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Mostrando postagens de junho, 2015

Dragões de Éter

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A literatura tem uma função muito específica, dentre tantas as possíveis aplicações, - permite que o leitor recrie histórias já ouvidas e que, à sua visão, refaça mundos e personagens. A literatura fantástica, ainda mais que registrar o modo de pensar e de agir de uma determinada época, tem o privilégio de ultrapassar o limite da sanidade e estabelecer paradigmas que, hora ou outra, pode ser empregado na realidade. O Brasil ainda caminha lentamente na formação de uma sociedade leitora e escritora. E ainda mais lentamente na produção de uma geração escritora de fantasia. Temos alguns exemplos bem sucedidos e alguns livros muito bons. Dentre esses, temos a trilogia Dragões de Éter . Os volumes que compõem essa trilogia recriam os contos de fadas em romances únicos em que o amor, a guerra, a traição, as etnias e as aspirações de personagens como Branca de Neve, Peter Pan, João e Maria e as Bruxas são tão distantes dos desenhos cultivados em nossas mentes quanto o são as terras d...

Trago a pessoa amada...

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Foto: Terminal DIA, Aju.  Se você estiver sofrendo por um amor ingrato, por falta de dinheiro ou por força de magia e tiver que passar pelo terminal DIA, em Aracaju, vai encontrar, como se fosse resposta aos seus sofrimentos, vários cartazes prometendo desde "trazer a pessoa amada o mais rápido possível" (abandonaram o prazo de três dias :O ) até "abertura de caminho" (fico imaginando o que Exu tem a dizer sobre isso - e não é nada bom). São tantos cartazes e prometendo tanto que nem o teto do terminal ficou livre da sujeira, tão comum em um ambiente largado ao acaso e à boa vontade dos vândalos. O que é mais impressionante não é a existência de pessoas que faz do desespero alheio um negócio nem que existam crentes nesse tipo de promessas; o que me impressiona mesmo é que o pensamento coletivo popular, com a quantidade de dados e informações inerentes à conectividade dos smartphones, fomente esse tipo de prática, notadamente charlatã. E enquanto as igrejas e...

Leite derramado

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Uma família decadente, assim como o Regime Imperial brasileiro. Membros da "alta sociedade", os Assumpção apoiaram-se nos alicerces do Imperador do Brasil, e antes dele nos do Rei de Portugal, parar criar e cultivar poder e dinheiro. Os Assumpção, como todo brasileiro, acabou na mistura de etnias e de costumes, caindo na obscuridade do esquecimento e do obsoleto até que ninguém mais lembrou da outrora poderosa família. Leite derramado , de Chico Buarque, é uma narrativa simples, cheia de flashbacks, de um centenário Eulálio Assumpção, deixado pela mulher - que sofreu repentinamente de uma tuberculose e acabou afogada por um capricho do mar, pelo que disse o médico -, que ora mistura o presente com o passado, ora as lembranças só do passado, ora nem sabe mais em que época se encontra e que desenvolve uma paixão pela enfermeira. O leitor se deparará com vários momentos históricos do Brasil sob a óptica da decadência dos Assumpção e sem demora perceberá certa semel...

Fora da caixa

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Imagem:  Abstract Painting Couple People Kiss.  extendcreative.com Quando olho para trás, para todas as pessoas que fizeram diferença no mundo (ou na comunidade onde viviam) sempre vejo indivíduos que não se conformavam com o modo como as relações interpessoais eram realizadas ou como o homem interagia com os objetos, ou melhor, como o homem se sentia em relação ao que consumia e ao que produzia. Todas as pessoas que observei (e algumas observo ainda) são inquietadas com a possibilidade aterrorizante do comodismo.  Da ciência e tecnologia à linha de produção, da educação à saúde, da economia à religião, todos apresentam a qualidade de não querer fazer melhor, mas fazer diferente - mesmo que isso implique em ir contra a corrente e contra tudo o que é aceito. E quebrar paradigmas não é fácil; ninguém sai ileso. No entanto, esses indivíduos apresentam algo mais que inquietação. Apresentam conhecimento nas mais diferentes áreas, com as mais variadas motivações para ...

Mas a minha tristeza é sossego

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Em fevereiro de 2012 fiz um teste em um site escolar para saber quais dos poemas de Fernando Pessoa mais me descrevia, mais se aproximava da minha personalidade. E, com grande surpresa, foi O Guardado de Rebanhos, e não outros tantos que sabia, que surgiu como resultado. Talvez influenciado pelo bucolismo do IFAL- Palmeira dos Índios, quem sabe pela leitura de outros autores bucólicos, Fernando Pessoa, personificado em Alberto Caeiro(seu heterônimo), me descreveu muito bem. Ainda hoje, pouco mais de três anos depois, é Alberto Caeiro e Fernando Pessoa, dois portugueses em um só corpo, que mais me vem à mente nas mais diversas situações. Aprendendo  ouvir o melhor da MPB na voz de Maria Bethânia, outra fã de Pessoa, ouvi outros tantos textos com a mesma intensidade com a qual foram escritos. E a MPB jamais foi a mesma aos meus ouvidos. E assim, com o poder da possibilidade de ser muitos em um só corpo, Pessoa vem colocando alma em paisagens, em cartas; descrevendo amores e sit...

Um lugar para todos

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Em algum momento, entre ser criança e ser adulto, acabamos reclusos de nossas próprias armadilhas, presas fáceis do medo, geradores de ressentimento e desentendimento. Em algum momento, mudamos não só de aparência como também de traços profundos de personalidade, que, parece, tem a função de servir como escudo contra o mundo. Thrity Umrigar, em seu primeiro livro, Um lugar para todos , já adiantava que seria uma autora best-seller. Um lugar para todos, embora tenha como centro do enredo o edifício Wadia, seus moradores e fantasmas, é uma obra que perpassa continentes, pessoas e o tempo simbolizando muitos indivíduos, no campo e na cidade, de diversas línguas. As histórias contadas por Umrigar nesse romance fazem um flash-back da vida de todos os moradores do Wadia e revela o quanto o homem é frágil diante da enormidade de surpresas que a vida pode oferecer, sejam boas ou más. E é possível encontrar pessoas que saíram da dor imensa da orfandade e tornaram-se exemplos de sucesso;...

Não fale mal dos meus amigos Gays, certo parça!?

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Não é surpresa para ninguém que milhares de indivíduos procuram as mais diversas denominações religiosas para suprir a necessidade de atenção e para justificar a ignorância, os erros, o preconceito e a discriminação latente. A religião supre muito bem as necessidades dessas pessoas e, sob os artigos da Constituição Federal, as denominações religiosas proliferam-se mais que coelhos. E junto com esse boom de igrejas/pastores que falam com Deus/denominações religiosas com poderes divinos, surgem atrocidades sociais, mais preconceito, mais intolerância e mais ignorância (afinal, pastor e padre (com exceção do atual Papa) é igual a político - Deus os livre de fiéis pensantes e críticos. E nessa nuvem de poluição do pensamento que meu Facebook e Twitter começaram a explodir de publicações decorrentes da Parada Gay, ocorrida há pouco. Gays defendendo as denominações religiosas; evangélicos defendendo o 'modelo tradicional da família' e evangélicos, acompanhados pelo coro católico,...

Registro

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Às vezes fico imaginando o quanto somos efêmeros e errôneos ao julgar as nossas (e às de algumas pessoas) decisões. Outro dia estava olhando a nova aplicação do Facebook, que mostra tudo o que aconteceu em cada dia, e notei o quanto o tempo passa implacavelmente e em tão bom humor quando não estamos esperando nada de fantástico ou incrível em nossas vidas.  Imagem: Nineteen Studies of  horses, hands and feet.  Eugène Delacroix. Sempre defendi o poder do registro (escrito, fotográfico ou em desenhos) e fico, apesar disso, surpreso com essa aplicação apenas porque revela-nos como fomos infantis, levianos ou inocentes em situações tão simplórias. O Facebook refazendo o modo como registramos a história (nossas histórias particulares) nessa nova era digital. E se por um lado somos relembrados de frases, fotos, notícias e sentimentos compartilhados, somos igualmente responsabilizados, daí em diante, a pegar leve com a exposição e com as justificativas  - afinal, ...

Distante

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Não me encontrando em um lugar, procure em outro. Estarei parado nalgum lugar esperando por você. Walt Whitman Sem querer, ou talvez pela necessidade de não ficarmos sós, acabamos sendo acessíveis durante todas as horas, nas mais diversas circunstâncias. E quando nos tornamos constantes deixamos de ser necessários, seja na vida de outrem seja no sortimento de sentimentos que provocam a saudade. A internet tem contribuído para essa constância e a qualquer clique podemos ver o que outra pessoa fez, disse ou fará em pouco tempo. Temos até a impressão de que a morte não existe, de que ela é só uma questão de estar off-line.  E tão certo quanto a produção de energia elétrica pela usina de Itaipu, as relações acabam minadas pela onipresença do outro - acabamos escravos da opinião alheia e dependente da aprovação dos "amigos", ainda mais que no século passado. Imagem: Dante et Virgile aux Enfers. Eugène Delacroix. É por isso, por essa inquestionável presença vi...

Sobre minha loucura

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Figura:  www.rbj.com.br Dizem que leio demais - uma grande verdade. E é verdade que desperdiço dinheiro com livros e tempo pensando nas histórias, nas personagens e nos mais diferentes pontos de vista dos autores. Dentro da minha cabeça todos eles conversam, sorriem e brigam. Gasto muito tempo e vivo para comprar o próximo título, dos assuntos mais variados. E, apesar de algumas críticas, não troco a solidão-companhia de autores e personagens, em mundos mágicos, fantásticos e realistas, pela companhia oca de tantas pessoas que não sabem nada sobre Macondo, ou sobre Dragões, ou sobre bruxos - sem falar nos crimes e nos detetives.  E, sejamos sinceros, entre perder tempo e dinheiro viajando por aí, nas asas da imaginação, e cair no tédio do oco de pessoas sem referência - eu prefiro a primeira opção. Não sei como é possível viver sem ler, conhecer outros pontos de vista e se divertir.  Todo leitor é meio louco, um pouco semideus, um visionário. Leio demais...

Não há Deus que salve

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Hoje é um feriado inútil, no sentido mais inútil que pode ter um feriado. E, além de inútil, é deprimente.  Desde o amanhecer, sob o sol ou a chuva, milhares de pessoas em muitas cidades interditam o trânsito de algumas ruas e começam a sujá-las com pó de serra, tampas de garrafas PET e todo tipo de quinquilharia para fazer imagens artísticas de Jesus no chão.  A fé é inquestionável ( seja lá no que for que acredite). E depois de tudo pronto, quilômetros de representações no chão são destruídas pela caminhada de fé de católicos. E por que tudo isso é inútil? Foto:  www.newsrondonia.com.br Apenas porque reza, caminhada e olhares dramaticamente ensaiados não resolvem problemas graves, de soluções razoavelmente simples e que todos podem tomar parte.  Animais abandonados, que passam todo tipo de dificuldades; moradores de ruas que se tornam invisíveis aos olhos da Igreja e da Sociedade - "para o bem da consciência"; corrupção; pedofilia; homofobia; segr...

Confissões de Acompanhantes

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  O amor não é sustentado apenas pelo vermelho de corações desenhados nem tampouco pelas palavras carinhosas ditas em devaneios. A amizade conserva em si muitas das facetas de um mundo estranho e complicadamente simples. O homem é aquele animal em eterno cio, a mulher o objeto que satisfaz seus desejos. De uma única vez, em um único volume, é possível entrar na dualidade amor-sexo, amor-amizade, sexo-sexo, homem-mulher, mulher-mulher, necessidade-obrigação sem o medo de estar sendo pejorativamente libidinoso. Em Confissões de Acompanhantes , de Newton Cannito, o leitor torna-se facilmente um ouvinte das agruras das putas, seu confidente e seu amante. Cannito não tem medo de levar a público o sexo prático, pago, que está presente nas ruas das cidades, não só brasileiras. A diferença entre trepar e transar, ser amigo e ser amante, ser puta e ser mulher, respeitar e ser respeitado(a) são elementos recorrentes das "confissões". E não apenas isso: a vontade de ser ...