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Mostrando postagens de abril, 2017

A maioria mórbida

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Quadro: Allegory of the Planets and Continents. Giovanni Batista Tiepolo. 1752. Você tem que ter o corte de cabelo do momento, vestir um determinado tipo de roupa e não saber de quase nada para ser cool . Você tem que deixar de ser você e buscar o que a maioria quer se quiser ser aceito por essa mesma maioria que não pensa criticamente sobre a real condição do indivíduo na sociedade e no contexto sociopolítico em que atua e interage. Você precisa entender, desde o berço, que a maioria, frequentemente está errada e que as decisões que ela toma são pautadas no puro e simples "achismo". A maioria tende a ir para onde é mais fácil, não para onde é melhor. Então não se preocupe muito se a maioria o rejeita por que seu estilo de roupa, cabelo ou de música não é tão comum; não se preocupe se o curso universitário que escolheu não é tão popular e rentável como outros, segundo dizem; não se preocupe se as suas redes sociais não são tão frequentadas como a de outrem. A única ...

Nota comportamental

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Quadro: Bashi-Bazouk. Jean-Léon Gérôme. 1868-69. Não é raro que tenhamos momentos de conversas em que outras pessoas falem apenas da vida de outras pessoas, como se fosse normal viver no lugar de alguém. Alguém disse que podemos morrer por nossos amigos, mas não podemos viver por eles. Pensei muito sobre isso e concluí que não só é uma verdade absoluta como é um exercício de amor a quem realmente amamos  - seja amigo ou não. No passado alguém me disse que não existe certo e errado em alguns tipos de relações e que definir quem está errado ou não é mais perigoso do que saber quem cometeu algum tipo de falta. Ela estava certa, no fim das contas. Se pararmos para pensar em como agimos e em como enfrentamos as mais diversas situações colocaríamos o outro em uma situação confortável, independente do que tenha feito - que, geralmente, nem é tão grave assim. Entretanto, para que desenvolvamos tamanha habilidade é preciso que paremos de julgar as ações alheias e tenhamos o real...

James e Julio

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Foto; Vista de Palmeira dos Índios - AL Há dias em que o trânsito brinca com a nossa paciência e boa vontade; mas se pararmos para ouvir o que o barulho das buzinas e dos xingamentos tão costumeiros abafa vamos ouvir as pérolas que rendem histórias para mais de mês. E foi no trânsito especialmente tumultuado da capital alagoana que ouvi o que seria a pérola da governança municipal de Palmeira dos Índios. O trânsito, parado devido a um problema perto da UFAL, estava especialmente pensado para um matuto que não cai de amores pela capital e que agoniza com o sol de fim de tarde no rosto em um van sem ar-condicionado. Enquanto tentava não pensar no caos ao meu redor, uma mulher disse: _O governo do James era ruim mas a gente ainda achava alguma coisa. Esse do Julio Cezar a gente não acha nada em canto nenhum. Ela referia-se ao fracasso completo do governo Ribeiro que levou Palmeira dos Índios à beira do colapso generalizado e ao fato de não gostar do atual governo municipal...

23:43 - Surpresa*

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Obra: Young Girl Bathing. Renoir. 1892. Óleo sobre tela. Um dia seu amor aparecerá, na esquina ou sentado ao seu lado em um ônibus qualquer da vida. Ele olhará para sua face e pedirá que o ame sem consultar ninguém de confiança, sem pensar nos problemas e sem medir as consequências. Pedirá que não olhe para trás nem o deixe só quando os olhos, fechados, não puderam mais ver o resto que tanto ama. Um dia o ônibus saíra ou a esquina será ocupada por outras pessoas e a agitação fará com que surjam novas formas de amar, novos rostos pelos quais poderá sofrer uma paixão fulminante. E a vida correrá seu curso. Passará dias em anos. Mudará você e ele. Um dia olhará para o lado e relembrará aquele dia no ônibus, ou na esquina, e verá ao seu lado aquele amor pedinte, olhando para você no acordar de um sonho bom. Então, não mais que de repente, verá que tudo valeu a pena. Que chorar fez bem aos olhos sujos de coisas feias, que gritar limpou a garganta para expressar todo o amor do mun...

23:40 - Não vou abrir a mão!*

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Estatua: Head from a Statue of King Amenhotep I. Dinasty 18. MetMuseum Cada vez que a luz estupra meus olhos, trazendo-me para a realidade nua, exposta em carne viva, explodo todos os poros em estupores desenganados pela ciência do acaso. Meus casos acabaram na noite passada entre a passarela do tráfico e os limites matemáticos das salas de aula. As bundas sonhadas murcharam em meio às mais novas fantasias de um rico ascendente. Na procura de subterfúgios milhares foram os meios impróprios, próprios do escárnio, que usei para alcançar a estrela da manhã e pedir, com orgulho e cara de pau, parte daquele lugar que também é meu, por direito e dever, do mundo e de seus criadores. Desci o morro falando secamente as vantagens das casas frias e as tantas sabedorias de fundo de garrafa dos bares noturnos cheios de putas e malandros. De todos arranquei os arrepios na passagem escabrosa dos dias com falados contos verídicos de terras onde a mulher come jacaré no almoço e o homem, no jan...

23:34 – Lembranças rasgadas*

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Obra: Portrait of a Young Man. Bronzino. 1530s. Se me perguntarem de amores e paixões tidos não responderei ao chamado da curiosidade alheia, ignorar-lhe-ei até mesmo durante os instantes mais intensos de sua insistência. Guardadas em meus sentidos, as perguntas ficaram sem resposta concreta, sem certezas cujas razões sabem até mesmo os mais débeis seres do universo. Que me importa se o julgamento dos outros recaia sobre meu caminho, colocando pedras onde exista a fluidez de rios, durante o período das flores? Que interesse tem em desgraças alheias se ao teu lado somente as cascas sorriem, quebrando ao mais leve sopro do vento? Que fatos procuram nos baús lacrados pelo tempo, se nada faz de novo para limpá-los e revivê-los! Não insisto nos pecados inocentes das redes cavernosas que se fundem a tantos desenganos cometidos a mim entre o respirável ar da manhã feliz e as intempéries daqueles que se maltratam sempre e cada vez mais através de atos tão baixos e sem sentido. Não me ...

23:25 - Meu lar*

E no meu castelo o ouro está espalhado pelas paredes, em corredores imensos cheios de fotografias e muitas flores, o assoalho está coberto de poeira cristalina, vinda especialmente da estrela da manhã, uma planície repleta de segredos a desvendar por aquele que caminhar. Um olhar mais atento e poderá ver, entre as pedras de mármore e as cortinas vermelhas de seda, as marcas de rostos desenhados a óleo por desconhecidos artistas, retratando ora a alegria e o calor de um conto segredado entre o ator e o autor. Nos quartos mandei colocar muitos tipos de toalha, para quando o calor atacar, no meio da noite ou no pico do dia, possa o visitante deliciar-se com as fontes de água pura construídas nos aposentos sempre e todos reais. Tirei-lhe a visão do jardim, pois as flores são feias durante a manhã e no período da tarde não gostam de ser vistas sob a nudez da luz fria do crepúsculo. Também destruí as alcovas e reconstruí-lhes novas, em todos os aposentos, para que males de seres ocupant...