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Mostrando postagens de abril, 2022

Sempre agrestes

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Foto: Rafael Rodrigo Marajá.  Meu bem, paisagens agrestes sempre lembrarão os dias de agosto quando um sol quente era abrandando pelo sopro frio das serras em terras tão distantes, embora igualmente agrestinas. Vi cactos espalhados e rebanhos pastando sem pressa.  Vi casas lindamente danificadas pelo tempo e que se mantém de pé por obra e graça da resistência que habita em seus moradores. Vi cidades de nomes estranhos e povos de olhares questionadores - somente o literalismo que em mim defeitua pode explicar a beleza irracional disso. Vi tudo isso. E sei que você viu também, nos dias em que fugia buscando o novo por essas bandas. E nem mesmo o tempo e a distância entre esse nordeste do nordeste e a Baía de Todos os Santos podem tirar palavras gravadas a ferro e fogo do intangível livro dessa existência - por isso estamos também aqui, e aí. Ora veja, fiz contas erradas e me senti em casa e confortável tão logo cheguei, como você disse uma vez sobre mim e todos os lu...

Dia 04

Os olhos pesados. As últimas obrigações do dia, os animais do terminal da Zona Peste digladiando-se em seus mórbidos humores de gentalha, a chuva, o calor, a merda presa nos bifes, o livro sobre a cômoda, as dívidas chegando, o mijo saindo, a vida passando. É o dia quatro. É quase o meio do caminho. É tarde.

SO reiniciado

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Sistema reiniciado. Deixada para a má impressão a primeira vez nessas terras primeiras. O problema não foi o povo, a água, o trânsito. Foi a companhia, péssima. Diga-se, aliás, que em boa companhia até o tédio do silêncio das catedrais torna-se interessante e proveitoso. Então não dá para culpar o inanimado pelas experiências provocadas pela ação, direta e indireta, de certas e ruins companhias. O Pelourinho estava mais leve, a comida mais substanciosa e as portas mais abertas.  O sol menos quente e sem muita sede. Tudo mais rápido. Tudo mais leve. E com a vista para a baía de todos os santos, a certeza que Exu toma conta de um Orí em evolução.

Em trânsito reverso

Parado em Estância. A cidade mãe continua sendo o ponto de parada obrigatório do qual nada me livra, nem mesmo minha pressa ou sono fingido. A luz da precária rodoviária fere meus olhos e abala a minha forçada necessidade de dormir. De novo, parece até que Belchior compõe ao meu lado, penso em uma rede branca e um cachorro (mas sem mulher companheira, eu mesmo me basto, de tantos e variadas formas).  Estou voltando, não para ficar, porque mais de 400 anos depois de fundada São Salvador merece algumas chances de superar velhas-recentes e pessoais arestas.  E mesmo correndo o risco de parecer um repetitivo e cansativo clichê preciso admitir que volto igual, mas não o mesmo. Tenho ideia do meus branquíssimos fios de cabelo; das minhas limitações físicas (mais orçamentárias) e das minhas superações (que muito aumentam meu valor de mercado).  Não tenho ideia, ainda, do que poderei me tornar se os eventos aleatórios da vida me fizerem retornar apenas com outro ano de diferença....