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Mostrando postagens de junho, 2020

Missiva

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Quadro: Young Lady in 1866. Edouard Manet. MET. O inverno está aí, de novo, para os que sobreviveram ao último outono. O mar está com uma ressaca daquelas e não aceita nem um agradinho sequer. Os ventos, ora uma força descomunal ora uma leve brisa, entra casa adentro e afugenta o gatinho do seu ninho de preguiça.  Não sei onde andam os desprezíveis de outrora - certamente corrompendo inocentes almas. Sei apenas que ainda me recupero apenas do leve contato que tive com eles - a malignidade de certos indivíduos é brutalmente peçonhenta.  Tudo continua igual, na medida da igualdade provocada por pequenas e quase insignificantes mudanças. Se eu não sucumbir ao veneno já adquirido tentarei sobreviver à doença da moda. Até lá, apenas viva - quem sabe um dia eu chegue sem mala, embora inteiro. 

Traços divinos

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Foto: Portrait of God. Julian Schnabel. MET.  Vamos perdendo a fé naquela divindade inacessível na mesma proporção em que envelhecemos e engordamos. É inevitável. A perda da crença é só um passo no progresso pessoal que galgamos durante a vida. Compreender isso dá-nos a oportunidade do autoconhecimento e permite-nos olhar o infinito com a calma que é exigida para a reflexão profunda e assertiva sobre grandes questões. Compreender isso dá-nos paz. E é essa mesma compreensão pacífica que não tangenciamos na intimidade dos nossos preconceitos e melindres e que acende a fogueira do desespero, do deboche e das fraquezas, cujas labaredas revestem igrejas, seitas e grupos filosóficos. Nessa mesma fogueira, voluntariamente, somos amarrados, amordaçados, incinerados como lenha podre e seca - para o deleite das baixezas personificadas em homens e mulheres santos. Nosso erro é sempre crer em nossas fantasiosas autodepreciações, olhando para um paraíso inexistente e um deus que só pode habitar...

O homem domesticado

Passada a novidade de um isolamento social e de uma doença potencialmente exterminadora, embora não a única, a sociedade segue seu curso egoísta rumo a mudanças dramáticas. E se a saúde tem sido o assunto dos governos, nacionais e internacionais, o sexo e as lacrações entre pessoas inexpressivas, por mais fama que possam angariar, têm sido a pauta do diário das redes sociais, as vitrines do século XXI. E enquanto o mundo virtual convulsiona com as exposições de anônimos, famosos e mentiras, o cotidiano segue sendo alterado em diversos aspectos e nem sempre de forma reversível. E é nessas mudanças que muitas mulheres acabam tendo que ir trabalhar, todos os dias, em meio a pequenas e médias aglomerações, enquanto seus homens ficam em casa, dispensados do trabalho ou em Home Office ou simplesmente parasitando a vida social e econômica dessas mulheres, das mais diversas idades. O papel do homem, como provedor de sua casa ou de sua fêmea não é mais a questão, mas sua utilidade social em te...