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Pintura: Nude with oranges. Henri Matisse. 1951. Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. A presunção do amor é crer que todos são obrigados a amar - amar as idiossincrasias alheias; amar a corrupção justificada do outro; amar as falhas dos relacionamentos.  Ninguém ama verdadeiramente outra pessoa a ponto de relevar e justificar repetidamente as falhas e as fraquezas de outra pessoa. Ninguém gosta de pessoas fraca...