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Mostrando postagens de junho, 2017

A ex-beata de São Pedro

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Foto: Praça do Açude.Palmeira dos Índios. Imagem da internet Trancada em casa, procurando esconder-se dos próprios demônios, ela se remoía em inveja das antigas amigas que, mesmo tendo alarmantes dificuldades, podiam dar-se ao luxo de discutir, rir e planejar atividades com a família. A fogueira de São Pedro, queimando sob a chuva fina, esfumaçava a rua, as casas, as roupas, a vida dos infelizes solitários que, como ela, não tinha nada além de fofocas e de vis combinações secretas para aplacar o fardo de uma vida infrutífera. A ex-beata de São Pedro, tendo envelhecido como um papel velho abandonado à ação da poeira e das traças, agora tinha que remoer um marido ausente, um punhado de "amigos" oportunistas e uma miríade de arrependimentos. Mas agora, escrava das próprias combinações vis e secretas, tinha que amargar a solidão na fria e imunda casa. Os "amigos", em orgias sodomitas e em prazeres corriqueiros, não só a renegaram, como a baniram de qualquer ti...

Morta, finalmente

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Foto: Alagoas24h. A chuva caia com força sobre o barro vermelho, que já estava mole com tantas chuvas anteriores, tornava-se lama em uma manhã chuvosa no campo santo municipal. O féretro, chafurdado na lama, foi apressado. O buraco, onde a morta seria depositada, ia se enchendo de água, uma água que caía sobre justos e injustos, transformando um buraco vazio em um copo meio cheio. O viúvo, agarrando-se à ideia de beber, fumar e fornicar com uma de suas amantes tão logo o irritante trabalho fúnebre fosse encerrado com o primeiro bolo de barro molhado jogado na cara da defunta. Encaixotada competentemente em um baú de algumas dezenas de reais, a morta não vai mais presenciar a ausência do homem, como ocorria quando a doença ainda roía-lhe as entranhas. Ele, sofrendo na casa da outra, mal se sustentando em pé de tão bêbado, embalsamado pelo cigarro, levou  assim todos os dias em que a mulher esteve sã ou corrompida pela vil enfermidade. Agora, depois que o barro cobriu a po...

A caipora de São João

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Foto: Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá Às seis da manhã de uma pós-farra junina, em que a fumaça dos restos de fogueira ainda podiam ser vistos na rua e alguns poucos já se dirigiam para os seus cultos matinais, a velha do outro lado da rua já estava de pé, desferindo impropérios contra o vizinho do fim da rua porque este teve a ideia esperada de reavivar a fogueira, reaproveitando a lenha não queimada e as brasas ainda incandescentes. Alheio ao burburinho, o homem assoprava, abanava e esperava a fogueira voltar à sua plena atividade, como tinha sido na noite anterior. Aos poucos a rua ia acordando. Aos poucos a vida ia seguindo. E a velha, galopantemente, seguia seus impropérios e sua ira indignada contra o vizinho. _Agora fica esse aí, fazendo fumaça uma hora dessa. A folia já acabou – tentava argumentar a caipora que incensa a casa de todos da rua ao fumar freneticamente na rua e nas portas alheias. _Mas ainda é São João. Até São Pedro é só fumaça. – ten...

O X Cultural

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Foto: fb/Prefeitura de Palmeira dos Índios De um lado estavam os beberrões, muito bem equipados com suas latinhas de pitu e coca-cola, falando das fêmeas que se espremiam na não-tão-grande multidão que perdia o tempo olhando para o palco. As músicas de sempre, as pessoas de sempre e os namorados entediados de sempre cumprindo o oneroso papel social do relacionamento.Do outro lado, os casais que sempre usam os abandonados prédios próximo à estação para a fornicação diária, sempre depois das 22h, esperando que a madrugada desse um pouco de privacidade. O São João na tal “Capital da Cultura” estava atrapalhando o gozo da própria população, ironicamente. Entre esses dois grupos lá estava ela, de mãos  dadas com um homem e olhando para muito além do palco. Linda, o que é difícil de se encontrar em uma cidade povoada por uma velharia imortal, vestia um vestido junino curto. E, entediada, sendo levada pelo empurra-empurra daqueles que dançavam, acabou largando o homem, que desap...

A fofoqueira da Getúlio

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Imagem: do google maps. 2011 Manhã de fim de verão e estava eu lá, caminhando pela avenida Getúlio Vargas, despreocupado com a vida e com as idiossincrasias dos hipócritas e das poucas pessoas de bem que ainda restam na municipalidade quando ouvi um " psiiiiu". Ignorei completamente, mesmo sabendo quem poderia ser. Mas a insistente fofoqueira e baluarte da difamação e corrupção na cidade insistiu, chamando-me pelo nome. Tive que voltar para dar atenção àquela vulgar e pretensiosa criatura. No exato cruzamento entre a Salu Branco e a Getúlio Vargas, estava eu sendo alugado pela fofoqueira, tendo de ser simpático, como bem manda minha boa educação. Em Palmeira dos Índios é assim - as pessoas fingem que estão esperando a lotação para falar da vida alheia, promover a perseguição e cultivar hábitos vulgares com uma normalidade assustadora. E quem diz que ela é tão vulgarmente baixa é sempre criticado por ir de encontro a uma imagem "boa". É o privilégio das v...

A destruidora de casamentos

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Foto: cena do filme Assédio Sexual A ironia da situação é que o baluarte da moral e dos bons costumes, como frequentemente deixava claro entre indiretas e olhares, é que é pior do que aquelas pessoas que julgava. _ Dora vai precisar faltar hoje – o colega avisou. _Por quê? – sua voz estridente exigiu. _Porque o namorado dela está no hospital e ela precisou ir de repente ao hospital – o colega explicou. _E ela é médica, por acaso? – a honrada personalidade no exercício do dever público ironizou, apenas para fazer graça aos colegas de trabalho. Quem a visse em seu habita t de trabalho, irônica, sentindo-se proprietária da própria moral e da ética, jamais poderia imaginar a podridão que é sua história. Quando confrontada por mentes fracas, tão rotineiras em seu trabalho, julgava cada uma por seu modo de vestir-se, falar e portar-se à sua frente. Em uma situação assim, quando o colega de Dora explicou-lhe a tragédia pessoal da amiga, esse ser humano tão respe...

A professora decadente

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Foto: Açude do Goiti. Foto da Internet Outro dia ouvi a interessante história de uma professora desesperada por atenção que pagou pelo afeto e apoio dos seus alunos. Segundo relato fidedigno, a desesperada professora desembolsou R$ 400,00 para pagar a festa junina dos seus amados alunos, muito embora esse amor todo não fosse recíproco. A festa junina, em um conhecidíssimo bar de Palmeira dos Índios, ocorreu com a sua presença – uma mulher de trinta anos que ainda quer ser o encanto dos rapazes de dezessete. Servindo como financiadora da bebedeira de menores e maiores de idade e sendo a chacota icônica de toda a juventude, a professora acreditava que estava sendo apenas cool – um ledo engano que ela perpetua em sua mente ingênua. Os relatos da festa incluíram as risadas sobre a corrupta docente que tentava trocar dinheiro, bebida e festas pelo apoio incondicional de alunos e colegas de trabalho. O ridículo da situação assentava-se ainda, em ação contínua, no fato de que os p...

00:10 - Festa de morte*

Vou fazer, quando você morrer, uma festa sem precedentes. Um evento capaz de renegar, do mundo, a amargura, a infelicidade e a incredulidade. Será, das criações humanas, aquela que entrará para a história como a satânica irmã da felicidade. Com músicas, sorrisos, alegrias, brincadeiras, diversões das mais variadas e imprevistas. Será a sua festa, da sua morte. E festejarei o caixão fechado, com todo o cheiro irritante das flores e das velas. A sua lápide carregará o epitáfio do princípio da felicidade nos corações. Não que sua vida tenha sido completamente decadente, nem que sua influência tenha sido desprezível. Apenas que menos um resultará em mais água e mais comida para minhas noites de ociosidade quando nem a solidão da programação televisiva é capaz de fazer-me sorrir com uma bobagem qualquer.

[DENÚNCIA] Venda ilegal de casas do Brivaldo Medeiros

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Foto: Vista de Palmeira dos Índios A ausência do poder público no ainda novíssimo conjunto Brivaldo Medeiros, que surgiu a partir dos lotes do programa habitacional Minha Casa Minha Vida, tem revelado facetas de corrupção e estorsão realizados por alguns indivíduos que se sentem proprietários dos imóveis. Segundo relatos dos envolvidos e observação  in loco , há pelo menos um indivíduo que está vendendo as casas fechadas ou abandonadas do conjunto, sem autorização do poder público municipal ou da Caixa Econômica Federal.  Ainda segundo os relatos, esse indivíduo, que é um mototaxista clandestino, cobra até R$ 300,00 para entregar a chave de uma casa. Quando não recebe o valor, passa a assediar os moradores de baixa renda, alegando que tem que usar de sua influência para com outros moradores, que segundo ele são os proprietários das casas, para consegui-las. O detalhe é que ele faz, ou tenta fazer essa venda, a pessoas que foram cadastradas e pré-selecionadas pela Cai...

"Amor" de etiqueta

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Obra: Fishing Boats, Collioure. André Derain. 1905. Metmuseum. Há quem compre o afeto - e depois o "amor" - com presentes e promessas. Conheço uma mulher que resolveu comprar o "amor de sua vida" através do empréstimo do carro, realizando as fantasias sexuais do amante e contribuindo para a formação acadêmica do rapaz, em uma relação quase incestuosa  - uma vez que o rapaz é dez anos mais jovem. O homem da relação, mesmo não tendo dinheiro e nenhum tipo de compromisso com ela, notadamente leva o relacionamento adiante por ser cômodo, nas circunstâncias em que está envolvido. Ela acredita estar sendo amada. As pessoas gostam de se iludir.  E é nessa história de ilusão que observo um outro casal que, depois de décadas vivendo no limite, porque tiveram uma origem semelhante ao casal descrito anteriormente, só podem existir como unidade graças à distância e à tolerância.  O "amor", como gostamos de classificar certos tipos de sentimentos que sustenta...

00:00 - Realidade divagada*

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Quadro: Before Dinner. Pierre Bonnard. 1924. Quando eu chegar à sua casa, espero que esteja tudo fora do lugar, em uma histeria que somente nós possamos entender o porquê do açúcar estar no banheiro e da maquiagem na geladeira. E aguardo até que a desordem transforme-se em um aglomerado de coisas falantes, cada um com uma história e uma estação, de partidas e chegadas, de amores e dissabores. Olharei para a deposição de um refrigerante envelhecido e perguntar-me-ei se no século passado já existia a fórmula da decomposição dos órgãos internos. Se por acaso eu me deparar com uma evolução de algum inseto, projetando-nos como uma pré-história futura, serei obrigado a jogar-me pela janela, se tamanho for o meu medo. Entretanto, dada a quantidade de vezes que criei novos espécimes de vermes em meu liquidificador e em meu vaso sanitário, nas terras muito além do grande rio brasileiro, serei obrigado a admirar os novos bichinhos que serão catalogados só no próximo século. E não será...