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Mostrando postagens de dezembro, 2023

Sob o olhar invasivo do tempo

 Um resto de coca-cola em uma xícara branca, um sanduíche frio ainda na embalagem, um ventilador barulhento a roda de um lado a outro, músicas ao fundo.  Sou eu em um vórtice de um cansaço enquadrado em limites impostos sobre argumentos dispensáveis, refutáveis, incoerentes. O chão, branco, está limpo, ao menos.  Lá fora, mais ventilado que cá dentro, há rumores de uma vida pausada e nunca pensada, jamais observada de lado, como os gatos fazem quando estão curiosos.  Ouço Chico Buarque e o tempo parece pular pela janela meio aberta deixando uma sujeira sutil na parede onde se apoiou.  O tempo chegou. Hora de partir sob o olhar do tempo. 

A maldição do crente

 Em uma conversa via aplicativos de mensagens instantâneas eu disse De todas as coisas pra se ter em casa, o crente é a pior delas A fome, a peste, a pobreza, as maledicências, o mau gosto, a breguice, a ignorância, as doenças mentais, as brigas, os relacionamentos falidos, os suicídios... tudo isso e mais um pouco são unidos pelo laço da palavra de um deus ficcional e encarnados na figura de um crente. Sempre que ficam com bateria baixa eles vão às suas portas comerciais de preferência, enchem-se de uma palavra nefasta e saem às ruas envergonhando a todos com suas aparências deprimentes e suas palavras vãs oriundas de uma interpretação torta daquele livro ensebado que carregam.  Não cu que não reparem. Não há embocetamento que não estejam no meio comentando.  E nada há o que fazer, por enquanto, do que tentar conscientizar as novas gerações do fracasso que esses crentes representam e da ameaça latente que efetivam sempre que podem.  A casa em que habita um crente ne...

Construto Pessoal

 Quando paramos e todas as necessidades mais básicas estão minimamente satisfeitas (ainda que por breve momento), o silêncio ocupa todos os espaços por dentro da nossa complicada mente e em todos os vértices do lugar em que nos encontramos. Amores são revisitados e passamos em revista aos nossos desejos e frustrações. Talvez por isso odiemos terrivelmente quem nos mostra nossas fragilidades e medos. No fundo, somos o que somos. Nem mais e nem menos. Somos um construto de tudo o que escolhemos fazer, ver, ouvir, dizer, ponderar, projetar.  E então, resolvida a questão do que somos, nada mais resta a problematizar além daquilo o que procuramos definir como o Eu-que-me-habita.   Dessa maneira, quando olhamos bem direitinho para o que fazemos, percebemos que buscamos demais por riqueza, concreta ou virtual, que nunca nos chega simplesmente porque não estamos dentro da casta que a detém, por natureza, nascimento ou privilégio. Procuramos fora o que não nos pertence e apri...