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Mostrando postagens de abril, 2016

La cena

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Passando pela encruzilhada que leva à Casa Museu Graciliano Ramos, vindo da praça do Skate, à noite, deparei-me com uma cena inusitada para a vida real e muito comum nas redes sociais.  Sentado no batente da loja da São Geraldo, um homem  comia um pedaço de carne, e não sei se era morador de rua, e olhando fixamente para ele tinha um cachorro branco, grande e forte, sentado e esperando seu pedaço de carne. Em uma primeira olhada acreditei, como é comum, que o homem estava ignorando o cachorro e que não daria nem o osso para o pobre animal que é, com dúvida, de rua. O homem comeu seu pedaço de carne e deu o restante para o cachorro, que pegou no ar a carne ossuda. Os dois, então, ficaram satisfeitos e amistosamente contentes, suponho. O que tem de anormal nisso? Bom, primeiro, o homem estava sentado na mesma altura do cão; segundo, o cão respeitava o homem; terceiro, o homem não foi egoísta, como é de se esperar da nossa espécie. A cena, terna e significativa,...

Palmeira apoia a mordaça dos professores

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Foto: Reprodução TV ALE O despreparo, ou desinteresse, dos políticos palmeiríndios em defender os interesses do município junto ao governo estadual e na ALE não é novidade. E os fatos falam por si: uma cidade falida, a geração de emprego é praticamente zero e a qualidade é uma afronta ao IDH.  Isso, sendo clichê, todo mundo sabe! Agora, que há políticos que lutam para amordaçar os professores, Palmeira dos Índios desponta no cenário político como uma das cidades que elegem deputados para agir contra a população. Sendo muito direto: ainda não entendi por que os palmeiríndios apoiam  e " ostentam" o título vazio de município sede do colégio eleitoral que elege deputado para fingir que trabalha e na única ação de destaque e de importância ímpar - ser um mero número que apoia o fim da livre docência. O Projeto de Lei, de autoria do deputado arapiraquense Ricardo Nezinho (que nem sabe quantos artigos possui o PL), não é só inconstitucional, como afirmam os sindicat...

Poder

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Poder , o último volume da Saga Encantadas, é o que se pode chamar de decepção salvadora. Com um mix de A Bela e a Fera, Chapeuzinho Vermelho e Rapunzel, Sarah Pinborough narra o início da jornada do Caçador e do Príncipe que aparecem em Veneno . A ideia de uma Fera aprisionada dentro do corpo da Bela, em um completo caso de dupla identidade e a pitada de sadismo e crueldade relatada no livo dão charme, insuficiente, para Poder .  Totalmente deslocado no tempo, o último volume da Saga é a cereja podre sobre o bolo regular que é a saga, que envergonha completamente os irmãos Grimm e o dinamarquês Hans Christian Andersen. Não vale a pena perder tempo lendo Poder, muito menos quaisquer dos antecessores. As justificativas da autora para que Poder seja o último livro da saga e de como inspirou-se são tão convincentes quanto os personagens descritos nos três volumes.Talvez, se fosse escrito por um Ghost Writer,  a saga poderia ter sido salva. Do jeito que se encontra é uma grand...

A maconha palmeiríndia

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Ontem, quebrando o charmoso ostracismo de domingo, botei o pé fora de casa ao meio-dia. Entre o esgoto a céu aberto e o mato que insiste em crescer por todo que é lugar, senti o cheiro conhecido de maconha, de tanto que fumaram no Marcus Freire II / Dia.  Fui andando até topar com dois indivíduos fumando a maconha nossa de cada dia sob uma árvore. E, nesse caso, não é só uma expressão quando digo que estavam "fumando meio-dia em ponto". Não é de se espantar que Palmeira dos Índios seja a cidade do amor - às drogas, ao ilícito e à desordem.  A maconha é ilícita, ainda, e não tenho preconceito com quem faz uso. Mas é particularmente alarmante que a maconha, e, supõe-se, outras drogas ilícitas, sejam tão comuns nas ruas palmeiríndias. Isso reflete a negligência da população em denunciar traficantes, segregar usuários, marginalizar os pobres e promover uma cidade onde os limites sociais do respeito, da conscientização e da aceitação ao diferente e à lei são tão promís...

Inocência vivida*

O escuro aparece O dia enegrece O céu escurece A rua desaparece eces da história do monstro no armário da casa mal assombrada dos bichos embaixo da cama Esses medos que um dia Foram os noturnos pesadelos Da inocência antiga É a gozação do pecado presente. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Da ciência e da rua

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Fonte: The Marabout. Henri Matisse. 1912 Durante a ditadura o governo misturou bandidos sem instrução com presos políticos, muito bem instruídos e organizados. E o resultado foi o crime organizado.  É das entranhas da Ditadura Militar que surgiram o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital - é só olhar os lemas e slogans primevos que veremos rastros daquela época. O mesmo processo de unificação do conhecimento das ruas com o conhecimento científico pode ser visto hoje, em alguns indivíduos. Da rua aprende-se a não ter medo, não importa do quê; aprende-se a enfrentar os golias, as drogas e a prostituição; aprende-se a sujar para não ser sujado, de sangue e de lama. É na rua que se forja o bandido interior. Das salas de aula aprende-se a usar o português, as ciências e a arte da sutileza; nas carteiras escolares alfabetiza-se o bandido interior e cria-se o refinado. Juntos, tem-se o corrupto, o mafioso, o traficante de alto escalão,  E é por isso que ...

Feitiço

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Aprisionada no alto da mais alta torre do costelo sob o domínio de um feitiço poderoso, Branca de Neve fica a mercê do seu príncipe egoísta, mimado e pedante. Muito distante dali Lilith, a rainha má, sofre com a perda da enteada e um inverno poderoso cai sobre seu próprio reino, refletindo seu estado de espírito. E enquanto os problemas na corte só se agravam, os plebeus sofrem com o gelo e o frio e o desaparecimento sistemático de crianças. Em Feitiço , Sarah Pinborough dá continuidade ao seu conto de fadas moderno trazendo o amor lésbico, o desprezo pela realiza e a quebra da visão romantizada de príncipes, princesas e fadas. A continuação da saga Encantadas surpreende mais pela ousadia que pelo valor literário, que sucumbe aos clichês.

Brasil-Equador: Golpe e Terremoto

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Foto:Equador pós-terremoto. Fonte: DW Espanhol. Pouco depois das 23h (GMT) do sábado, 16 de abril, o Equador, o pequeno país latinoamericano na costa do Pacífico, um terremoto de 7,8 graus, e mais de outros sessenta micro terremotos subsequentes. A catástrofe natural arrasou o país e deixou centenas de mortos e feridos. A situação equatoriana é crítica porque o Equador está localizado Círculo de Fogo, região onde as incidências de terremotos são muito altas. No mesmo momento, na costa do Atlântico, os políticos brasileiros tramavam o golpe contra a democracia. O Equador amanheceu em escombros e sofrendo pequenos tremores. O Brasil amanheceu dividido, entre aqueles que apoiam a derrubada da democracia exercida por mais de 54 milhões de brasileiros votantes. Os dois países latinoamericanos sofreram tragédias, natural e política. A diferença entre os dois é que, no Brasil, os deputados federais que votaram pelo impedimento da Presidente Dilma Rousseff são apontadas nas investi...

Galinha*

Não quero seu beijo No meu triste sossego De leito vazio Não oprima seu bocejo Na conversa sem nexo Do meu lábio esguio Caia na sua gandaia E deixe gaia na casa Do meu caso sem graça Engrace o nexo De um sexo sem causa E cause de novo Seu brilho de ovo. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.

Matilhas sociais

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Foto: Arte Assíria. Fonte: uol história Caminhando pelo Juca Sampaio, rente à linha férrea, vendo os regalo aos orixás e eguns de um lado e observando as fracas obras de infraestrutura que ora fingiam desenrolar no outro lado da estrada de ferro, deparei-me com uma matilha de cães abandonados sobre uma gramínea, onde outrora era domínio do trem.  Ao ver-me o cão alfa acompanhou-me, arregalou os dentes até que pude sentir o bafo quente do animal. Parei, virei-me e esperei que ele terminasse o espetáculo para os asseclas do bando. Finda a intimidação, persegui-o até pô-lo longe e segui meu caminho. Os valentões só demonstram força contra quem imaginam desprovido de força. E como aqueles animais é possível encontrar matilhas de cães nos mais diversos ramos da sociedade, exercendo e usufruindo os poderes do Estado como se fossem a fonte originária do poder e da moralidade. As matilhas atacam a democracia, atentam contra os pobres, escarnecem das leis e humilham o povo. ...

Veneno

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Uma historinha em que a princesa é ingênua, boba e indefesa; o príncipe é másculo e dotado de todas as melhores qualidades cavaleirescas e que a rainha é má e amarga por natureza não fazem parte da história de Branca de Neve em Veneno . A rainha má é má pelas circunstâncias e, na superfície e no fundo, é só uma mulher levada a extremos por sua herança cultural. Branca de neve é uma princesa capaz de domar os mais bravos garanhões, toma banho nua na floresta e é sonsa; o príncipe é mimado, falso, mulherengo e vaidoso e o caçador não é o que parece. Em Veneno o leitor encontrará como a história de Branca de Neve chega o mais próximo possível da realidade sem os devaneios da Disney. Mulheres reais com relações e medos reais permeiam e dirigem o enredo do livro. Sarah Pinborough reescreve o clássico "infantil" de forma clara e sem os floreios que se tornaram tão naturais da história.  Embora tenha um começo cansativo, chato e clichê, Veneno até que surpreende por sua ori...

Festa no São José

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Foto: Procissão da Festa da Senhora do Desterro. Serra de São José. Fonte: FB/MariadoAmparo Junho passado sentei-me no banco do carona do carro da Edilene, envolto em meus andrajos e muito à vontade, e rumamos para em direção à neblina que encobria as serras de Palmeira dos Índios. A cada curva tinha, a Edilene, histórias e causos para contar, desde os tempos em que ela brincava na rua, quebrando os paradigmas dessa sociedade machista.  Tal uma guia aplicada, não houve lugares, fatos e pessoas que não fossem lembrados até atingirmos a Serra de São José, berço da Família Torres e de cuja terra forjou-se minha cicerone. Na ida topamos com uma arapiraca de 100 anos, de onde raízes perfuravam a terra até muito depois que a tecnologia fez do sítio um lugar globalizado.  Quando enfim adentramos as porteiras do tempo e do espaço, onde mais histórias surgiram e de onde desce regularmente minha guia, pude ver as crônicas nas cascas das árvores, a poesia do inverno na serra...

Vermes Coroados

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Pintura: The Arm. Henri Matisse. 1938. Não temos honra. Ou se temos, não a empregamos devidamente. Por uma aberração social consideramos normal sermos, como diria meu amigo Newton, "filhos da puta" com os outros e conosco. Não é anormal estarmos entre víboras, aprendendo também a ser uma, e creditando ao outro toda a carga de ações antissociais.  Achincalhamos a ética, pisamos sobre amizades, destruímos amores e pervertemos a ordem dos fatos, das falas e da vida apenas para que o sucesso seja nossa constante atemporal. E, se procedemos frequentemente assim, passamos a acreditar que o anormal é ser consciente dos próprios atos, direitos e deveres, e das respectivas consequências. Transformamo-nos, portanto, em agentes do nosso próprio desassossego. C.S. Lewis, em A abolição do homem, escreveu Caçoamos da honra e nos chocamos ao encontrar traidores entre nós.   E parece-me que, quanto mais o indivíduo tenta restringir-se à sua própria significância, pedindo ...

Dia noturno*

Deixa gostar de bagunçar O cabelo na cama A Casa na tarde O rosto em perfume Gosta de deixar Eu balançar A barriga e a cabeça No almoço e na sesta Da tarde de terça Deixa-me acarinhar No fim do dia E na noite a chegar O rosto desalinho Alinha essa vida tua Com a minha bagunça Nessa coisa que gosta De chamar nossa Vida. *Poema do livro   Anjo da Guarda , de Rafael Rodrigo Marajá.  

Tarde Mariá

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Depois que a feira livre acabou e as bancas foram recolhidas das ruas do centro de Palmeira dos Índios, atendi ao chamado das mulheres do Coletivo Maria Mariá e fui ao II Bazar do grupo. Lá, na Praça do Skate, no que se tornou o coração da vida social do município, o Coletivo reuniu pessoas de diferentes credos para tratar  das questões mais recorrentes de gênero e promover a autossuficiência do Maria Mariá.  Por preços baixos, o transeunte podia adquirir de livros à roupa e ainda sair falando sobre a individualidade feminina no atual cenário social. Além de comprar e debater, o Bazar proporcionou uma ótima via para conhecer estilos de vida alternativa  - um bom momento para quebrar, ou fomentar, preconceito - depende muito da intenção de quem vê. Acredito firmemente, a despeito de qualquer discussão de gênero que se possa ter, que se uma pessoa é educada para respeitar o próximo não precisará defender o preconceito nem nenhuma forma de "poder paralelo de gênero". M...