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Mostrando postagens de dezembro, 2017

Um caminhão na PE-040

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Fotografia: Olga de Meyer. Adolf de Meyer. 1900. Metmuseum Penteando-se pela manhã, ela procurava um meio para por em prática seu plano autodestrutivo. Pensou que tomar remédios diversos e em grande quantidade era clichê demais. Também não podia dar-se ao luxo de esvair-se em seu apartamento, em meio à solidão que tanto a oprime. Decidiu-se por simular um acidente automobilístico na estrada. Teria que envolver outras pessoas e pensou que um caminhão seria o mais adequado para o seu propósito - não poderia sair viva. Deixou tudo pronto. Avisou a todos que iria viajar, como de hábito, e deixou seu cubículo de habitação em ordem. Fechou a porta, tirou o carro da garagem e olhou uma última vez para a cidade que aprendeu a morar, onde cometeu injustiças e perseguições. Ela era tudo, menos a santa que pintava ser e com uma olhada mais atenta podia-se ver a lama da iniquidade em suas mãos e em seus cabelos.  Foi dirigindo, quase no automático, com um sorrisinho  no rosto,...

A fanática

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Fotografia: Fim de tarde em Palmeira dos Índios. Rafael Rodrigo Marajá. 2017 Rasgando a roupa, o rosto; destruindo as unhas no piso e arrastando-se pelo chão, a mulher gritava desvairadamente por causa do fogo do inferno que se originava em sua cabeça, escorria pelo nariz e inundava o ambiente fechado. A vergonha já ia entrando pela porta da frente, olhando para todos os lados, degustando cada segundo. O fanatismo já estava espalhado pelos telhados das casas vizinhas quando a razão despontou em um flash. Com a faca na mão, preferindo um filho morto a ter que aceitar os fantasiosos erros que criou em sua mente fanática, os seus olhos esbugalhados finalmente vislumbraram a irrealidade de deus que aceita sacrifícios humanos à redenção que pode advir de uma mudança real- quando esta se faz necessário. A vizinhança, de ouvidos atentos, não ouviu mais os berros. Recomposta, com as unhas sangrando, ela recolheu-se à sua vergonha e ao seu quase ato ignominioso. A madrugada adentrou-s...

Cabelo de putinha

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Depois que cada fio competentemente hidratado, penteado, cortado e chapado, veio a dúvida: Não está muito putinha? Ora essa! E o meu direito de ser ou parecer uma putinha fica onde? Não é porque nasci homem que não posso usar do mesmo deboche com que lido a vida inteira. Os homens se você não sabe, vende-se por muito pouco! Ou dão-se de graça! E se pensa que só porque é a "putinha" quem aproveita porque recebe benefícios foi apenas porque você nunca parou para pensar que é o homem que, ao vê-la de roupas mínimas e disposta a tudo e qualquer ato,  fica de quatro, Olhando bem, a putinha da história é sempre o homem que faz qualquer coisa por uma reentrância quente, úmida e disponível. Sendo assim, assumo minha mais escrachada e debochada putanhice, com meu cabelo esvoaçando ao vento, às vezes Paola Bracho, às vezes Tiago Iorc, quando na realidade deveria ser sempre o tipo de cabelo Oswaldo Montenegro. Mas alguém há de dizer: é muito viadinho! Que delícia nunca ser nem...

O natal da Professora Decadente

Depois que se prostituiu para os seus pares em troca de apoio e os seus asseclas virtuais voltaram às suas respectivas insignificâncias, a Professora Decadente não tem nenhuma outra escolha além daquela que sempre recorre - tentar comprar com dinheiro e diárias em hotéis medianos o tempo e a atenção do seu gigolô. Escolhido competentemente para ser exposto em redes sociais, o hotel é o plano de fundo do último e principal recurso que utiliza para sentir-se gente - curtidas e comentários que, fora das redes sociais, revelam-se debochados e sarcásticos. Com o relógio biológico em um tic tac veloz e presa em um romance russo, a pobre, sempre vista como um travesti, precisa recorrer aos seus aposentos para ruminar o fato de que nunca poderá ser uma reprodutora por medo e infantilidade - a corriqueira síndrome de Peter Pan que faz com que velhas creiam-se ninfetas. E embora acredite-se amada e a sua vaidade cresça continuamente, as luzes e o espírito natalino surgem como um balde de águ...

Doce Dezembro

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Quadro: The Palace of Westminster. André Derain. Metmuseum Ah, o dezembro! Luzes, guirlandas, árvores de natal, panetones, o urso polar da coca-cola e uma infinidade de gente sem propósito existencial querendo parecer cristã, justa e correta. Nessa época tão "iluminada" seus inimigos deixam os obscuros recônditos onde se reúnem em concílio para, ornados com gorros vermelhos e dentes podres, desejar-lhe os "mais sinceros votos de felicidade e prosperidade no ano que se avizinha". Facilmente esquecidos das atrocidades que cometeram e que cometerão, tentam enganar a Luz e as Trevas em descarada hipocrisia. Os abraços, tão nocivos quanto a própria radiação, vêm acompanhados do doce perfume das almas corrompidas pelo elogio vulgar e pelo dinheiro fácil. Esses mesmos inimigos que ajoelham-se aos pés de Lúcifer todo natal, todo carnaval e toda páscoa são os mesmo que se dizem cristãos. Então não tenha medo. Sacuda o pó que esses trastes deixam em sua roup...