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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

Nas ruas imutáveis

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Saindo de casa e dobrando em esquinas e projetos de becos você sempre vai acabar desembocando no centro de Palmeira dos Índios. E não importa de onde saia, sempre vai haver silêncio e fofoqueiras nas portas, abrigando-se do sol nas sombras dos muros e árvores dos outros; vai haver o lixo do sábado - que ninguém recolhe; vai haver as carolas indo à missa ou ao culto e vai haver televisores ligados no programa do Faustão ou da Eliana.  O que você jamais verá será algum movimento útil nas calçadas, casas e ruas. Fui caminhando, dobrando esquinas e passando pela língua do povo até chegar à sorveteria de nome "chique" para tomar um sorvete bonzinho e um açaí lavajoso com mais leite em pó que a fábrica da Sabe no meio do nada em Sergipe.  E não basta as experimentações culinárias! Isso só não basta!  Ainda tem um monte de gente que sai de casa sobre a linha tênue do bom gosto e do bom senso que chega nos lugares como se fosse as ruas-prostíbulos ao lado do mercado da ...

Mandingas e impropérios para o Aedes

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Ilustração: As dez pragas do Egito. redecruz.com A zona da mata de Alagoas já começou a apresentar sinais de histeria, como em outras regiões do país, provocada em parte pelo surto do vírus zika e chikungunya e em parte ela mania de mistificar as epidemias. Lá em Branca de Atalaia a população, em procissão, lotou um terreiro de religião afro-brasileira como meio de livrar a localidade das doenças. O resultado foi que o pai de santo acabou na emergência mais próxima atacado pela febre. Os crentes mais ferrenhos acreditam que a epidemia é resultado dos pecados do povo e que o surto se assemelha às pragas do Egito. Os romeiros de Padre Cícero, na contramão dos evangélicos e dos umbandistas e candomblecistas, soltaram fogos e preces no pé da estátua do santo nordestino para alcançar a graça de deixar o Aedes Aegypti longe. A histeria lá está prestes a estourar. No entanto, para que não pense que é só no Brasil que isso acontece, nos EUA um pastor gravou um vídeo avisando aos...

Mais forte que um país inteiro

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Foto: Aedes Aegypti. Fiocruz. Fui a Banco do Brasil e na tela apareceu uma mensagem de combate ao Aedes Aegypti . Visitei o site do IFAL e vários mosquitos eletrônicos do Aedes Aegypti apareceram na tela, atrapalhando minha navegação. O Ministério da Educação não para de postar mensagens sobre o combate ao mosquito e até a Presidente da República foi em rede nacional pedir o engajamento do povo brasileiro no combate ao mosquito. E embora o marketing diga que "o mosquito não é mais forte que um país inteiro" tenho que discordar veementemente disso e afirmar sem medo que o Aedes Aegypti é mais forte que muitos países juntos e que seu extermínio não é só uma grande perda como quase impossível. A campanha não deveria ser de combate e extinção do mosquito. Tentar exterminá-lo é o mesmo que anunciar mais um desequilíbrio ecológico, dentre os incontáveis que a espécie humana já protagonizou. O correto seria desviar o foco das consequências e atacar a origem do probl...

O amor nas terras da brutalidade

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Olhando para o sol quente sobre a grama do campo do IFAL e pensando nas dezenas de centenas de pares que caminharam sobre aquela grama ocorreu-me que o amor a que estamos acostumados está mais para cólera que afeto. Por uma questão de exemplos temos sempre a impressão de que o normal é que para uma relação ser boa ela precisa fazer uma das partes chorar e a outra viver em constante estresse e frustração. O amor parece nunca ser sinônimo de virtude por essas bandas nordestinas. Ele é sempre traduzido como presentes em uma ou duas datas "especiais". Ou o amor se traveste de luxúria e mostra-se apenas como carne e suor ou enruste-se de agressividade gratuita. Quase nunca é valorado positivamente. Então, para completar o quadro grotesco do amor nas terras da brutalidade temos a língua-do-povo para não deixar o pretenso corno e a suposta puta - sempre os outros - em paz. Ah, como é doce a puta alheia e o chifre do vizinho! Imagem: Music. Matisse.  E assim, seguindo os...

Lua de Mel

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Uma mulher deslumbrante vive entre várias identidades e ama muito seus maridos. Ela mantém relações múltiplas com homens bem-sucedidos. Um conto de fadas moderno não fosse ela não se comover com diamantes, sucesso, sexo e paixão. Depois de obter prazer e conseguir uma aliança de casamento, ela prepara um coquetel ao amado capaz de causar a morte em um elefante. E misteriosamente e sem vestígio, seus crimes aparecem como acidentes. Até que um dia sua farsa começa a ser desvendada. Em Lua de Mel James Patterson presenteia o leitor com uma história policial capaz de abalar os pilares dos relacionamentos e de quem já é desconfiado por natureza. Uma viúva negra, contas em paraísos fiscais, investigações, reviravolta e um desfecho surpreendente espera o leitor no fim de Lua de Mel . Leitura obrigatória para os fãs de suspense e para quem gosta de uma história rápida e sem enrolações. Clique aqui e leia  Um quarto no escuro . Clique aqui e leia  Áspide .

O Varejo Palmeiríndio

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Existe uma reclamação eterna sobre o comércio de Palmeira dos Índios - sobre a falta de aquecimento nas vendas das lojas e da falta de incentivo do povo nos produtos vendidos no município. Olhando de longe até dá para pensar que os palmeiríndios não gostam da cidade e que a "vantagem" de enfrentar 1h20 até Arapiraca para comprar uma simples camisa justifica a fraqueza econômica do calçadão de Palmeira. A verdade nua que desfila sob o sol quase sertanejo é que não há vantagem alguma em comprar nessa cidade: não existe escolhas para os produtos, não há concorrência adequada entre os comerciantes e os preços são desprezivelmente irreais para a realidade vivenciada pela população.  Se você tentar comprar uma simples camisa regata se deparará com modelos feios e inadequados a preços a partir de R$ 35,00. Se tentar comprar um livro não encontrará, ou raramente encontrará, bons títulos - e na maioria das vezes com o preço superinflacionado, com exceção, talvez, da livraria Mod...

Fota-imagi

Os palmeiríndios tem uns hábitos que são estranhos em demasia - não que alguns deles não sejam replicados em diversos outros municípios do interior de Alagoas. Dia desses descobri a sala no meio do mato e o homem que só caga no mato. Hoje eu descobri que o mato seco e um cavalo esquelético e sedento pode ser um pano de fundo muito interessante para aquela série de fotografias de domingo que, depois de um filtro e, quem sabe, uns cortes, serão expostas nas redes sociais.  A tarde já ia avançada quando duas garotas iam de uma moita à outra, sentando-se no chão de areia, procurando a melhor pose para a foto arrasadora.  Há quem defenda que o fundo "natural" é melhor que a parede sem reboco. Para mim, se o mato não for nada além de mato seco ou tendendo à sequidão não há diferença entre ele e a parede sem reboco. Mas as garotas devem ter gostado bastante - um cheirinho agradável de carniça, um espinho na canela e os mosquitos de fim de tarde são sempre o charme a mais que...

Falta refinamento

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Não há assunto com a população de Palmeira dos Índios e nem tem como ter - o povo parece que alcança um determinado ponto de comunicação com o mundo fora dos limites do município que faz com que todo o assunto cesse. O assunto da moda, as febres do Aedes Aegypti, consome quase que 90% do tempo de conversa. É uma história de desmaio em tal lugar, de recaídas semanais, de falta de coragem para trabalhar - uma choradeira tão grande que cansa só de ouvir. Em segundo plano a conversa desanda para a inflação da gasolina e dos produtos alimentícios - como se todos tivessem veículo automotor ou vivesse dentro de um "supermercado" comprando comida para comer dia e noite tal uma feriada braba. As pessoas são irritantes e tediosas porque não têm o que falar nem argumentos para discutir. Aliás, nem fofocar sobre a vida alheia o povo sabe fazer direito. Não é de espantar que a cidade não tenha uma banca de revista, lotada de revistas TiTiTi e similares, ou um bom lugar para matar o te...

Pré-candidatos palmeiríndios

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Foto: Vista de Palmeira dos Índios. Rafael Rodrigo Marajá. A corrida eleitoral em Palmeira dos Índios já tem mostrado suas primeira características - sempre estranhas e efêmeras. Dos pré-candidatos divulgados dois deles já começaram a comprar o povo com circo e fofoca. Um deles atraiu, segundo alardeia a imprensa silvícola, vinte mil pessoas em um bloco carnavalesco. O outro, em uma ousada e indireta campanha, inaugurou um jornal para "informar a população". E dos dois apenas o primeiro parece ter acertado já que ler e buscar informações, ainda que não totalmente seguras, não é o forte dos palmeiríndios. O que de fato deveria ter sido feito para garantir o passe para o paço municipal não foi feito e, suponho, sequer pensado: fazer boas obras nos anos antecessores, para aqueles que ocuparam uma cadeira na Câmara Municipal ou órgãos do Governo Estadual. Caminhando pela cidade, coisa que nossos nobres homens e mulheres públicos não fazem, pode-se encontrar a Praça ...

Misery

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Paul Sheldon é um escritor famoso que está preso a um Misery, seu personagem mais popular. Uma legião de fãs seguem Misery aonde quer que Paul vá e o sucesso da Saga de Misery é uma benção e uma maldição. Certo dia Paul mata Misery e põe fim ao sucesso dessa personagem. Eufórico, Paul sofre um acidente e sua vida torna-se um inferno miserável. Annie Wilkes encontra Paul após o acidente e leva-o para casa. Que sorte! Annie é ex-enfermeira e pode prestar os primeiros socorros até leva-lo ao hospital. E embora Anne seja fã de Misery e tenha reconhecido Paul, ela leva-o para casa e o mantém preso sob o efeito de medicamentos. E assim começa uma relação complicada de dependência entre sequestrador e vítima, com assassinato, chantagem e maus tratos. Paul perde muito mais que o amor próprio e Annie se mostrará impiedosa, cruel e uma assassina em série. Misery - Louca Obsessão é um livro em que o leitor encontrará a deturpada relação entre ídolo e idólatra; dependência emocional e fí...

A ordenha de Palmeira

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Foto: Cachorro abandonado no centro de Palmeira dos Índios. Rafael Rodrigo Marajá Os animais domésticos, ou não, sempre estiveram na berlinda em Palmeira dos Índios. Os hábitos comuns entre parte dos moradores de envenenar e abandonar animais são práticas quase incorporadas ao ambiente urbano do município. Os hábitos evoluíram e agora os envenenadores e abandonadores chegaram ao cúmulo do inconcebível. Nessa última semana fui levado, contra vontade, para o desprezível e nojento mercado público da carne e nem mesmo entrei no edifício e já pude vislumbrar, além da falta de higiene, do esgoto a céu aberto - principalmente aos sábados e quartas-feiras - e dos ratos por toda parte, uma cena muito mais desprezível que todo o conjunto que sustenta a mesa dos palmeiríndios: três filhotes de cachorro, ainda com o cordão umbilical, jogados em um buraco de lixo e cobertos com papelão, sob o sol inclemente das onze horas. A cena e o ato já é, em si, o mais degradante que um dito ser ...

Nuas!

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Foto: A nua de Marechal Em 2013 a cidade histórica de Marechal Deodoro foi pano de fundo para ftos eróticas de uma desconhecida que, ousdamente, chegou a ser fotografada, nua, à luz do dia em prédios e ícones turíticos. A nua, daquela vez, não passou de uma "pobre alma sem-vergonha". Dias passados uma personal subiu nos ombros da estátua de Graciliano Ramos, na orla de Maceió, e provocou a revolta popular pelo ato classificado como vandalismo. Ela era passível de ser linchada só por uma trepadinha em Graciliano. Agora uma mulher tirou a roupa na orla maceioense e se exibiu para as estátuas dos nobres alagoanas. Diferentemente da outra, que não tirou a roupa, a nua de maceió é só uma "pobre alma sem-vergonha" que só quer chamar a atenção.  Adoramos a nudez alheia e isso é o suficiente para justificarmos esse tipo de coisa. A nua de Marechal era turista. A nua de maceió é só sem-vergonha (enquanto desconfiamos que é nativa porque se descobrirmos que é tur...

Palmeira: Calzone com barata

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A qualidade dos serviços de restaurantes e lanchonetes nunca foi bom, em Palmeira dos Índios. Sempre variaram de ruim a regular. Agora parece que tem piorado exponencialmente com o comodismo oriundo da freguesia regular e da falta de concorrência.  Com um cardápio sempre igual e quase sem diferença nos itens de preparo dos pratos, as lanchonetes (Palmeira dos Índios não tem restaurante) evoluíram negativamente - deixaram de ser apenas centrais de televisão para criadouros de baratas. Sempre que vou à uma dessas lanchonetes tenho o desprazer de ter a TV ligada na rede globo e o ar-condicionado desligado para agradar um cliente específico em detrimento dos demais (um completo absurdo que vai de encontro às leis da administração). Até aí o absurdo fica no limite do intolerável.  Agora as lanchonetes "chiques" estão ostentando baratas cascudas para o almoço e o jantar. Na última sexta-feira a minha noite agradável foi interrompida pela presença inesperada de uma barata ...

A volta ao mundo em 80 dias

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Uma aposta ousada faz um cavalheiro metódico deixar o conforto do seu lar e dos seus hábitos para desafiar o tempo e a logística dos países do século XIX. Da Inglaterra para o Oriente e de lá para a América do Norte, de onde volta à Inglaterra, Phileas Fogg enfrenta a suspeita de ser um assaltante perigoso, salva uma viúva da fogueira e desafia as leis indianas; empreende um resgate épico na América e prova que o método e a calma são mais importantes que a crença do “ouvi-falar”. Júlio Verne escreve uma obra em que os limites da realidade e da ficção são tão tênues que é quase impossível definir cada um claramente. A volta ao mundo em 80 dias fotografa o mundo e suas transformações e mesmo muito mais de um século depois continua sendo surpreende e de uma qualidade literária e crítica sem igual. Através de Verne o leitor pode conhecer a cultura indiana, o nascimento e evangelização do mormonismo e a evolução da logística mundial. Leitura obrigatória para quem aprecia não apenas ...

Meu "até logo"

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Foto: Lindinha, há 19 semanas A manhã vai começar com os tons do verão, em uma aquarela laranja, azul e branca, na profusão de cores que somente essa estação é capaz de pintar no negro azul do céu. Não há chuviscos como na madrugada em que saíste para dar-me “até logo” e que com um olhar pidão viste perder-me nas curvas e esquinas das ruas. Naquela manhã, ao olhar para trás e ver-te tão pequena, sentada à porta de casa, sabia que eras única no mundo inteiro. Hoje não choveu, mas eu olhei para a rua e vi-te sentada, olhando para o além em que eu me perdera outrora. E o teu amor foi comigo, viajou para longe, tomou sol, levou outras chuvas e voltou, comigo, como sempre. E ao encontrá-la, no mais alto breu, era como se nunca houvéssemos nos separado. A distância que separa os corpos físicos jamais apaga o amor verdadeiro. Aquela distância já não existia quando, uma tarde dessas, fomos à exaustão, no chão, de tanto brincar – ganhamos arranhões, suor e cansaço e ninguém entenderia a...

Cuidado com a bocada

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Calor, suor, cerveja gelada, pouca roupa, música animada, sentimentos à for da pele. Um verdadeiro mix de humanidade e uma leve vulgaridade sempre faz bem. Mas se, de repente, a multidão tomar outro rumo e partir para o beijo coletivo o mais seguro a fazer é fechar a boca e não deixar nem o ar entrar. Uma boca fechada, tal uma fortaleza, é o refúgio seguro da própria saúde. Em tempos de boquete fácil e sexo rápido o beijo tornou-se indicativo de intimidade ou de excessivo poder, ainda que seja um hábito não dominado por alguns candidatos(as) a expoente da sociedade. O beijo é mais grave que o sexo violento no meio da rua, sob o sol do meio dia, em um bloco carnavalesco ou sob a marquise de algum prédio. Abrir a boca para outra boca anda mais perigoso que abrir as pernas (e serve para homens e mulheres) para qualquer um.  Através do beijo DST's podem ser transmitidas, relacionamentos terminam (e outros efêmeros começam) e brigas são desencadeadas.  A cárie pode entrar...

Letra de pobre

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Depois do jogo do CSE, onde a derrota é mais uma constante que uma exceção no grande time interiorano, fui ouvir o astro incandescente do momento, o Wesley Safadão, e estava pensando justamente na relevância das composições contemporâneas que nos fazem tanto bem (ou ao menos gostamos de assim pensar) quando a letra de uma determinada música começou a ser interpretada pelo Safadão - "Vem ser feliz com eu". Numa sociedade onde o povo tem um nível de alfabetização mínimo - na maioria das vezes as pessoas só reconhecem o desenho das letras e não sabem interpretar -, ter uma letra de música da qualidade de "Vem ser feliz com eu" é no mínimo normal. À parte o fenômeno que a interpreta, "Vem ser feliz com eu" é o reflexo do que o povo gosta e canta o dia todo, todos os dias da semana, nas quatro semanas do mês, e que perpetua os erros mais grosseiros da língua portuguesa, que já não é fácil de ser entendida pelos nativos. A mídia que o povo consome é um ref...

A Nascente

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Com uma narrativa forte que desafia o leitor a confrontar seus medos e seu caráter, Ayn Rand expõe o que o homem tem de melhor e pior. As fraquezas e o caráter mutável são contrapostos pela força de vontade e convicção em uma missão e na fidelidade a princípios naturais de cada um. Em A Nascente o leitor aprende sobre os conchavos de uma sociedade putrefata e corruptível e de como a imprensa pode destruir reputações e boas obras para eleger seus interesses. Um romance filosófico capaz de fazer qualquer um repensar sobre suas atitudes e objetivos em uma sociedade escrava das informações publicadas em redes sociais e aplicativos. Embora contemporâneo da Segunda Guerra, A Nascente retrata os fundamentos que deveriam nortear o trabalho de todo homem. Howard Hoark representa vivamente o que não pode mais ser encontrado nesse século e Dominique Francon ilustra a vanguarda da mulher na sociedade. O Banner, junto com seu proprietário, satiriza toda a imprensa, mesmo através das décadas....